A comissão da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos (EUA), que investiga a invasão do Capitólio de 6 de janeiro de 2021, detalhou nessa terça-feira, 21/6, como o ex-presidente americano Donald Trump pressionou autoridades estaduais e locais para tentar reverter a derrota nas eleições de 2020.
Durante a quarta audiência do mês, o painel que investiga o ataque examinou como Trump se concentrou em alguns estados decisivos, instando diretamente as autoridades a retirarem a certificação da vitória de Joe Biden ou a encontrar votos adicionais para si mesmo.
Testemunhas afirmaram que o ex-presidente ignorou alertas de membros do próprio Partido Republicano que lhe disseram várias vezes que reverter os resultados violaria leis estaduais e a Constituição dos EUA.
Essas ações faziam parte de um esquema maior que também envolveu dezenas de processos e pressão sobre funcionários do Departamento de Justiça e sobre o então vice-presidente, Mike Pence, para rejeitar o triunfo eleitoral de Biden no evento de confirmação no Congresso, que foi marcado para 6 de janeiro de 2021.
Como resultado da persistência de Trump, apoiadores do ex-presidente ameaçaram funcionários eleitorais de forma violenta, odiosa e às vezes racista.
“Pressionar servidores públicos para que traíssem o seu juramento era uma parte fundamental da cartilha”, afirmou o presidente da comissão de investigação, Bennie Thompson. “Um punhado de funcionários eleitorais em vários estados importantes ficou entre Donald Trump e a derrubada da democracia americana”, acrescentou.
As audiências da comissão feitas em junho ocorrem após mais de um ano de investigação e mais de mil depoimentos. Os detalhes apresentados nessa terça-feira vêm depois de a comissão se concentrar na pressão sofrida por Pence para interferir na certificação dos resultados pelo Congresso.
“Hoje mostraremos que o que aconteceu com Pence não foi uma parte isolada no plano de Trump para invalidar a eleição”, destacou Thompson.
Enxurrada de telefonemas – Nessa terça-feira, funcionários públicos que foram pressionados por Trump por fazerem o seu trabalho ou receberam ameaças de apoiadores do ex-presidente depois de alegações falsas sobre o resultado das eleições prestaram depoimentos.
Outras autoridades estaduais contaram histórias semelhantes em depoimentos gravados em vídeo. O presidente da Câmara na Pensilvânia, Bryan Cutler, também afirmou ter recebido repetidos telefonemas de Giuliani e de outros assessores de Trump, mas que se recusou a atender aos pedidos.
Foco na Geórgia – A pressão exercida por Trump foi mais intensa na Geórgia, reduto até então do Partido Republicano e onde Biden venceu. O secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, e seu vice, Gabe Sterling, testemunharam que se tornaram dois dos principais alvos do ex-presidente por se recusarem a ceder à pressão.
A comissão reproduziu o áudio de um telefonema no qual Trump pedia às autoridades locais que “encontrassem 11.780” votos que poderiam mudar o rumo da eleição no estado e impedir o triunfo de Biden.
“Não havia votos para encontrar”, sustentou Raffensperger. Ele afirmou que analisou todas as alegações da Trump, mas o ex-presidente se recusava a aceitar os resultados e chegou a acusar Raffensperger de incompetência ou desonestidade por não encontrar os supostos votos.
Ameaças e riscos a funcionários públicos – A audiência detalhou ainda como as ameaças de Trump colocaram autoridades estaduais em perigo. A secretária de Estado de Michigan, Jocelyn Benson, contou como se sentiu quando ouviu o barulho dos manifestantes do lado de fora da sua casa, numa noite após a eleição, após ter colocado o filho para dormir. “Foi o momento mais assustador”, afirmou.
Outra autoridade do Michigan, o líder da maioria no Senado, Mike Shirkey, testemunhou à comissão que recebeu 4 mil mensagens de texto após Trump ter divulgado o número de seu celular. Cutler também disse que seu endereço foi divulgado na internet e que apoiadores do presidente protestaram em frente à sua casa quando seu filho de 15 anos estava sozinho.
Bowers também relatou que pessoas com alto-falantes se colocaram diante de sua casa e que um home armado ameaçou verbalmente um de seus vizinhos.
Mentiras e teorias de conspiração – Os depoimentos mais marcantes foram de funcionários eleitorais da Geórgia, que viram suas vidas virarem de cabeça para baixo depois que Trump e Giuliani espalharam mentiras de que eles estariam envolvidos na suposta fraude eleitoral.
A ex-funcionária eleitoral Wandrea Moss e sua mãe Ruby Freeman foram acusadas de terem introduzidos malas de cédulas eleitorais ilegalmente para alterar o resultado – acusação que foi refutada pelo Departamento de Justiça. Moss afirmou que não sai mais de casa desde que Trump inventou a mentira e envolveu seu nome. Ela, que é negra, disse ter sido alvo de ataques racistas e de violentas ameaças feitas por apoiadores do ex-presidente.
“Perdi meu nome, perdi minha reputação, perdi minha sensação de segurança”, destacou a mãe de Moss, Ruby Freeman.
Ataque ao Capitólio – A comissão que investiga o ataque ao Capitólio, conduzido por apoiadores de Trump que se recusavam a aceitar o resultado das eleições, vem ouvindo testemunhas, inclusive de conselheiros próximos de Trump que tentaram dissuadi-lo dos seus esforços para permanecer no poder, e mostrado vídeos inéditos da violenta invasão.
O ataque ocorreu após alegações infundadas por parte Trump sobre uma suposta fraude eleitoral e depois de o magnata ter apelado a uma multidão de apoiadores para que impedissem a certificação da vitória eleitoral de Biden.
Atualmente, a comissão apresenta argumentos para mostrar que os esforços de Trump para reverter a sua derrota levaram diretamente à violência no Capitólio.
—
Da Redação com informações da Isto É Dinheiro
Foto: C. Carison / AFP