Por Erica Lima
“Quem sabe faz a hora, não espere acontecer.” Mais do que uma frase de impacto, essa é uma convocação coletiva à responsabilidade e ao cuidado. É com esse espírito que nasce a campanha Quem Sabe Faz a Hora, não espere acontecer! idealizada por Érica Lima e promovida pelos portais Manaós e O Convergente. A iniciativa surge não apenas como alerta, mas como ato de resistência e homenagem à memória de Ellen Cristina e Fran Damasceno, duas mulheres amazonenses que perderam a vida precocemente para o câncer de colo do útero, uma doença que, apesar de prevenível, continua matando mulheres todos os dias.
Ellen tinha 29 anos. Fran, 43. Ambas deixaram filhos, amigos, famílias devastadas pela dor de uma perda que poderia ter sido evitada. Representam tantas outras que, por negligência do sistema, desinformação ou medo, não conseguiram acessar o cuidado a tempo. A morte de mulheres jovens, em plena fase produtiva, não é apenas uma tragédia pessoal, é uma denúncia social. Essa doença humilha o corpo feminino, destrói famílias e silencia sonhos.
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Epidemia Silenciosa no Amazonas
O câncer de colo do útero é uma das principais causas de morte entre mulheres no Norte do Brasil. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o Amazonas continua liderando o ranking nacional de incidência da doença. Em 2023, foram registrados mais de 890 novos casos e cerca de 157 mortes no estado. Em 2024, os dados subiram para 930 novos casos e 176 mortes. E agora, em 2025, as projeções apontam para mais de 950 casos confirmados, com mais de 180 óbitos já notificados até maio. São números que escancaram a urgência de agir.
Prevenção Existe — E é Eficaz
O que torna esse cenário ainda mais grave é que o câncer de colo do útero é quase totalmente evitável. A vacina contra o HPV, disponível gratuitamente no SUS, pode prevenir até 90% dos casos. O exame preventivo (Papanicolau) detecta lesões antes mesmo que se tornem câncer. No entanto, a realidade ainda é marcada pelo medo, pela desinformação e pela precariedade dos serviços de saúde.
Mais alarmante ainda é a falta de educação sexual estruturada nas escolas e de campanhas contínuas que incentivem meninas e adolescentes a visitar o ginecologista, mesmo que não tenham iniciado a vida sexual. A ausência de orientação precoce é uma brecha por onde a doença entra.
A Hora é Agora
A campanha Quem Sabe Faz a Hora , não espere acontecer! nasce como um movimento de transformação. Vai além dos cartazes e das postagens nas redes sociais: propõe ações concretas de educação, mobilização comunitária, atendimento preventivo e valorização da vida. Fala com a mulher da periferia, com a jovem da escola pública, com a mãe solo, com a ribeirinha, com a professora, com a diarista, com todas aquelas que, muitas vezes, são esquecidas pelas grandes campanhas.
O foco são as mulheres entre 25 e 64 anos, faixa etária mais atingida, mas a campanha também direciona atenção às adolescentes, criando pontes de diálogo sobre autocuidado, saúde íntima e prevenção. A informação, quando acessível e afetuosa, salva vidas.
Valorizar a Vida, Honrar as Memórias
Ellen e Fran não são apenas números em um boletim epidemiológico. São filhas, mães, amigas. São histórias interrompidas pela negligência de um sistema que ainda falha em proteger suas mulheres. Por isso, essa campanha carrega seus nomes como bandeira. Porque cada mulher que adere à prevenção é também um ato de resistência contra o esquecimento e a omissão.
Uma Chamada à Sociedade
Aos gestores públicos, à imprensa, aos educadores, aos profissionais da saúde: a omissão custa vidas. Às mulheres, adolescentes, mães e filhas: não esperem o tempo passar. Às famílias, aos amigos, aos homens: sejam aliados, incentivem, acompanhem.
Essa campanha não é apenas sobre saúde: é sobre justiça, dignidade e direito à vida.
Porque quem sabe faz a hora. E a hora é agora. Não Espere acontecer!