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quinta-feira, junho 12, 2025

Bilhões em Manaus, centavos no carrinho: ZFM e IPCA em rota de colisão em 2025

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Por Prof. MSc. Mourão Junior
Colunista do Portal Convergente

Enquanto o IPCA de maio registrava uma desaceleração discreta e o governo comemorava os 0,26% de inflação no mês, a Zona Franca de Manaus (ZFM) vinha silenciosa, mas firme, empurrando a engrenagem da economia amazônica com um faturamento robusto: mais de R$ 74,37 bilhões entre janeiro e abril. Duas realidades, dois termômetros da economia brasileira, pulsando em ritmos opostos. E é nesse descompasso que mora a tensão fiscal, social e estrutural do país.

IPCA: o termômetro do custo de vida

O índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE, é o grande medidor da febre inflacionária brasileira. Em maio, a alta foi de 0,26%, abaixo dos 0,43% de abril, mas ainda assim mantendo um acumulado de 2,75% no ano e 5,32% em 12 meses. A meta do Banco Central é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Estamos acima do teto.

O que puxou esse resultado? Energia elétrica residencial (alta de 3,62%), combustíveis mais comportados, e alimentos que deram um suspiro de alívio. Mas a realidade do consumidor segue amarga: à medida que os preços sobem, o salário encolhe.

ZFM: o pulmão industrial da Amazônia

Na outra ponta, a Zona Franca de Manaus mostra musculatura industrial. Somente no primeiro quadrimestre de 2025, o polo faturou R$ 74,37 bilhões, um crescimento de 14,8% sobre igual período de 2024. A projeção é fechar o ano com R$ 216 bilhões em receita. Informática, duas rodas, eletroeletrônicos e termoplásticos continuam sendo os carros-chefes.

O modelo, nascido da estratégia fiscal de interiorização do desenvolvimento, se sustenta em isenções tributárias que beiram os R$ 25 bilhões anuais. Com isso, gera mais de 500 mil empregos diretos e indiretos e reduz desigualdades históricas na região. Mais do que uma política de incentivos fiscais, a ZFM representa uma poderosa estratégia de desenvolvimento regional. Seu papel vai além da arrecadação: é vetor de inclusão produtiva, geração de oportunidades e redução das desigualdades históricas da Amazônia. Nesse processo, a SUFRAMA atua como guardiã e articuladora dessa política, garantindo que os benefícios fiscais se traduzam em emprego, inovação e integração nacional.

O paradoxo: inflação em alta e indústria também

O IPCA, com sua sensibilidade aos alimentos, à energia e ao transporte, mede o presente do bolso do brasileiro. A ZFM, com sua força industrial e capacidade de gerar receita e emprego, aponta para um futuro regional mais integrado. Mas o paradoxo é cruel: enquanto a indústria de Manaus cresce, os preços do dia a dia explodem nas grandes metrópoles e nos interiores esquecidos.

Esse contraste também evidencia uma urgência: como manter o fôlego industrial sem aprofundar a desigualdade fiscal? A resposta pode estar na função extrafiscal da ZFM. Mais do que uma política de renúncia, ela atua como um instrumento de coesão territorial e inclusão produtiva. O polo industrial de Manaus é, antes de tudo, um gerador massivo de mão de obra na região Norte, promovendo emprego formal em larga escala onde o Estado brasileiro historicamente falhou em investir. Enquanto o IPCA revela a pressão inflacionária que sangra o poder de compra, a ZFM oferece um antídoto: uma estrutura produtiva que redistribui renda via emprego e integração regional.

Conclusão: Brasil precisa calibrar seus motores

O IPCA é o velocímetro. A ZFM é o motor. Um mostra a velocidade da inflação; outro, a potência produtiva. Se não houver sintonia entre ambos, o Brasil corre o risco de acelerar demais onde não pode e travar onde deveria crescer.

Para avançar, é preciso repensar o modelo fiscal, garantir o controle inflacionário e proteger a Amazônia com inovação e produtividade. O modelo da ZFM depende diretamente do consumo interno nacional, pois grande parte da produção é destinada aos grandes centros consumidores do Sudeste e Sul. Quando a inflação sobe, o poder de compra dessas regiões cai – e isso impacta diretamente a demanda pelos produtos fabricados no Polo Industrial de Manaus. Ou seja, inflação alta é veneno para o motor manauara: encarece insumos, retrai pedidos e compromete a escala de produção. Não basta crescer: é preciso crescer certo, com equilíbrio, controle inflacionário e estímulo ao mercado consumidor.

Siga @mouraoeconomista para mais análises e acompanhe nosso trabalho na Universidade Nilton Lins e na Mourão Consultoria Econômica.

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