O presidente de Madagascar, Andry Rajoelina, fugiu do país na madrugada desta segunda-feira (13), após uma escalada de violência e o rompimento de parte das forças militares que até então sustentavam seu governo. Fontes diplomáticas e de segurança confirmaram que o chefe de Estado deixou o território malgaxe em um helicóptero rumo ao aeroporto de Sainte-Marie, de onde embarcou em um avião militar francês com destino incerto.
A fuga ocorreu poucas horas depois de uma tentativa de assassinato atribuída a facções militares dissidentes. Em um vídeo publicado em sua conta no Facebook, Rajoelina afirmou estar “em um lugar seguro” e negou ter renunciado. “Não permitirei que Madagascar seja destruído”, declarou o presidente.
O episódio marca um novo capítulo na crise política que tomou conta do país desde 25 de setembro, quando começaram protestos massivos contra o governo.
As manifestações, lideradas pelo movimento Gen Z Madagascar, começaram como protestos contra os cortes frequentes de energia e água, mas rapidamente se transformaram em um levante contra a corrupção, o desemprego e a má gestão pública.
Madagascar president Rajoelina was airlifted out yesterday by French military forces. The continued youth and worker uprising, which led to a rebellion within the armed forces, pushed him out. The masses have won, they should remain vigilant of political cooptation. pic.twitter.com/dukkZ2nERk
— Jorge Martin ☭ (@marxistJorge) October 13, 2025
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), pelo menos 22 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas em confrontos com as forças de segurança, que usaram gás lacrimogêneo e munição real para conter os manifestantes.
O governo nega os números e afirma que “grupos extremistas” tentam desestabilizar o país.
Colapso do governo
O ponto de virada ocorreu em 11 de outubro, quando a unidade de elite CAPSAT, a mesma que apoiou o golpe que levou Rajoelina ao poder em 2009, se rebelou e se recusou a atirar contra civis. A facção declarou apoio às demandas populares e foi seguida por parte da gendarmeria, que assumiu o controle de bases estratégicas e nomeou novos líderes militares.
Antes da fuga, Rajoelina já havia dissolvido o governo, demitido o primeiro-ministro e prometido um diálogo nacional, mas as manifestações continuaram. Ele também cancelou um pronunciamento de TV por medo de que tropas tomassem a emissora estatal.
Personalidade controversa
Andry Rajoelina, de 51 anos, é uma figura controversa na política do país. Ex-DJ e empresário, ele chegou ao poder em 2009 após liderar protestos que derrubaram o então presidente Marc Ravalomanana, com apoio justamente da CAPSAT.
Seu governo foi marcado por denúncias de corrupção, crise energética e pela promoção de um tônico herbal sem eficácia comprovada durante a pandemia de COVID-19. Em 2023, foi reeleito em um pleito contestado pela oposição, que alegou fraude e apontou sua dupla cidadania francesa, proibida pela Constituição do país.