A intensificação da guerra comercial entre Estados Unidos e China gerou um movimento incomum no mercado global de soja. Segundo informações divulgadas pela agência Bloomberg, processadores chineses adquiriram cerca de 2,4 milhões de toneladas do grão brasileiro em apenas uma semana — o equivalente a aproximadamente 40 cargas de navio. O volume representa quase um terço da média mensal processada pela China, surpreendendo o mercado pela agilidade e concentração das compras.
As aquisições ocorreram majoritariamente na primeira metade da semana e foram confirmadas por fontes com conhecimento direto das operações. Os embarques estão programados para os meses de maio, junho e julho. A movimentação foi impulsionada pela queda nos preços da soja brasileira, após meses de valorização, e pelo cenário de incerteza gerado pela escalada nas tensões comerciais entre Washington e Pequim.
O principal catalisador dessa reviravolta foi o recente anúncio do presidente norte-americano Donald Trump, que elevou as tarifas sobre produtos chineses para até 145%. Em resposta, o governo chinês prometeu retaliar com tarifas de até 125%. Diante do aumento da tensão, os importadores chineses reduziram drasticamente suas compras de soja dos Estados Unidos — tradicionalmente um dos maiores fornecedores do grão para o país asiático.
Apesar de ter fortalecido sua relação comercial com o Brasil nos últimos anos, a China ainda depende da soja norte-americana no segundo semestre, período em que ocorre a colheita nos EUA. A continuidade da guerra comercial pode, portanto, comprometer o abastecimento global a partir do quarto trimestre.
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Além das tarifas, outro fator que influenciou o aumento das compras foi a valorização do farelo de soja, que melhorou as margens de lucro para os processadores chineses, incentivando aquisições em larga escala. Empresas privadas da China, por conta do risco geopolítico, já vinham evitando contratos com fornecedores americanos. Ainda assim, a estatal chinesa responsável por manter estoques estratégicos continuou realizando compras pontuais dos EUA até a posse de Trump, em janeiro.