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terça-feira, maio 20, 2025

Fé, religião e política se misturaram na Marcha para Jesus, em Manaus, e fiéis divergem opiniões sobre presença de políticos no evento

Cientistas políticos avaliam que a religião vem influenciando diretamente as tomadas de decisões políticas nos governos em todo o país e que elas podem ser um tanto perigosas, uma vez que o estado é laico. Porém, os especialistas acreditam que muitos religiosos não vão votar de acordo com um determinado evento ou porquê alguns políticos estiveram presentes, mas por suas convicções políticas

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A 28ª Edição da Marcha para Jesus realizada pela Ordem dos Ministros Evangélicos do Amazonas (Omeam), no último sábado, 28/5, no Centro de Convenções de Manaus – Sambódromo -, dividiu opiniões entre os cristãos que foram participar do evento por conta da presença de diversas autoridades políticas, entre elas o presidente da República Jair Bolsonaro (PL).

Para muitos fiéis, a presença de políticos e principalmente do presidente tanto no palanque, quanto no trajeto da Marcha, não deveria ocorrer por misturar política a um evento que por tradição é destinado a adoração a Jesus e que também mostra a fé de cada participante, que em muitos casos vão com um propósito definido, seja para a vida convencional ou espiritual. Já outros, consideraram importante a presença do chefe da nação na Marcha.

Contrária – Uma das participantes que acompanhou o evento desde a Praça da Saudade, no Centro de Manaus, onde ocorreu a concentração da Marcha, foi a comerciante Daniele Brasão, 22, que considerou como péssima a iniciativa de colocar diversos políticos, incluindo Bolsonaro, nos trios elétricos que faziam parte do evento, bem como no palco, já no sambódromo.

“Eu acho muito ruim, porque eu acho que a gente não pode misturar as coisas de Deus com coisa política, na minha opinião. Só que como nós somos evangélicos, nós temos que nos reunir para mostrar algo melhor e lutar para vir coisas melhores para o nosso futuro”, enfatizou a comerciante.

Contrariando ou não o meio evangélico, que apoia quase que em sua totalidade o atual presidente, Danielle disse ao Portal O Convergente que tem preferência pelo pré-candidato Lula (PT) na disputa pela Presidência da República agora em 2022.

A favor – Já a autônoma Bianca Silva, 23, afirmou que estava na expectativa pelo evento e disse que a presença de Bolsonaro foi importante para a Marcha para Jesus.

“Eu achei muito legal que ele [Bolsonaro] está presente agora apoiando a Marcha”, disse Bianca informando que ainda não sabe em quem vai votar neste ano, mas ressaltou que quer mudança no país, principalmente quanto ao reajuste dos preços em geral.

Uso político – O Portal O Convergente conversou com o advogado e o cientista político, Helso Ribeiro, sobre essa movimentação política em meio às igrejas e aos fiéis, neste ano eleitoral. Para Ribeiro, a Marcha, que já ultrapassa décadas, deixa claro o uso político, pois não só o presidente participou do ato, mas como também pré-candidatos a cargos estaduais e federais (deputado e senador) e vereadores eleitos.

Por outro lado, o cientista acredita também que mesmo com essas presenças de perfis políticos, o público não vai votar desta forma, só porque tinha um político naquele evento.

“Você observa que a marcha pra Jesus é um movimento que já tem alguns anos, acho que mais de dez anos em comunidades protestantes. Muitos anos, e é claro, que há uma utilização política dele. A gente viu em palanques candidatos a deputado federal, estadual, governador, prefeito, presidente e a senador. Então as pessoas utilizam isso politicamente. Eu entendo que a grande maioria, eu digo a grande maioria, não vai votar porque estava lá o presidente, o governador, o prefeito, o deputado. Não! Vai votar de acordo com as suas convicções”, enfatizou o cientista.

Helso Ribeiro ainda comentou que isso não é visto em países mais bem desenvolvidos. Embora os políticos tenham suas religiões e sua fé, eles atuam de uma forma para que isso não interfira nas tomadas de decisões ou mesmo para pedir votos em épocas de campanha.

“O Brasil que é um país, que eu diria, de muita fé. Nós sempre vimos isso, a tentativa de utilizar politicamente a crença. Eu com toda honestidade acho lastimável. Se você pegar os vinte países com melhor IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] você vai ver que isso não vai prosperar lá. E lá presidente, reis, rainha, têm religião, mas não utilizam isso pra granjear votos e em período de campanha”, ressaltou Helso Ribeiro.

