28.3 C
Manaus
domingo, outubro 5, 2025

Eu sou feminina e feminista: a liberdade é vida

Por

Escrito por Erica Lima

Há quem diga que o feminismo perdeu o rumo. Outros afirmam que ele se fragmentou em bolhas, desconectadas entre si. Mas eu, que cresci ouvindo que “lugar de mulher é onde ela quiser”, prefiro olhar para o feminismo como um rio: às vezes calmo, às vezes revolto, mas sempre em movimento. E é nesse fluxo que me encontro, feminina, feminista e defensora da liberdade como elemento essencial da vida humana.

Quando leio Simone de Beauvoir, percebo o quanto avançamos desde que ela escreveu que “não se nasce mulher, torna-se mulher”. Ela rompeu o silêncio imposto pelo patriarcado e expôs o que tantas de nós ainda sentimos: o peso invisível de um sistema que define, limita e domestica. Décadas depois, Betty Friedan ecoou esse grito ao revelar “o mal-estar que não tinha nome”, denunciando a prisão dourada das mulheres dentro de casa.

E, enquanto o Ocidente celebrava conquistas, outras vozes se levantavam: Angela Davis e Bell Hooks lembravam que não há libertação sem interseccionalidade, que ser mulher, negra e pobre é carregar múltiplas correntes sociais. Hoje, Djamila Ribeiro nos convida a repensar o lugar de fala, mostrando que o feminismo não é um clube de privilégios, mas uma trincheira por justiça e reconhecimento.

No entanto, ainda que tantas portas tenham sido abertas, há milhões de mulheres que continuam presas, não por grades de ferro, mas por leis, tradições e dogmas. Em países onde o voto feminino ainda é um sonho, onde estudar é um ato de resistência e onde o corpo da mulher pertence ao Estado ou à religião. Mulheres que não podem escolher seus maridos, profissões ou futuros. Mulheres que sangram em silêncio, enquanto o mundo desvia o olhar.

O feminismo, então, precisa voltar a conversar com elas e conosco. Precisa se despir das camadas de discurso acadêmico que, às vezes, o afastam da vida real. Precisa lembrar que sua raiz é humana, não partidária; que sua bandeira é a liberdade, não a imposição de uma nova forma de opressão.

Falo isso porque vejo, nas redes e nas ruas, o feminismo sendo deturpado, transformado em alvo de ódio e manipulação. Há quem o trate como ameaça, quem o ridicularize, quem o confunda com supremacia. Mas o feminismo não é guerra, é consciência. Não é ataque, é despertar.

O patriarcado, conceito que ainda incomoda tantos, é a estrutura que organiza o poder e o privilégio com base no gênero, sustentando a desigualdade que naturaliza a submissão feminina. E o machismo é o instrumento que mantém essa engrenagem funcionando, disfarçado de piada, de elogio, de “tradição”. É ele que molda a violência simbólica, moral, física e sexual que tantas de nós enfrentamos todos os dias em casa, no trabalho, nas ruas e até dentro das instituições que deveriam nos proteger.

Ser feminista, hoje, é um ato de coragem. É enfrentar o discurso de ódio, as contradições internas, as manipulações externas. É ter consciência de que o movimento também precisa se revisitar, rever seus métodos, ampliar seu diálogo, reconhecer suas falhas e fortalecer suas raízes ideológicas.

Eu me afirmo: sou feminina e feminista. Não porque quero ser superior, mas porque quero ser livre. Livre para pensar, escolher, existir e amar. Livre para ser mulher em toda a minha complexidade, mãe, profissional, companheira, cidadã, pensadora. Livre de rótulos, mas cheia de propósito.

E deixo aqui uma pergunta para você, leitor ou leitora: quando foi que a liberdade deixou de ser um valor coletivo?

Enquanto não respondermos a isso, o feminismo continuará sendo necessário, porque ainda há meninas impedidas de sonhar, mulheres silenciadas por dogmas e sociedades inteiras que confundem submissão com virtude. E enquanto houver desigualdade, haverá em mim e em tantas outras uma voz que insiste em dizer: a luta continua, porque a liberdade é o nome mais bonito que a humanidade pode ter.

Quem é Érica Lima?

Érica Lima é mestre em Saúde, Sociedade e Endemias na Amazônia (Fiocruz Amazônia/UFAM), jornalista com registro profissional (DRT), apresentadora do Debate Político em parceria com a Rede Onda Digital (canal 8.2), diretora-executiva do portal O Convergente e escritora associada à AJEB/AM.

Mais do que títulos, carrega a missão de comunicar onde o silêncio impera nos rincões de uma Amazônia muitas vezes tratada como margem, mas que é centro de vida, de luta e de saber. Atua onde a estrada não chega, construindo pontes entre dados e vozes, entre o invisível e o essencial. Fomenta o protagonismo de mulheres que, mesmo sem diplomas, são catedráticas da vida e estrategistas na arte de viver.

Com expertise em pesquisa qualitativa eleitoral, desvela percepções, desvenda territórios simbólicos e transforma escutas em leitura crítica do presente político.

Leia mais: Marx, Weber e a Constituição em Rima de Oposição

Fique ligado em nossas redes

Você também pode gostar

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

spot_img

Últimos Artigos

- Publicidade -