O trágico acidente que envolveu o empresário Robson Tiradentes no Lago Acajatuba, no último fim de semana, trouxe à tona uma discussão recorrente no Amazonas: os riscos das festas em flutuantes e da navegação recreativa em rios, que são o “asfalto” para milhares de ribeirinhos. A colisão entre um jet ski e uma embarcação de alumínio, que resultou na morte de três pessoas, evidencia como a falta de regras claras e fiscalização transforma áreas de lazer em locais de perigo para moradores e visitantes.
Enquanto para muitos manauaras os rios próximos à capital representam diversão em flutuantes, lanchas e jet skis, para os ribeirinhos eles são a única via de transporte. Essa convivência, marcada por diferentes ritmos e necessidades, frequentemente resulta em conflitos.
Acidente trágico
De acordo com informações repassadas pela família, Robson pilotava o jet ski em direção à Praia do Iluminado quando, por volta das 23h, colidiu com uma embarcação de alumínio, tipo voadora. O impacto causou a morte de um homem, dono da embarcação, de Marcileia Silva Lima, e do filho de cinco meses. Os corpos foram localizados na tarde de domingo (21).
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O único sobrevivente da embarcação foi identificado como Geovane Gonzaga, esposo de Marcileia e pai do bebê. Ele foi resgatado com ferimentos e encaminhado para atendimento médico. Já Robson sofreu múltiplas fraturas no rosto e na bacia, além de lesões graves, e está internado no Hospital Adventista de Manaus. Segundo familiares, o empresário deve passar por cirurgias de reconstrução, mas não corre risco de morte.
A família Tiradentes relatou que, mais cedo, por volta das 14h30, o jet ski apresentou uma pane mecânica, deixando Robson, a esposa e a filha à deriva. Eles foram resgatados por amigos em um bote, que também enfrentou problemas no motor mais tarde. Após buscar ajuda para consertar a embarcação, Robson retornou com o jet ski, momento em que ocorreu a colisão.
Flutuantes e lazer nos rios
Nos fins de semana, flutuantes nos rios Tarumã-Açu, Tarumã-Mirim e Negro reúnem centenas de pessoas. Diversas denúncias já indicaram que muitos desses locais operam sem licenciamento da Capitania dos Portos ou do Corpo de Bombeiros. Em julho deste ano, a Justiça atendeu a um pedido do Ministério Público do Amazonas para o poder público municipal apresentar plano e cronograma para saída de embarcações do local. No mês passado, a Justiça renovou o prazo, que vence no próximo dia 28 de setembro.
A mistura de música alta, consumo de bebidas alcoólicas e movimentação intensa de lanchas e jet skis amplia o risco de acidentes. Apesar de operações periódicas da Marinha e da Polícia Militar, a fiscalização ainda pode ser considerada insuficiente diante da quantidade de embarcações que circulam.
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O acidente no Lago Acajatuba escancara um dilema amazonense: o mesmo rio que é fonte de vida e sustento para milhares de famílias também se transformou em palco de festas sem regras definidas. A convivência entre esses dois mundos, o da sobrevivência e o do lazer, continuará sendo um desafio enquanto a navegação recreativa não respeitar os limites da vida ribeirinha.
Vítima fazia parte de projeto social
Marcileia Silva Lima era moradora da região e participante de um projeto social ‘Mulheres na Floresta’, promovido por um centro náutico de Manaus.
Dentre os objetivos do projeto, que trabalham a capacitação profissional e de atividades, um deles é a segurança de navegação. Com o apoio do centro náutico, as mulheres recebem suporta para tirar a habilitação e navegar de forma segura nas embarcações.
De acordo com uma das idealizadoras do projeto, Micaely Heidrich, a perda de Marcileia foi muito sentida pelas colegas, principalmente pela forma como aconteceu.
“Criamos uma união com elas muito forte, um laço muito forte. Minha mãe, que tinha mais contato, está desolada. É uma dor muito grande, principalmente, por ser uma das nossas e por ser justamente por um motivo que tanto falamos. Ver uma das nossas perdendo a vida justamente por isso, é muito triste”, destacou.
Nota da família Tiradentes
Em nota, o advogado e comunicador Ronaldo Tiradentes falou sobre o ocorrido:
Caros amigos,
Meu irmão Robson Tiradentes sofreu um acidente de jet ski, por volta da 22 horas de ontem. A fatalidade, infelizmente, foi precedida de vários acontecimentos. Por volta das 14:30, Robson, a mulher e uma filha seguiam do Tarumã, em direção a Praia do Iluminado. Nas proximidades do Açutuba, o jet ski apresentou um problema mecânico. Robson, a mulher e a filha foram resgatados por um bote conduzido por amigos, que ajudaram no conserto da motonáutica.
Prosseguindo viagem para o Iluminado, Robson e o comandante do bote que foi lhe prestar socorro, erraram o caminho e entraram no Lago Acajatuba. Era começo da noite de ontem. Neste momento, uma outra pane interrompeu a viagem. Desta vez, foi o bote que conduzia a mulher a filha do meu irmão. Já noite, Robson saiu em busca de um mecânico para consertar o bote.
Ao retornar ao mesmo local, o bote não estava mais ali, porque, à deriva, foi deslocado pela correnteza e pelo vento. Com a ajuda de um morador do Lago Acajatuba, Robson saiu procurando pelo bote desaparecido, momento em que chocou-se com uma canoa sem iluminação. Num primeiro momento tomamos conhecimento que o dono da canoa envolvida no acidente teria fugido sem prestar socorro ao meu irmão e ao morador da área que ajudava nas buscas do bote desaparecido.
Mesmo bastante feridos, mas de coletes salva vidas, os dois conseguiram nadar até a margem do lago onde foram socorridos. Somente agora de manhã, tomamos conhecimento que o bote envolvido no acidente transportava outras pessoas.
A família espera que uma perícia possa ajudar a esclarecer os fatos até agora muito confusos. Meu irmão Robson sofreu fraturas no rosto e na bacia e será operado agora a tarde. Eu e minha família estamos em orações por todos os envolvidos.