O Nepal vive uma das piores crises de sua história recente. O estopim foi o bloqueio de 26 redes sociais no início de setembro, incluindo WhatsApp, Facebook, Instagram, YouTube e X (antigo Twitter). A decisão do então primeiro-ministro KP Sharma Oli, justificada como medida contra “fake news” e crimes digitais, rapidamente se transformou em gatilho para protestos massivos liderados pela Geração Z, que denunciavam censura, nepotismo e corrupção endêmica.
Nepal’da halk tarafından ateşe verilen başkanlık sarayı tamamen yandı. pic.twitter.com/jhtkvDTmst
— Boşuna Tıklama (@bosunatiklama) September 9, 2025
O que começou como atos pacíficos evoluiu para confrontos violentos, incêndios em prédios públicos e a renúncia do chefe de governo. Até o momento, os conflitos já deixaram mais de 20 mortos e milhares de feridos, enquanto o Exército assumiu o controle das ruas.
Bloqueio digital e revolta social
Em 3 de setembro, o governo suspendeu o acesso a plataformas digitais que não se registraram junto ao Ministério de Comunicações e Tecnologia. Cerca de 90% da população nepalesa, dependente da internet para comunicação e envio de remessas do exterior, foi diretamente impactada. A decisão foi vista como uma afronta à liberdade de expressão e mobilizou sobretudo os jovens, que já enfrentam taxa de desemprego em torno de 20%.
Escalada violenta e renúncia do premiê
Nos dias 8 e 9, protestos tomaram Katmandu e outras cidades. A repressão policial, com uso de gás lacrimogêneo, balas de borracha e até munição real, provocou mortes e centenas de feridos. A violência aumentou quando manifestantes incendiaram prédios do Parlamento, da Suprema Corte e residências de líderes políticos. Houve relatos de ataques a autoridades e fugas em massa de presos.
WORLD NEWS:
Politicians houses in Nepal burned by Gen Z youths protesters pic.twitter.com/MkBWkLLFbl
— African Hub (@AfricanHub_) September 9, 2025
Diante da pressão popular e da escalada do caos, o primeiro-ministro Oli renunciou, atribuindo a violência a “grupos de interesse”. O presidente Ram Chandra Paudel assumiu interinamente e tenta costurar um novo governo, mas sua legitimidade é questionada.
O Exército foi mobilizado e impôs toque de recolher nacional. O Aeroporto Internacional de Tribhuvan, fechado durante dois dias, reabriu com restrições. A ONU expressou preocupação com as mortes e está acompanhando a crise.
Enquanto isso, líderes do movimento estudantil indicaram a ex-juíza-chefe da Suprema Corte, Sushila Karki, como possível chefe de um governo interino. Ainda não há definição sobre os próximos passos da transição.
A crise revelou tensões acumuladas: desemprego juvenil, escândalos de corrupção, dependência de remessas e insatisfação com a elite política. Analistas apontam que o movimento pode marcar uma “revolução colorida” no Nepal, com forte protagonismo da Geração Z contra estruturas de poder envelhecidas.
Gen Z in Nepal making dance video reels after burning their Parliament! pic.twitter.com/GPbz0Z9ZYc
— Keh Ke Peheno (@coolfunnytshirt) September 9, 2025