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quinta-feira, outubro 2, 2025

Amazonas: PIB cresce, mas o IDH continua parado no tempo

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Por Prof. Doutorando Francisco de Assis Mourão Junior – Colunista do Portal Convergente

O Amazonas deve alcançar em 2025 um Produto Interno Bruto (PIB) de quase R$ 180 bilhões, segundo estimativas oficiais da SEDECTI. O motor segue sendo a indústria da Zona Franca de Manaus, acompanhada pelo setor de serviços, que cresce no embalo do consumo e da urbanização. Nos números, é um salto expressivo: em 2022 eram R$ 145 bilhões, agora o Estado projeta quase R$ 180 bilhões em apenas três anos. Mas quando saímos das planilhas e olhamos para o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a realidade é outra. O Amazonas continua preso às amarras de baixo desempenho em educação, saúde e renda. Crescemos em cifras, mas não em qualidade de vida. 

O avanço do PIB — e o fôlego do Polo Industrial O Amazonas constrói uma base econômica sólida: responde por 29,4 % do Valor Bruto da Produção da Região Norte e 52 % desse valor vem da indústria de transformação. Entre 2021 e 2022, o valor adicionado da economia saltou de R$ 109,2 bilhões para R$ 121,8 bilhões (+11,5 %). Porém, enfrenta gargalos: a carga tributária de 18,2 % sobre o valor adicionado, acima da média nacional (15,5 %) e da Região Norte (12,1 %), mostra que a pressão fiscal sobre o setor produtivo é enorme. E os números mais recentes da SUFRAMA confirmam o vigor: Janeiro de 2025 → faturamento de R$ 17,85 bilhões (+14,5 %); 1º trimestre de 2025 → R$ 55,7 bilhões (+15,6 %); 1º semestre de 2025 → R$ 110,8 bilhões (+13,3 %). Esse desempenho revela a força da ZFM em manter o crescimento. Só que, ao mesmo tempo, evidencia o paradoxo: o PIB explode, mas o IDH continua travado.

O atraso do IDH 

O Amazonas é formado por 62 municípios e abriga cerca de 4,3 milhões de habitantes. No entanto, mais da metade dessa população está concentrada em Manaus, que sozinha reúne mais de 2,2 milhões de pessoas. Essa concentração gera desigualdade: Manaus ostenta um IDH de 0,737, mas a média estadual cai para 0,674, puxada pelo interior, onde muitos municípios registram índices próximos a 0,65. No interior, a realidade é ainda mais frágil: há pouca atividade econômica estruturada, e a maioria dos municípios sobrevive com base nos repasses do ICMS e das verbas federais. Essa dependência limita a geração de empregos privados e restringe o dinamismo econômico fora da capital.

Quadro Comparativo – PIB, População e IDH (Amazonas)

Figura 1 – PIB em crescimento vs IDH estagnado no Amazonas
Figura 2 – Desigualdade Regional no Amazonas – IDH (Manaus x Interior).

O paradoxo amazônico

Esse contraste entre PIB e IDH é o retrato de um modelo de crescimento concentrado e excludente. O Amazonas gera riqueza, mas não a transforma em desenvolvimento humano. É como uma árvore frondosa com raízes rasas: cresce rápido, mas não sustenta a floresta inteira. O paradoxo também ecoa no debate global: a Amazônia é vital para o equilíbrio climático e cobiçada por sua biodiversidade, mas sua população vive com indicadores sociais aquém do potencial.

Comparação nacional

O PIB do Amazonas se aproxima do de estados como Mato Grosso ou Ceará. Porém, o IDH amazonense é mais baixo que o de estados com economias equivalentes. Manaus concentra riqueza como São Paulo concentra o PIB nacional — mas sem o mesmo reflexo em infraestrutura e serviços públicos. O interior, em muitos indicadores, se aproxima de regiões mais pobres do Nordeste.

Conclusão – O desafio do futuro 

De que adianta um PIB de R$ 180 bilhões se o povo ainda enfrenta escolas precárias, hospitais lotados e desigualdade gritante? O Amazonas precisa romper com o ciclo histórico de crescimento excludente e transformar riqueza em bem-estar social. O interior, que depende quase integralmente dos repasses do ICMS e das verbas federais, precisa deixar de ser mero apêndice orçamentário para se tornar protagonista do desenvolvimento. Sem diversificação produtiva, sem cadeias locais de valor e sem infraestrutura mínima, a riqueza ficará concentrada em Manaus e continuará alimentando um modelo desigual e frágil. O grande desafio é fazer com que o Polo Industrial de Manaus seja mais do que um gerador de faturamento: ele deve ser um elo entre inovação, sustentabilidade e inclusão, irradiando seus efeitos para os 62 municípios. A floresta, que é patrimônio mundial, não pode ser vista apenas como barreira ou estoque de carbono — mas como ativo estratégico de desenvolvimento humano e tecnológico. O futuro da Amazônia não pode ser apenas um número no PIB. Precisa ser gente com saúde, educação e dignidade. Crescer não basta. É preciso incluir, diversificar e interiorizar o desenvolvimento. O Amazonas está diante de uma escolha histórica: permanecer refém de uma economia concentrada ou transformar sua riqueza em plataforma de justiça social, soberania e sustentabilidade global.

Por Prof. Doutorando Francisco de Assis Mourão Junior – Colunista do Portal Convergente


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🎓 @mouraoconsultoriaeconomica | @universidadeniltonlins

 

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