Lado a lado – Outro analista político ouvido pelo O Convergente a respeito do envolvimento político em evento religioso foi o advogado e sociólogo Carlos Santiago, que vê a medida como preocupante, uma vez que está ficando cada vez mais claro a influência da religião em tomadas de decisões políticas dos governos em todo o país.

“Religião e política sempre andaram juntas, inclusive o Brasil já teve uma religião oficial. Com a república, houve um distanciamento entre religião e estado. Agora, no atual contexto do país, há toda uma movimentação de denominações religiosas para pautar agenda de estado, agenda de políticas públicas. A Marcha para Jesus demonstra de forma clara, que a religião está influenciando nas tomadas de decisões dos governos e nas linhas de atuações do estado, inclusive para chegar ao Supremo Tribunal federal (STF), hoje, o postulante tem que se declarar evangélico. Misturar religião, com política é perigoso, é preocupante, mesmo sabendo que o Brasil vive a liberdade religiosa, a liberdade de expressão. Mas as decisões políticas públicas, as decisões de estado têm que amparar todos, aqueles que têm religião e aqueles que não têm”, salientou.

Carlos Santiago ressaltou que quando se mistura política e religião em um evento como a Marcha para Jesus, fica evidente que a fé e a ideia cristã ficam em segundo plano e, por isso, muitos cristãos deixaram de comparecer ao evento por não quererem fazer essa “mistura”.

“Quando o Presidente da República e políticos abraçam uma determinada denominação religiosa ou a cultura de uma determinada região, ele está exercendo a liberdade religiosa, porém o estado tem que ser preservado no sentido de ser laico, no sentido de atender a todos, e ser um estado laico não é só um estado sem religião, mas acima de tudo um estado que não privilegia determinadas religiões. O Brasil precisa eleger bons governantes e bons representantes, independentemente da fé, até porque as decisões de governo precisam abranger a todos, a toda a população. Quando a política entra dentro de uma igreja, como aconteceu nesse evento da Marcha para Jesus, a fé, a ideia cristã fica sempre em segundo plano”, pontuou o advogado e sociólogo.

Ainda segundo o sociólogo, uma parcela significativa de evangélicos não querem misturar religião com política. “É significativo os números dos participantes, mas também é importante avaliar outros que não foram por conta de um ato, que deveria ser mais religioso acabou sendo mais político. Há evangélicos preocupados com essa situação”, finaliza Santiago.

Divulgação política-pessoal – O Portal O Convergente flagrou ao menos três nomes de possíveis pré-candidatos pelo Partido Liberal (PL) que aproveitaram a Marcha para Jesus para literalmente divulgar seus nomes em meio ao público cristão, distribuindo abanadores com fotos, divulgação parlamentar e folhetos de apresentação (santinhos).

Um deles foi o deputado federal, o Capitão Alberto Neto (PL), que assumidamente é pré-candidato à reeleição e que colocou suas ações parlamentares no verso dos abanadores.

O segundo, que ainda não afirmou para que vem nestas eleições, mas já divulgou que se filiou ao PL no sábado, 28/5, é o professor Nilmar Oliveira, que também distribuiu abanadores com sua foto e uma espécie de apresentação. Quem também usou do mesmo artificio para divulgar seu nome foi Débora Menezes, filha do pré-candidato ao Senado Coronel Menezes, que provavelmente deve disputar a algum cargo nestas eleições. Débora também distribuiu abanadores com sua foto.

Além deles, estiverem presente outros políticos e apoiadores de Bolsonaro, dentre eles os deputados federais Delegado Pablo (União Brasil), Capitão Alberto Neto (PL), Silas Câmara (Republicanos) e dos deputados estaduais Delegado Péricles (PL) e Fausto Jr. (União Brasil); além de vereadores de Manaus, como Eduardo Alfaia (PMN), Yomara Lins (PRTB) e Marcel Alexandre (Avante). Também participou do evento, o pré-candidato ao Senado e um dos principais apoiadores de Bolsonaro no Amazonas, Coronel Menezes (PL), além de pré-candidatos a deputado federal e estadual.

Confira as imagens da Marcha para Jesus:

 

 

Por Edilânea Souza

Fotos: Antônio Pereira e Dheyzo Lemos / Semcom

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