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sexta-feira, setembro 19, 2025

Ministro da Saúde desiste de viagem aos EUA após restrições em visto diplomático

Alexandre Padilha classificou as condições impostas pelo governo Trump como “inaceitáveis” e “uma afronta” ao cargo que ocupa.

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O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou nesta sexta-feira (19), que não participará da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, nem da conferência da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em Washington. A decisão ocorreu após os Estados Unidos imporem restrições severas ao seu visto diplomático, emitido no dia anterior.

Padilha afirmou que as condições impostas inviabilizavam sua agenda oficial e representavam “uma afronta” ao cargo de ministro da Saúde do Brasil.

Restrições consideradas abusivas

De acordo com o governo brasileiro, o visto concedido limitava a circulação de Padilha em Nova York a apenas cinco quarteirões ao redor do hotel, da sede da ONU e da missão do Brasil. Além disso, ele estava proibido de viajar a Washington, o que impossibilitava sua participação na conferência da Opas.

Qualquer deslocamento fora do perímetro estabelecido dependeria de autorização com 48 horas de antecedência, sujeita à aprovação dos EUA. Diplomatas brasileiros apontaram que as regras foram mais duras do que as aplicadas a representantes de países como Rússia, Cuba e Síria.

Motivo das sanções

As restrições teriam relação com a criação do programa Mais Médicos, em 2013, durante o governo Dilma Rousseff, do qual Padilha foi um dos idealizadores. Washington alega que a iniciativa promoveu exploração de médicos cubanos, comparando as condições a “trabalho forçado”.

Como retaliação, em agosto deste ano os EUA já haviam cancelado os vistos da esposa e da filha de 10 anos do ministro, além de revogar vistos de outros servidores brasileiros ligados ao programa.

Padilha declarou que as medidas não representavam um ataque pessoal, mas uma tentativa de atingir o cargo que ocupa. Segundo ele, as limitações impediam sua presença em encontros bilaterais, reuniões de blocos como G20, Mercosul e Brics, além de visitas a hospitais e reuniões com investidores.

Durante os eventos internacionais, o ministro pretendia anunciar a contribuição do Brasil a um fundo estratégico da Opas para a compra de vacinas e medicamentos contra o câncer a preços mais acessíveis no continente.

Antes de confirmar a desistência da viagem, Padilha chegou a minimizar a questão do visto, citando a música “Tô nem aí” da cantora Luka e criticando, de forma indireta, o deputado Eduardo Bolsonaro, a quem acusou de atuar contra os interesses do Brasil nos EUA.

Reação diplomática

O governo brasileiro acionou a ONU para contestar as medidas, por meio do chanceler Mauro Vieira, que classificou as restrições como “injustas e absurdas”. O Brasil buscou apoio do secretário-geral António Guterres e da presidente da Assembleia Geral, Annalena Baerbock, mas a ONU ressaltou não ter competência para interferir em decisões soberanas sobre vistos.

Diplomatas brasileiros consideraram o episódio uma “humilhação” e relataram que, apesar de tentativas de negociação, Washington se recusou a flexibilizar as condições.

O impasse ocorre em meio a um período de tensão entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos, agravado pela condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Além de Padilha, outros ministros e sete integrantes do STF tiveram vistos cancelados. O governo Trump também impôs sanções ao ministro Alexandre de Moraes.

Nos bastidores, diplomatas apontam que a “operação tartaruga” no fornecimento de vistos tem sido usada pelos EUA para pressionar países sob atrito político, como Irã, Cuba e Venezuela, e agora estaria sendo aplicada contra o Brasil.

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