Em apenas um mês, a Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) destinou cerca de R$ 19 milhões brutos ao pagamento de funcionários comissionados, referentes à folha de agosto de 2025. Com os descontos aplicados, o valor líquido ficou próximo de R$ 17 milhões, o que corresponde a 78% de toda a folha salarial do Legislativo estadual. As informações foram divulgadas pelo TAB UOL.
Com 24 deputados, a Casa mantém mais de 4 mil cargos de servidores comissionados. A análise detalhada da folha de pagamento revela um perfil heterogêneo dos comissionados, incluindo profissionais sem relação direta com a atividade legislativa, como árbitros de futebol, pastores evangélicos, dentistas e cabeleireiros, todos nomeados para funções de assessoria parlamentar ou técnica.

Além disso, segundo a reportagem do Tab Uol, a estrutura abriga familiares de deputados, candidatos derrotados em eleições e pessoas com condenações judiciais ou sanções administrativas.
Entre os casos identificados pela reportagem está o de Alex Sandro Quadros Thomé, árbitro assistente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), contratado como assessor técnico de gabinete com salário de R$ 8.100.

A folha também inclui líderes religiosos contratados como assessores, além de profissionais da área da saúde e da estética. Uma dentista, por exemplo, foi localizada em seu consultório particular durante o horário comercial, enquanto uma cabeleireira e designer de sobrancelhas exerce função comissionada em gabinete parlamentar.
A reportagem identificou ainda o nome do ex-vereador de Boa Vista Adelino Dias de Sousa Neto, condenado em 2019 por prática de “rachadinha”. Ele foi contratado pela Assembleia em janeiro de 2025, apesar de estar legalmente impedido de contratar com o poder público até 2027. Outro comissionado é empresário dono de uma empresa proibida de firmar contratos com a administração pública até 2028, mas que recebe salário mensal de R$ 4.500.

Segundo a reportagem, há também uma assessora condenada por envolvimento no escândalo dos “gafanhotos”, esquema de funcionários fantasmas que desviou recursos do governo estadual entre 1998 e 2002. Mesmo sem cumprir pena devido à prescrição do caso, ela ocupa cargo comissionado com remuneração de R$ 12 mil.
Estrutura inflada
De acordo com a reportagem, os mais de 4 mil cargos de confiança estão distribuídos de forma desigual entre os setores da Assembleia. Um único gabinete concentra mais de 100 assessores, com custo mensal próximo de R$ 480 mil apenas em salários. Para efeito de comparação, cada deputado federal dispõe de R$ 133 mil mensais para custear toda a equipe de gabinete, que varia entre cinco e 25 servidores.
A expansão da folha ocorreu principalmente em 2025, quando duas medidas administrativas criaram 180 novos cargos comissionados, elevando as despesas mensais em cerca de R$ 700 mil. Em contraste, a Assembleia mantém apenas 105 servidores efetivos concursados.
Roraima, estado criado pela Constituição de 1988 e com cerca de 636 mil habitantes distribuídos em 15 municípios, já enfrentou graves distorções em sua folha de pagamento. O escândalo dos “gafanhotos”, no fim da década de 1990, marcou a história política local e ainda é referência quando se discute o uso indevido de cargos públicos.
Outro lado
Em nota encaminhada ao Tab Uol, a Assembleia Legislativa de Roraima afirmou que a atual estrutura de pessoal é necessária para garantir o funcionamento regular das comissões, programas institucionais e gabinetes dos 24 deputados, tanto na capital quanto no interior. A Casa informou ainda que irá apurar os casos específicos citados na reportagem.
O Convergente também buscou contato com a ALERR para um posicionamento e aguarda retorno.
*Da Redação com informações do Tab Uol
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