Nas eleições de 2026, os amazonenses terão que se decidir pela escolha de dois representantes para o Senado Federal, o que deve intensificar a disputa eleitoral em meio ao cenário político polarizado. A última vez em que a população votou para duas vagas simultaneamente para senador foi em 2018.
Atualmente, pelo menos cinco nomes despontam como possíveis candidatos ao pleito, representando diferentes ideologias políticas e grupos de influência nacional. Entre eles, o governador Wilson Lima (União Brasil), que, embora ainda não tenha confirmado publicamente sua intenção de concorrer, vem estreitando laços com o bolsonarismo, o que pode indicar um possível movimento estratégico rumo ao Senado.
No último domingo, 6, o governador chegou a estar presente em uma manifestação convocada por Bolsonaro na Avenida Paulista, em São Paulo, cujo protesto pediu pela anistia dos envolvidos aos atos de 8 de janeiro de 2023. No evento, Wilson Lima posou para foto com o ex-presidente, reforçando apoio ao político.
Vale destacar que o bolsonarismo tem forte ligação com a direita e, segundo especialistas, condena veementemente a esquerda, especialmente, políticos ligados a legendas como o Partido do Trabalhador (PT) e PSOL.
Se confirmado candidato, Wilson Lima se configura como um forte nome na disputa, visto que, nas duas vezes em que foi eleito governador, ultrapassou a marca de 1 milhão de votos nas duas eleições. Em 2018, ele recebeu 1.033.950 votos (58,50% dos votos válidos), já em 2022, ele chegou a 1.039.192 votos (56,65% dos votos válidos).
Outro nome que também surge como um dos principais pré-candidatos, é o deputado federal Capitão Alberto Neto. Filiado ao Partido Liberal (PL), Alberto Neto tem forte alinhamento com o colega de legenda e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que já declarou apoio para o político amazonense disputar uma vaga ao Senado em 2026.
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Nas eleições de 2024 para Prefeitura de Manaus, Alberto Neto chegou a ir para o segundo turno do pleito e perdeu apenas para o prefeito David Almeida (Avante), ao obter 479.297 votos, correspondendo a 45,41% do total de votos válidos, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Mesmo com a derrota, Alberto Neto se destacou e ganhou, no início deste ano, apoio publicamente de Jair Bolsonaro. O ex-presidente, durante participação em um programa de podcast, afirmou que o deputado federal possivelmente será o candidato do PL em Manaus ao Senado no pleito de 2026.
Capitão Alberto Neto deve ser candidato ao Senado pelo Amazonas, diz Bolsonaro
Ainda pelo lado da direita de possíveis postulantes, está o senador Plínio Valério (PSDB), atual ocupante de uma das vagas e que tem adotado uma postura crítica ao atual governo federal.
Plínio Valério é aliado do bolsonarismo no Senado e pode buscar a reeleição ancorado nesse apoio, embora o PSDB, seu partido, tenha adotado posicionamentos mais moderados em âmbito local e nacional.
Em 2018, o político foi eleito senador com cerca de 834 mil votos válidos, aproximadamente 25,36% dos votos válidos.
Esquerda ou centro-esquerda
Pelo campo oposto, o senador Eduardo Braga (MDB), atual detentor de uma das cadeiras amazonenses no Senado, é outro nome que também é cogitado à reeleição. Com histórico de alinhamento ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Braga representa um polo mais próximo ao centro-esquerda, o que pode garantir apoio de setores ligados ao governo federal, embora ele já tenha ido contra o governo petista ao votar pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Especula-se, contudo, que o senador Eduarda Braga possa tentar o governo do Amazonas nas Eleições de 2024, apesar do laço de apoio que tem mostrado com o colega e também senador Omar Aziz (PSD), que é possível candidato a governador no Estado neste próximo pleito.
A última eleição em que Eduardo Braga concorreu como candidato há três anos, ocasião em que perdeu o pleito para o governador Wilson Lima no segundo turno. De acordo com dados do TSE, em 2022 o mdbista obteve 795.098 votos (43,35% dos votos válidos) na disputa e não conseguiu vencer Lima.
