O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), virou alvo de críticas de ambientalistas e organizações da sociedade civil após defender, em evento público, o direito da Petrobras de realizar pesquisas para exploração de petróleo na Margem Equatorial, especificamente na bacia da Foz do Amazonas — região sensível do ponto de vista ambiental e habitada por povos indígenas. Barbalho, que será o anfitrião da COP30, em Belém, em 2025, afirmou que o país não pode abrir mão dos combustíveis fósseis para garantir seu desenvolvimento econômico.
“Defendo o direito à pesquisa, mediante o cumprimento das condicionantes por parte da Petrobras. E chamar a Petrobras, a partir de uma riqueza nacional, para que ela financie a transição energética”, declarou o governador, durante painel realizado na última sexta-feira (6), em evento promovido pelo grupo Esfera Brasil, no Guarujá (SP). Também participaram do debate os governadores Cláudio Castro (PL-RJ) e Romeu Zema (Novo-MG).
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Barbalho ainda comparou a situação da Foz do Amazonas com a do pré-sal em áreas urbanas do Sudeste. “Eu não posso crer que seja razoável dizerem que não se pode pesquisar a 540 km da Foz do Amazonas se tem ou não tem petróleo, se a 200 km da praia de Copacabana tem uma perfuração. Em Copacabana pode, mas, lá na Amazônia, nós não temos direito a ter oportunidade de ver as nossas riquezas serem transformadas em melhoramento social. Estamos fadados a sermos reféns da nossa riqueza”, completou Barbalho.
A fala gerou forte repercussão negativa entre ambientalistas e movimentos sociais, especialmente por vir de um dos principais rostos públicos da COP30, conferência climática da ONU marcada para acontecer em Belém em novembro deste ano. Organizações como a ClimaInfo reforçaram sua posição contra a exploração de petróleo na região, alegando riscos graves ao ecossistema e aos povos indígenas que vivem nas áreas próximas ao bloco FZA-M-59, no litoral do Amapá.
Segundo a ClimaInfo, Barbalho tenta desviar o foco da discussão. “Não chega a ser novidade a posição do governador. Há meses ele tem recorrido à narrativa de que se trata apenas de ‘pesquisa’, quando, no jargão do setor, o termo equivale à ‘exploração’”, afirmou a organização em nota.
A France 24, emissora pública francesa, também repercutiu as declarações, lembrando a preocupação crescente dos povos indígenas do Amapá com os impactos socioambientais da possível exploração petrolífera.
Segundo a estatal, a coordenadora executiva da APOIANP (Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará), Luene Karipuna, os efeitos já são visíveis. “O garimpo ilegal tem aumentado, há sobrevoos frequentes, e não sabemos quais serão os fluxos envolvidos nesse processo. Isso afeta diretamente o ciclo de aves migratórias e nativas, que utilizam nosso território para reprodução”, afirmou à France 24.
A exploração da Margem Equatorial é tema de debate há mais de um ano, com intensificação após o pedido da Petrobras para iniciar perfurações no bloco FZA-M-59, que aguarda licenciamento ambiental do Ibama.
Outro lado
O Convergente entrou em contato com a assessoria do governador Helder Barbalho para solicitar um posicionamento sobre o caso, mas não obteve retorno até a publicação.