Por Prof. MSc. Mourão Junior – Colunista do Portal Convergente
Outro ativo institucional estratégico que precisa ser valorizado é o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA). Com infraestrutura montada e capacidade técnica instalada, o CBA pode ser a âncora de um novo modelo de desenvolvimento sustentável baseado na pesquisa, no aproveitamento da sociobiodiversidade e na agregação de valor a produtos florestais não madeireiros. Mais do que preservar, é preciso transformar conhecimento em renda. A floresta pode ser, sim, a base de um projeto de desenvolvimento.
O Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) também pode cumprir um papel essencial ao integrar ciência e indústria. Com sua estrutura de pesquisa e desenvolvimento, o CBA pode gerar insumos sustentáveis para a indústria do Polo Industrial de Manaus (PIM), conectando biodiversidade à inovação tecnológica e produtiva.
A ZFM foi — e ainda é — uma conquista histórica. Gerou empregos, urbanizou a capital, estabilizou a presença brasileira na região e evitou pressões predatórias no coração da floresta. Mas o tempo exige outra postura: não basta defender o passado, é preciso projetar o futuro.
O que temos de melhor já está aqui: a floresta em pé, o maior banco genético do planeta, a sabedoria dos povos tradicionais, o potencial energético limpo, a riqueza cultural viva, e um território estratégico com acesso aos países andinos e ao Caribe.
A Amazônia é um ativo econômico global — só falta tratá-la como tal.
Assim como Walt Disney transformou sonhos e narrativas em parques, patentes e cidades inteiras, por que não transformar a Amazônia em um polo de inovação baseado em bioeconomia, turismo de conhecimento, ciência florestal e cultura digital?
Por que não apostar em hubs de pesquisa, startups verdes, escolas técnicas conectadas ao mundo e intercâmbios com universidades da Pan-Amazônia?
Outro vetor potente e ainda subexplorado é o turismo cultural e de experiência. A Amazônia possui um patrimônio simbólico de valor mundial, e eventos como o Festival de Parintins provam que é possível transformar cultura em economia criativa, gerando emprego, renda, visibilidade internacional e autoestima regional. Com planejamento, infraestrutura e promoção adequada, o turismo pode ser um motor econômico sustentável, sem agredir o meio ambiente e valorizando o que o povo amazônida tem de mais autêntico…
Outro vetor possível — e muitas vezes negligenciado — é a mineração com tecnologia limpa e rastreabilidade ambiental. É possível explorar minérios com controle, uso de drones, sensores, técnicas de reabilitação de solo e transparência em tempo real. Não se trata de abrir a porteira para destruição, mas de aceitar que a extração responsável, regulamentada e monitorada por ciência, pode gerar riqueza sem custo ambiental irreversível.
Um exemplo emblemático é o Projeto Potássio Autazes, localizado no município de Autazes, no Amazonas. Trata-se de uma iniciativa que busca explorar potássio de forma tecnicamente sustentável, com diálogo social e compromisso ambiental. O potássio é um insumo fundamental para a agricultura brasileira, especialmente para grãos como soja, milho e algodão — segmentos que hoje dependem majoritariamente de importações.
Produzir potássio em solo amazônico significa reduzir vulnerabilidades externas, fortalecer a segurança alimentar nacional e, ao mesmo tempo, inserir o Amazonas na cadeia estratégica do agronegócio com responsabilidade socioambiental.
Mas nada disso será verdadeiramente eficaz se continuar concentrado apenas na capital. É urgente realizar um estudo econômico aprofundado das potencialidades dos 62 municípios do Amazonas. Cada um tem sua vocação natural, sua geografia estratégica e seu capital humano a ser desenvolvido.
O Amazonas precisa ser pensado como um mosaico de oportunidades econômicas. Se não descentralizarmos, estaremos condenando boa parte do nosso território ao esquecimento econômico.
Nenhuma estratégia será eficaz se não contemplar a diversidade territorial do estado. É urgente realizar um estudo econômico profundo das potencialidades dos 62 municípios do Amazonas. Cada cidade tem sua vocação natural, sua posição estratégica e capital humano único a ser desenvolvido. Planejar com base nessas especificidades é a chave para descentralizar o desenvolvimento e incluir o interior no ciclo produtivo sustentável da região.
É viável. Mas exige visão de longo prazo, políticas públicas coordenadas e, principalmente, coragem para dizer: o modelo atual é importante, mas precisa ter alternativas econômicas.
Se o Polo Industrial de Manaus representa a base, precisamos agora construir os andares superiores:
– Uma bioeconomia com escala e valor agregado
– Um turismo de experiência científica e cultural, não de massa
– Uma educação técnica alinhada ao século XXI
– Uma infraestrutura digital que conecte comunidades e negócios sustentáveis
– Uma mineração legal, tecnológica e ambientalmente controlada — como a de Autazes
– E, sobretudo, um planejamento regional que respeite e aproveite as vocações locais dos 62 municípios
Não se trata de abandonar a ZFM, mas de sair da sua dependência exclusiva.
A floresta pode — e deve — falar outros idiomas econômicos. E o Brasil, se quiser ter futuro, precisa começar a escutar.
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