Em audiência pública realizada na Câmara Municipal de Manaus (CMM), na última terça-feira (19), o motoboy Kelvin Clay denunciou um caso de um morador de um condomínio que teria assediado colegas de profissão. Na ocasião, o vereador Marcelo Serafim (PSB) rebateu a fala e disparou que o motoboy estaria mentindo dentro do Plenário.
A audiência pública ocorreu para debater sobre o Projeto de Lei nº 417/2023, que “dispõe sobre o serviço de entrega em domicílio em condomínios residenciais, edifícios e salas comerciais”.
De acordo com o motoboy, o morador já chegou a oferecer dinheiro em troca de sexo para alguns entregadores. Na tribuna, ele ainda afirmou que o homem é morador do mesmo prédio que o vereador Marcelo Serafim (PSB).
“O senhor sabia que, na sua torre, existe um cara que assedia os entregadores? Quando vamos fazer entregas no apartamento, esse morador, não sei se ele ainda se encontra lá, mas durante e após a pandemia, ele forçava o entregador a entrar. Oferecia um valor para fazer atos sexuais e os entregadores não aceitavam”, disse.
Vale pontuar que o motoboy não citou nomes, no entanto falou o número do apartamento e o nome do prédio. Após a denúncia dele na tribuna, o vereador Marcelo Serafim pediu a fala e defendeu o vizinho, afirmando que ele era um “respeitadíssimo médico”.
“Só citando, o apartamento citado não é o meu. Mas é de um amigo, conhecido. Médico respeitadíssimo dentro da cidade, eu creio que tenha havido algum engano”, comentou ao subir na tribuna. Com o decorrer da audiência pública, os vereadores escutaram relatos de outros representantes da classe, até que Marcelo Serafim pediu novamente a palavra.
Desta vez, ao falar sobre o assunto, o vereador citou um jornalista que publicou a denúncia e o citou como vizinho do suposto assediador, o que o irritou. “Está o prédio inteiro, todo mundo conhece o morador. Me desculpe, vossa senhoria mente dentro deste plenário. […] Mente dentro deste plenário e vai ter que comprovar na Justiça o que está falando. Isso é grave!”, disparou.
Houve uma discussão dentro do plenário entre Marcelo Serafim e o vereador Rodrigo Guedes (Podemos). Para o vereador opositor da gestão municipal, a forma com a qual Serafim se direcionou ao motoboy não foi correta. “O vereador [Marcelo Serafim] não pode dizer que o entregador está mentindo. Como é que ele pode dizer que o entregador está mentindo?”, questionou Guedes.
Após o comentário, Marcelo Serafim se levantou e deixou o Plenário da CMM. Guedes continuou falando sobre a forma que o colega de Casa tratou o assunto. “Dizer que o entregador está mentindo, como é que ele sabe? Ele estava lá?”, perguntou.
“Chegar aqui para dizer que um trabalhador está mentindo é grave igualmente! Para proteger amigo. Ele não sabe da vida pessoal de todas as pessoas do condomínio”, comentou Guedes.
O Portal O Convergente entrou em contato com o vereador Marcelo Serafim, que ressaltou que o posicionamento é o mesmo da audiência pública. “Ele faltou com a verdade. Todo o prédio conhece o morador que é médico, casado e um pai de família respeitadíssimo. Jamais escutaria algo assim calado”, afirmou o vereador.
O parlamentar ainda comentou que, se for pedir todos os boletins de ocorrência que os entregadores fizeram contra o morador, não existem. “Vais ver que não tem e que foram palavras jogadas ao vento”, pontuou.
A equipe de reportagem também entrou em contato com a assessoria do vereador Rodrigo Guedes, uma vez que ele afirmou que poderia se dirigir à Delegacia, junto ao motoboy, para fazer um boletim de ocorrência. A assessoria informou que o único pronunciamento de Guedes sobre o assunto ocorreu no Plenário.
O Convergente também entrou em contato com o motoboy que denunciou o caso. Ele informou que está evitando comentar sobre o assunto, pois está recebendo ameaças devido a repercussão.
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Por Camila Duarte
Revisão textual: Vanessa Santos
Ilustração: Marcus Reis
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