Beneficiado pelo acordo de delação premiada na trama golpista, o tenente-coronel Mauro Cid planeja concluir um livro sobre o período em que foi ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) e sobre o processo que levou à condenação do ex-presidente a 27 anos e três meses de prisão. As informações são da CNN.
Quando atuava na Presidência, Cid já pensava em reunir suas memórias ao lado de Bolsonaro no governo. O excesso de trabalho, porém, atrapalhava os registros, costumava dizer. Preso em maio de 2023, retomou a ideia e passou a organizar o livro que pretende concluir com o fim do processo.
À espera do trânsito em julgado da ação sobre o plano de golpe e de uma resposta do Exército ao pedido para passar à reserva, Cid também avalia refazer a vida nos Estados Unidos, onde vivem o irmão e a filha mais velha.
O ex-ajudante de ordens costuma dizer que permaneceria no Brasil caso surgisse uma oportunidade na iniciativa privada como consultor. Amigos, porém, o aconselham a deixar o país neste momento, após o longo período de exposição.
Na quinta-feira (11), quando a Primeira Turma votou pela concessão do benefício da delação e fixou a pena mínima de dois anos, Cid recebeu ligações de amigos com quem ainda mantém contato e comemorou com a família. “A ficha ainda não caiu”, disse a pessoas próximas.
Na sexta-feira (12), amanheceu no alvo de apoiadores de Bolsonaro e sendo chamado de traidor. O vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, escreveu: “Parabéns pelo que fez na história brasileira, Mauro Cid!”.
Como antecipou a CNN, um dia após o resultado no STF, a defesa de Mauro Cid pediu ao ministro Alexandre de Moraes a retirada da tornozeleira e a declaração de cumprimento de pena. Os advogados argumentam que o tenente-coronel já cumpriu a pena por estar há dois anos e quatro meses com restrição de liberdade.
Um mês antes do início do julgamento, Cid decidiu deixar o Exército em acordo com familiares e advogados. A pessoas próximas, disse que “não tinha mais o que fazer no Exército” e que sua “carreira já estava acabada”. O pedido de desligamento foi encaminhado em 4 de agosto.
A informação de que o tenente-coronel havia pedido para deixar a Força foi revelada pelo advogado Jair Alves Pereira durante a sustentação oral na Primeira Turma no dia 2 de setembro. Em sua fala, Alves Pereira, que integra a equipe do advogado Cézar Bitencourt, disse que “ser ajudante de ordens só atrapalhou a vida de Cid”.
Ao defender a validade da colaboração e os benefícios do acordo, o advogado disse que Cid se expôs e, por isso, se afastou de familiares, amigos e perdeu a “carreira militar que era um sonho”.
A colaboração de Mauro Cid, embora contestada pelas defesas de outros réus, foi mantida pela Primeira Turma.
O ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal, reafirmou a validade da delação do ex-ajudante de ordens, afirmando que as informações prestadas à PF (Polícia Federal) saíram “a fórceps”, mas sem contradições nos depoimentos.
Fonte: CNN