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sexta-feira, junho 27, 2025

Zona Franca de Manaus e a Nova Rota da Seda: Brasil no tabuleiro ou fora do jogo?

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Por Prof. MSc. Mourão Junior – Colunista do Portal Convergente

A Zona Franca de Manaus (ZFM), concebida como um instrumento de desenvolvimento regional na década de 60, enfrenta hoje um novo e silencioso desafio: sua conexão — ou desconexão — com os grandes fluxos da economia global. Enquanto o Brasil ainda debate a manutenção de incentivos fiscais, a China traça sua Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative), conectando mais de 140 países em uma teia de infraestrutura, comércio e influência.

De um lado, a ZFM representa uma política industrial que tenta conciliar desenvolvimento regional, geração de empregos e preservação ambiental. De outro, a Nova Rota da Seda é a maior iniciativa geopolítica do século XXI, com investimentos trilionários em portos, ferrovias, zonas industriais e centros logísticos — especialmente na Ásia, África e Leste Europeu.

Os números são brutais. Em 2024, o BRI alcançou a marca recorde de US$ 51 bilhões em investimentos diretos e US$ 70,7 bilhões em contratos de construção. Desde 2013, o total mobilizado já ultrapassa US$ 1,175 trilhão, com aproximadamente US$ 470 bilhões em investimentos e US$ 704 bilhões em projetos de infraestrutura. Se considerarmos o acúmulo até 2022, são US$ 679 bilhões aplicados em quase 150 países — um tsunami financeiro comparável apenas à reconstrução do pós-guerra.

E mais: parte dessa nova infraestrutura já bate à nossa porta.
A Nova Rota da Seda chegou à América Latina com força e já estabeleceu conexões com o Paraguai, inclusive em áreas próximas à Tríplice Fronteira. O país vizinho não só criou sua própria zona franca com custos operacionais menores que os da ZFM, como passou a atrair empresas brasileiras interessadas em logística internacional, incentivos tributários e, agora, nos investimentos chineses.

O comércio da ZFM já perdeu terreno para a Zona Franca paraguaia — e a Nova Rota da Seda pode aprofundar essa perda.
Enquanto Manaus depende da BR-319 e de hidrovias estagnadas, Assunção, Ciudad del Este e zonas especiais paraguaias passam a integrar novos corredores bioceânicos e rotas conectadas ao Pacífico, com apoio da China.

O risco é claro e imediato: indústrias atualmente instaladas em Manaus podem optar por migrar para o Paraguai, buscando se beneficiar da logística internacional chinesa, das vantagens do Mercosul e da proximidade com os grandes centros consumidores do Cone Sul.
É uma equação implacável: menor custo, maior acesso e melhor conexão. Se não reagirmos, veremos a debandada industrial se acelerar.

E onde está o Brasil nisso tudo?
Ainda olhando para o retrovisor. Enquanto países da América Latina, como Argentina, Peru e Chile, assinam memorandos de entendimento com Pequim, o Brasil hesita, preso entre o receio ideológico e a ausência de estratégia.

A Amazônia, com seus recursos naturais, biodiversidade e posição geográfica singular, poderia ser um elo logístico vital entre a Ásia e o Atlântico Sul — transformando-se num hub bioeconômico de escala global.
Mas esse potencial permanece adormecido. A Zona Franca de Manaus, ainda ancorada em incentivos fiscais, corre o risco de perder indústrias aqui instaladas, caso não se conecte aos novos fluxos globais de comércio, inovação e infraestrutura.

A Nova Rota da Seda — com seus trilhões em investimentos logísticos e industriais — não é apenas uma estratégia de expansão chinesa. Ela representa uma ameaça real e concreta ao modelo da ZFM.
Se a Amazônia continuar isolada física, logística e politicamente, será apenas espectadora do novo fluxo global de mercadorias, capitais e tecnologia.

Ou nos conectamos agora, diversificando nossa base industrial e assumindo um papel geoestratégico, ou veremos a Zona Franca perder relevância frente aos novos corredores bioceânicos, zonas francas interligadas ao comércio asiático e polos industriais com infraestrutura de ponta.

O século XXI exige mais do que isenção de impostos: exige conexão, planejamento estratégico e protagonismo internacional.
A ZFM ainda pode ser uma peça-chave nesse tabuleiro global — mas só se decidir jogar.

 


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Colaboração especial: Prof. MSc. Alex de Oliveira Melo – @alex_melo_15

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