O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil caiu 0,1% no 3º trimestre de 2021, na comparação com os três meses imediatamente anteriores, confirmando a entrada do país em uma nova recessão técnica, segundo divulgou nesta quinta-feira, 2/12, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em relação a igual período de 2020, houve crescimento de 4%.
Os dados oficiais reforçam a leitura de forte desaceleração da recuperação da economia após o PIB ter conseguido retomar no início do ano o patamar pré-pandemia.
A recessão técnica é caracteriza por dois trimestre seguidos de retração. A última tinha sido registrada nos dois primeiros trimestres de 2020, quando o PIB “encolheu” 2,3% e, em seguida, 8,9%.
O resultado do 2º trimestre do ano foi revisado para uma queda de -0,4%, contra leitura inicial de queda de -0,1%. O IBGE também revisou o resultado da alta do 1º trimestre, de 1,2% para 1,3%.
O resultado veio um pouco pior do que o esperado. A expectativa em pesquisa da Reuters era de estabilidade no 3º trimestre sobre os três meses anteriores. O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e é o principal indicador usado para medir a evolução da economia.
No acumulado do ano até setembro, o PIB avançou 5,7% contra igual período do ano passado.
Principais destaques do PIB no 3º trimestre:
- Agropecuária: -8%
- Indústria: zero
- Serviços: 1,1%
- Consumo das famílias: 0,9%
- Consumo do governo: 0,8%
- Investimento (FBCF): -0,1%
- Importação: -8,3%
- Exportação: -9,8%
- Construção: 3,9%
- Comércio: -0,4%
- Indústria de transformação: -1%
- Indústria extrativa: -0,4%
O que puxou a queda – Apesar da alta de 1,1% nos serviços, que respondem por mais de 70% do PIB nacional, a queda no 3º trimestre foi pressionada para baixo por conta da queda de 8% na agropecuária e também pela queda de 9,8% nas exportações de bens e serviços.
Já a indústria, que responde por cerca de 20% do PIB, ficou estagnada, afetada pelo encarecimento dos insumos e outros problemas na cadeia produtiva, além da crise energética.
“Como ela é a principal commodity brasileira, a produção agrícola tende a ser menor a partir do segundo semestre. Além disso, a agropecuária vem de uma base de comparação alta, já que foi a atividade que mais cresceu no período de pandemia e, para este ano, as perspectivas não foram tão positivas, em ano de bienalidade negativa para o café e com a ocorrência de fatores climáticos adversos na época do plantio de alguns grãos”, explicou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
Já o crescimento dos serviços foi puxado por outras atividades (4,4%), que reúnem os serviços prestados às famílias.
Consumo de serviços represado – Pela ótica da despesa, o consumo das famílias teve expansão de 0,9%, em relação ao trimestre imediatamente anterior. Já a despesa de consumo do governo cresceu 0,8%.
Segundo o IBGE, o crescimento do consumo das famílias mesmo com uma inflação nas alturas renda em queda é explicado pelo aumento na ocupação no mercado de trabalho e pelo avanço da vacinação.
“O consumo estava muito represado tanto que a gente tem visto um crescimento da poupança durante vários trimestres. Quem consome mais serviços são as famílias com maior poder aquisitivo que foram as que mais pouparam e estavam com consumo de serviços represados. Não é que elas não tinham recursos pra consumir”, acrescentou.
Investimentos caem pelo 2º trimestre seguido – Os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) tiveram queda de 0,1%, após recuo de 3% no 2º trimestre. A taxa de investimento no 3º trimestre foi de 19,4% do PIB contra 16,4% no mesmo período do ano anterior, mas ainda abaixo do patamar de 2013, quando alcançou quase 21%.
Já a taxa de poupança foi de 18,6%, maior que os 16,2% obtidos no mesmo período de 2020.
Revisão do tombo de 2020 – Na divulgação do terceiro trimestre de cada ano, o IBGE costuma realizar uma revisão abrangente das Contas Nacionais Trimestrais. Nesse sentido, o resultado do PIB de 2020 foi revisado para uma queda de 3,9%, ante leitura inicial de um tombo de 4,1%.
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Piora das expectativas – A economia brasileira vem perdendo o ímpeto mesmo com a reabertura do setor de serviços e fim de boa parte das medidas restritivas lançadas no país para frear o avanço da Covid-19 desde o começo do ano passado.
Desde setembro, as projeções para a economia têm sido revisadas continuamente para baixo, em meio à disparada da inflação e aumento das incertezas fiscais após as manobras do governo para driblar o teto de gastos e abrir espaço no Orçamento no ano eleitoral de 2022.
As preocupações com a saúde das contas públicas, o desemprego ainda elevado e a elevação em ritmo acelerado da taxa básica de juros para conter a inflação vêm provocando uma redução da confiança de empresários e consumidores.
Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC), a inadimplência subiu em novembro, para o maior patamar do ano, com 26,1% das famílias relatando ter dívidas ou contas em atraso.
A média atual das projeções do mercado financeiro apontam para alta de 4,78% do PIB em 2021 e de 0,58% em 2022, bem abaixo da média global e a pior perspectiva entre os países do G20. E parte dos analistas apontam para o risco de retração no ano que vem.
Com o resultado do 3º trimestre pior do que o esperado, os analistas já começam a revisar para baixo as projeções para o PIB do ano. O banco Modalmais, por exemplo, agora prevê crescimento de 4,6% em 2021, ante previsão anterior de 4,8%.
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Com informações Portal G1
Foto: Marcelo Casal Jr / Agência Brasil