Mana, escuta essa fita, que é de rachar,
Iracema na beira do rio só pensa em zapear.
Com celular na mão e vontade de sonhar,
Sai caçando sinal, anda léguas pra conectar.
Mano, imagina a cena: barranco, roçado,
E ela balançando o braço igual quem pega fiado.
Quando chega uma barrinha, é até festa no ar,
“Glória a Deus!”, ela grita, e já começa a postar.
No grupo da família, manda link sem parar,
É notícia, é fake, ninguém sabe confirmar.
Na novela da política, ela até sabe rimar:
“Fulano é galã, sicrano só sabe enrolar.”
Mana da feira, com farinha na mão,
Debate eleição como quem compra feijão.
“Esse aqui é vilão, aquele é mocinho,
Mas no fim todo mundo quer é o mesmo caminho.”
No zap ela é CSI, justiceira na missão,
No Insta comenta “lindo”, no TikTok faz dancinha,
E se o povo pergunta qual político tá no coração,
Ela ri: “Político é jaraqui, tem espinho e pouca carninha.”
Mano, o dilema dela não é só conexão,
É emprego que não vem, é a falta de grana na mão.
Shopee chama, streaming engana,
E Iracema vai criando mil versões de si mesma, mana.
Porque aqui, na beira do rio e da imaginação,
A vida real rima com a novela da televisão.
E a moral dessa prosa, que ecoa na ribanceira:
Na política e na feira, sempre tem peixe pra quem queira!
Quem é Érica Lima?
Érica Lima é mestre em Saúde, Sociedade e Endemias na Amazônia (Fiocruz Amazônia/UFAM), jornalista com registro profissional (DRT), apresentadora do Debate Político em parceria com a Rede Onda Digital (canal 8.2), diretora-executiva do portal O Convergente e escritora associada à AJEB/AM.
Mais do que títulos, carrega a missão de comunicar onde o silêncio impera nos rincões de uma Amazônia muitas vezes tratada como margem, mas que é centro de vida, de luta e de saber. Atua onde a estrada não chega, construindo pontes entre dados e vozes, entre o invisível e o essencial. Fomenta o protagonismo de mulheres que, mesmo sem diplomas, são catedráticas da vida e estrategistas na arte de viver.
Com expertise em pesquisa qualitativa eleitoral, desvela percepções, desvenda territórios simbólicos e transforma escutas em leitura crítica do presente político.