Por: Prof. Doutorando Francisco de Assis Mourão Junior – Colunista do Portal Convergente
A construção da Rota Bioceânica, ligando Brasil, Paraguai, Argentina e Chile ao Pacífico, não é apenas uma obra de infraestrutura. É o início de um reordenamento logístico e geoeconômico da América do Sul, com implicações diretas para o futuro da Zona Franca de Manaus (ZFM) e do Polo Industrial de Manaus (PIM).
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Estamos diante de uma mudança silenciosa, mas profunda: o eixo histórico que conectava o Brasil ao mundo pelo Atlântico pode dividir espaço — ou mesmo perder relevância — para um novo corredor terrestre de integração com o mercado asiático. Enquanto o Sudeste mantém-se como porta atlântica, o Centro-Oeste se projeta como janela para o Pacífico.
Pergunta-chave: a Amazônia vai se integrar ao novo fluxo global — ou assistir o mundo passar pela lateral?
A ZFM nasceu ousada. Agora precisa ser estratégica.
A ZFM não foi criada para disputar mercado interno; foi pensada para projetar o Brasil no mundo, combinando soberania, indústria e proteção ambiental a partir da Amazônia. Só que o desenho original operou em um contexto marítimo, dependente de portos distantes e cabotagem. O século XXI é o século dos corredores terrestres, cadeias curtas e hubs conectados.
Sem integração logística, política fiscal vira muleta. E muleta não ganha corrida.
Números que falam — e alertam
- Faturamento PIM 2024: R$ 205,06 bilhões
- Faturamento 2025 (jan–ago): R$ 147,79 bilhões
- Exportações 2024: R$ 3,36 bilhões (≈1,6% do faturamento)
- Exportações 2025 (jan–ago): R$ 2,32 bilhões
- Dependência de insumos externos (2025 parcial): ~65%
Tradução dura: grande produção, baixa inserção exportadora e alta dependência logística/cambial. Num mundo que reorganiza rotas, isso é risco sistêmico, não detalhe técnico.
Faturamento do PIM (2020–2025)

Exportações do PIM (2020–2025)

Se a Amazônia não se posicionar, o mundo a ultrapassa
No tabuleiro global, não existe vácuo estratégico: ou a região ocupa o espaço, ou alguém ocupa por ela. Enquanto o Brasil debate estrada, alíquota e burocracia, outras nações avançam em:
- Bioeconomia industrial e mercado de carbono;
- Minerais críticos, tecnologia limpa e semicondutores;
- Corredores intercontinentais conectando-se ao Pacífico;
- Zonas franco-exportadoras com logística integrada.
A Amazônia corre o risco de virar vitrine ambiental, quando deveria ser potência verde produtiva. Floresta em pé é ativo; floresta em pé + indústria limpa + logística + exportação é poder. Não é escolher entre preservar e produzir — é liderar a economia ambiental estratégica.

O que o Brasil precisa fazer (agenda objetiva)
- Infraestrutura de Estado: BR-319 como corredor industrial, plano hidroviário permanente e integração ferroviária Amazônia–Pacífico.
- Política Industrial 4.0: PPBs vinculados a inovação e exportação (eletrônica avançada, baterias, biotec, semicondutores).
- Hedge e Garantia Logística: instrumento federal para reduzir risco cambial/frete do PIM.
- Diplomacia Econômica Amazônica: acordos com Chile, Peru, Bolívia e Paraguai para inserção do Norte nos corredores do Pacífico.
- Bioeconomia com chão de fábrica: transformar ciência em produto, CNPJ, nota fiscal e container.
Conclusão — A Amazônia precisa estar na mesa, não no mapa
A Rota Bioceânica inaugura uma nova etapa da integração sul-americana.
E, nesse redesenho das rotas globais, a Amazônia não pode atuar como paisagem: precisa ser ativo estratégico do Brasil.
A Zona Franca de Manaus não é favores, subvenção ou privilégio regional.
Ela representa política de Estado, defesa territorial, estabilidade climática, tecnologia, trabalho e soberania econômica em uma das regiões mais estratégicas do planeta.
Mas relevância não é estática.
Quem não se projeta, perde.
Quem não se adapta, é ultrapassado.
O desafio do momento não é provar que a ZFM é necessária, mas mostrar que ela é insubstituível para um Brasil que quer ser competitivo na nova economia verde, inserido em cadeias globais e protagonista da integração continental.
A Amazônia não precisa pedir espaço:
ela precisa consolidar sua posição com visão, planejamento e voz nacional.
Se o país deseja sentar entre as grandes potências econômicas e ambientais do século XXI, começa aqui — na região que guarda a maior floresta tropical da Terra e a mais ousada política de industrialização em área remota já implementada no hemisfério sul.
A pergunta agora não é “o que será da Zona Franca?”.
A pergunta é: o Brasil será capaz de pensar grande novamente?
Quem ergueu um polo industrial no coração da floresta provou que consegue criar o impossível.
Agora, é hora de liderar o próximo ciclo, com a Amazônia no comando, e não na margem.
Por Prof. Doutorando Francisco de Assis Mourão Junior – Colunista do Portal Convergente
COLABORAÇÃO ESPECIAL: PROF. DOUTORANDO ALEX DE OLIVEIRA MELO – @ALEX_MELO_15
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