Sem apresentar documentos ou detalhes, o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), minimizou nesta quinta-feira, 27, as críticas sobre sua viagem ao Caribe e as imagens que mostram ele ao lado de empresários nas ilhas caribenhas. O gestor voltou a afirmar que o passeio internacional foi pago com recursos próprios e encontrou conhecidos no local por acaso.
A declaração ocorre em meio à investigação do Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE-AM) sobre uma denúncia de possível financiamento da viagem do prefeito com recursos de empresas fornecedoras da Prefeitura.
Durante entrevista, David Almeida afirmou que a viagem foi custeada com seus próprios recursos e minimizou os encontros com empresários.
“Comuniquei minha viagem à Câmara Municipal de Manaus, através do ofício 52 de 2023. Paguei minha passagem com meus recursos, paguei minha hospedagem com meus recursos, paguei meu aluguel com meus recursos e estou entregando isso a todos aqueles que queiram. Então, é uma viagem particular que eu fiz”, declarou o prefeito.
David Almeida continuou: “Você está em um país distante do seu, você encontra brasileiros e vocês se cumprimentam. E você encontra ainda brasileiros da sua cidade, você não tem nem porque não cumprimentar. Cada um pagou suas passagens, as suas despesas, e a viagem não teve nenhum centavo de recursos públicos”.
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R$ 18 mil
Ainda sobre os gastos na viagem, o prefeito David Almeida afirmou que teve despesa de R$ 18 mil em um cartão de crédito, ao ser questionado nesta quinta-feira peça jornalista Cinthia Blynk. O político, sem mostrar documentos, reafirmou que pagou tudo com recursos próprios.
“Já respondi, paguei minhas despesas com meus recursos, paguei a hospedagem com meus recursos. […] o meu cartão de crédito esse mês deu uns R$ 18 mil”, declarou David Almeida.
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Fornecedores
Entre os fornecedores que estariam no Caribe, estaria supostamente, segundo o Radar Amazônico, estão os empresários Paulo Montenegro, dono da Grafisa, e José Curcino Monteiro Lopes, proprietário da Murb e Rio Piorini, que também estariam na viagem ao Caribe, conforme o site Radar Amazônico.
Roberto de Souza Lopes, proprietário da empresa Royal Tech, ainda segundo o radar, foi outro empresário que teria sido visto no Caribe na viagem deste ano. Em 2024, Lopes e David também foram vistos no Caribe. Na época, o prefeito chegou a afirmar que o passeio “não foi planejado”.
Ligação e contratos
Os empresários são nomes já conhecidos pela gestão municipal. Paulo Montenegro, por exemplo, tem contrato ativo com a prefeitura de Manaus e também é padrinho de casamento de David Almeida, segundo noticiou O Convergente em outubro do ano passado.
A empresa possui dois contratos ativos com a gestão de David Almeida, que juntos somam cerca de R$ 27 milhões. Ambos os contratos foram firmados por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semed).
Já a Murb também tem contratos com a Prefeitura de Manaus e o proprietário da empresa, José Curcino Monteiro Lopes, também seria padrinho de casamento de David Almeida, ainda segundo reportagem do O Convergente.
Em setembro de 2023, a empresa chegou a vencer uma licitação da Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp) da prefeitura no valor de R$ 114,8 milhões com prazo de 12 meses, para serviços de limpeza de “vias, logradouros e bens públicos”.
TCE-AM cobra explicações
A declaração de Almeida foi dada um dia após o TCE-AM determinar que a Prefeitura de Manaus apresente explicações, em até cinco dias, sobre a denúncia de que a viagem teria sido financiada por empresas contratadas pelo município. A decisão, assinada pelo conselheiro relator Érico Xavier Desterro e Silva, foi publicada no Diário Oficial Eletrônico do tribunal na quarta-feira (26).
A denúncia foi feita pelo vereador Ubirajara Rosses (PL), que aponta supostas irregularidades no financiamento da viagem. Segundo a acusação, David Almeida teria utilizado recursos de empresas fornecedoras da Prefeitura para bancar despesas como hospedagem em imóvel de luxo, deslocamento em jatinho particular e participação em eventos privados.
Diante das alegações, o TCE-AM solicitou à Prefeitura informações detalhadas sobre os gastos da viagem e os contratos com quatro empresas mencionadas na denúncia: MURB, GRAFISA, ROYAL TECH e RIO PIORINI. Além disso, a Corte avalia a possibilidade de suspender pagamentos a essas fornecedoras até a conclusão das investigações.
Viagem polêmica
A ida do prefeito ao Caribe gerou repercussão no feriado de Carnaval, quando ele e sua esposa, a primeira-dama Isabelle Fontenelle, foram vistos nas ilhas caribenhas. As imagens do casal viralizaram nas redes sociais e foram amplamente divulgadas pela imprensa nacional.
Inicialmente, a viagem foi justificada como um “retiro espiritual”, mas a versão ganhou novas camadas após surgirem relatos sobre a presença de empresários no local. Em entrevista a um jornal de Manaus, Almeida reconheceu que a viagem foi um erro e afirmou que não deveria ter aceitado o convite para ir ao Caribe.
O caso levou a novas denúncias contra o prefeito. O deputado federal Capitão Alberto Neto (PL) e o vereador Coronel Rosses protocolaram ações contra David Almeida no Ministério Público do Amazonas (MPAM), no Ministério Público Federal (MPF) e no próprio TCE-AM. O MPAM já confirmou que a viagem está sob investigação para apurar se houve uso de dinheiro público.
Outro lado
O Convergente entrou em contato com a Prefeitura de Manaus e solicitou posicionamento sobre a viagem e acesso aos documentos que comprovariam os gastos do prefeito David Almeida no Caribe.
A reportagem também entrou em contato com a Grafisa, Murb e Royal Tech, solicitando posicionamento sobre a pauta, mas não obteve retorno de nenhuma das partes. A redação não localizou o contato de e-mail da Rio Piorini em pesquisa no site da Receita Federal, mas reforça que o espaço segue aberto para devidas manifestações.
Por: Bruno Pacheco
Ilustração: Gabriel Torres
Revisão Jurídica: Letícia Barbosa
