A Universidade do Estado do Amazonas (UEA) concluiu uma das maiores expedições de monitoramento ambiental já realizadas no país, com foco no rio Madeira. A ação, conduzida pelo Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia (GP-QAT), percorreu mais de 1.700 km e analisou 54 pontos da bacia, em um esforço que busca subsidiar políticas públicas e antecipar possíveis alertas ambientais para a região.
Durante 12 dias, o Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia da Universidade do Estado do Amazonas (GP-QAT/UEA) realizou a terceira expedição fluvial de uma das maiores iniciativas de monitoramento ambiental do mundo: o Programa de Monitoramento da Água, Ar e Solos do Estado do Amazonas (ProQAS/AM). No total, 54 pontos da bacia que banham o rio Madeira foram analisados por cientistas, com o objetivo de coletar dados, analisar alterações e identificar possíveis alertas ambientais na região.
Intitulada Iriru 3, a última campanha, deste ano, do GP-QAT percorreu mais de 1.700 quilômetros pelo rio Madeira, com foco em identificar, a partir de 164 parâmetros do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), a qualidade da água, dos peixes e dos sedimentos de um dos principais afluentes do rio Amazonas, essencial para o desenvolvimento econômico e ambiental, de municípios como: Borba, Manicoré, Humaitá, Nova Olinda do Norte, Urucurituba e Novo Aripuanã.
A maior parte das amostras coletadas, na expedição iniciada no dia 9 de agosto, será submetida a estudos em laboratórios da Escola Superior de Tecnologia (EST/UEA). As análises de mercúrio e metilmercúrio serão levadas ao laboratório da Harvard John A. Paulson School of Engineering and Applied Sciences, parceira internacional do grupo, em Boston, nos Estados Unidos.
A iniciativa, liderada pela UEA, tem parceria com o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), Grupo Atem, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Resultados
Os resultados preliminares desta expedição junto das demais campanhas realizadas pelo GP-QAT/UEA apontam dados inéditos sobre a bacia do rio Madeira, com alterações químicas, físicas e biológicas nos ecossistemas aquáticos. Essas análises permitem mapear a distribuição de contaminantes e identificar trechos do rio com maior vulnerabilidade ambiental e fornecem uma visão detalhada da qualidade da água, dos sedimentos e das espécies de peixes.
Os resultados também contribuem para a prevenção de impactos sobre a saúde das populações locais e oferecem base para o planejamento de medidas de conservação de longo prazo da biodiversidade.
Coleta de amostras e análises
O grupo de pesquisa a bordo, formado por oito profissionais, teve atividades de campo, com paradas estratégicas em municípios e comunidades ribeirinhas, ao longo do trajeto, com objetivo de dialogar com moradores e pescadores para identificar quais espécies de peixes são mais consumidas e a origem do pescado. Além de coletar espécies como jaraqui, pacu, matrinxã, traíra e sardinha para análise devido à importância dos peixes como fonte alimentar principal.
Com uma estrutura planejada para garantir eficiência e precisão nas análises, a embarcação de pesquisa “Roberto dos Santos Vieira”, que possui quatro laboratórios, permitiu, ainda, a realização de análises físico-químicas e microbiológicas em tempo real, como preparação de reagentes, filtração de amostras, conservação e registro dos dados.
Entre os parâmetros avaliados, durante a expedição, estão coliformes totais e termotolerantes, demanda bioquímica de oxigênio (DBO), demanda química de oxigênio (DQO), nitrito, nitrato, nitrogênio orgânico, nitrogênio amoniacal, nitrogênio total, fosfato, fósforo, cloretos, sólidos dissolvidos totais, metais solúveis e metais em suspensão.
Contaminação do ecossistema por mercúrio
De acordo com dados obtidos em expedições anteriores, a contaminação do ecossistema pode estar diretamente relacionada à intensa atividade de garimpo ilegal, que opera constantemente com o mercúrio, empregado nesse processo para separar o ouro dos sedimentos. Essa prática, apesar de proibida, faz parte do cotidiano de muitos ribeirinhos.
Em muitos trechos, o impacto é agravado pela formação das “fofocas”, agrupamentos de várias dragas que operam simultaneamente em um mesmo ponto. Essa atividade intensiva gera turbidez elevada, degrada a qualidade da água, acelera o assoreamento e amplia a contaminação de peixes e sedimentos.
Em reforço à Iriru, o GP-QAT conta com quatro novas campanhas agendadas para o ano de 2026 e prevê uma soma crescente de diálogos com a sociedade e o poder público para promover o desenvolvimento econômico, a preservação do ecossistema e o bem-estar das populações da Amazônia.
Com informações da assessoria