A Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados foi palco de bate-boca e tensão política nesta terça-feira (28) durante a votação de propostas relacionadas à Operação Contenção, ação policial realizada nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, que já soma 64 mortos e 81 presos. O clima acalorado levou o presidente da comissão a cortar o microfone de um parlamentar e a suspender a sessão por 20 minutos.
O debate expôs o embate entre parlamentares da esquerda e da direita sobre a condução da segurança pública no país e, especialmente, sobre as mortes provocadas pela megaoperação. A deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) entrou em confronto com os deputados Rodolfo Nogueira (PL-MS), Gilvan da Federal (PL-ES) e Delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP), após ter o microfone desligado enquanto se solidarizava com as famílias das vítimas da operação.
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Nas redes sociais, Talíria afirmou que foi censurada por tentar defender as famílias das vítimas — tanto civis quanto policiais. “Além de comemorarem as mais de 60 mortes na operação de hoje, eles cortaram o microfone dos deputados que, como eu, estávamos nos solidarizando com as famílias dos mortos, inclusive dos policiais que perderam a vida”, escreveu a parlamentar. Em vídeos que circulam nas redes, ela aparece chamando Rodolfo Nogueira de “miliciano” e “moleque”.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) também criticou duramente a operação, classificando-a como a “mais letal e desastrosa da história do estado”. Segundo ela, o governador Cláudio Castro (PL) teria “escolhido o caminho da truculência” ao autorizar a ação, que vem sendo alvo de questionamentos por órgãos de direitos humanos e pela própria Procuradoria-Geral da República.
Do outro lado, parlamentares da base bolsonarista defenderam a operação e aproveitaram o episódio para criticar o governo federal. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que o Rio de Janeiro foi “abandonado por Lula” após o governo negar o uso de blindados das Forças Armadas solicitados por Castro. Já o deputado Carlos Jordy (PL-RJ) resgatou uma declaração recente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, feita na Indonésia, em que o petista disse que o combate ao tráfico de drogas deve incluir ações voltadas aos usuários, a quem chamou de “responsáveis” pelos traficantes, que seriam “também vítimas”.
O episódio reforça a polarização política em torno da segurança pública e da letalidade policial no país. Enquanto o governo do Rio defende a operação como “necessária ao combate ao crime organizado”, entidades de direitos humanos e setores da oposição cobram investigação sobre as mortes e maior controle nas ações policiais dentro das comunidades.