Também ligado ao presidente Lula, o ex-deputado federal Marcelo Ramos (PT) é outro nome ventilado para a disputa. Após concorrer como candidato a prefeito de Manaus em 2024 com apoio do Partido dos Trabalhadores e do próprio Lula, Ramos pode ser outro concorrente ao Senado e acirrar a disputa ao pleito.
Polarização e incertezas
Com a possibilidade de candidaturas representando diferentes visões políticas — direita, centro e esquerda —, a eleição para o Senado no Amazonas tende a ser uma das mais polarizadas do país.
Para o professor e analista político Helso Ribeiro, ainda há muitas incertezas sobre as Eleições 2026 e “muita água para passar por debaixo da ponte” até lá.
“Eu penso que até outubro de 2026 muitas águas vão cair das nuvens e vão passar por baixo da ponte. A gente tem que trabalhar com datas, e a primeira delas é final de março. Se o Wilson Lima for candidato, ele tem que abandonar o barco. E a segunda data, esta eu diria que seria fundamental, é agosto [de 2026], quando ocorrem as convenções partidárias”, analisa Helso Ribeiro.
O especialista destaca que, além dos nomes mais citados, outros políticos também podem entrar na disputa, como o atual ex-vice-prefeito de Manaus, Marcos Rotta, e até o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, ambos do PSDB. “Enquanto isso, serão só especulações”, pontua.
Entre os nomes já conhecidos do eleitorado, Helso observa dois candidatos que possuem mandato atualmente no Senado: Eduardo Braga e Plínio Valério. “O Eduardo Braga conseguiu eleger, pelo MDB, cerca de 12 ou 13 prefeitos no Amazonas, isso dá um lastro de votação importante. Já o Plínio foi eleito há sete anos pelo PSDB e rapidamente tomou um viés bolsonarista. A questão é: será que o eleitor de 2018 aprova essa mudança? É uma incógnita. Será que o Plínio vai conseguir os votos bolsonaristas?”, questiona.
O analista também questiona a rotulagem de Eduardo Braga como um político de esquerda. “Ele votou pelo impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff e a favor da reforma da Previdência. O MDB é um partido de centro a centro-direita. Então não dá pra colocá-lo na esquerda.”
Sobre o governador Wilson Lima, o analista chama atenção para seu desempenho eleitoral: “Ele é o único político que conseguiu mais de 1 milhão de votos em duas eleições. Nenhum outro teve essa performance. E isso não evapora da noite para o dia. Ele também foi o governador que mais elegeu prefeitos no interior na história da redemocratização, com cerca de 30 prefeitos do União Brasil. Caso decida disputar, é um nome de peso.”
Já sobre o Capitão Alberto Neto, Helso Ribeiro analisa que o deputado federal tem se mantido fiel ao bolsonarismo. “Na eleição de 2022, ele foi o segundo mais votado. Agora vamos ver se ele tem fôlego numa eleição majoritária como a do Senado”, avalia.
Sobre Marcelo Ramos, o analista classifica como um político de centro, apesar de estar filiado ao PT. “A prática dele, quando deputado federal, sempre foi de alinhamento com pautas liberais. É o único de centro nessa lista. Todos os demais são candidatos de direita. E dentro da direita, é preciso separar. O Alberto Neto, por exemplo, é da direita bolsonarista, mas essa não é a única direita existente.”
O que dizem os eleitores
Enquanto os bastidores da política fervem, o eleitorado amazonense também começa a observar os movimentos com cautela e analisar os principais nomes que vão surgindo para as Eleições 2026.
“A gente vê muitos nomes, mas sinceramente ainda não sei em quem confiar. Todo mundo já esteve no poder de alguma forma, e pouca coisa muda pra gente aqui embaixo”, comentou Maria do Socorro, 51, professora aposentada.
Já Paulo Ricardo, 22, estudante universitário, acredita que a eleição precisa de renovação: “Parece que a gente fica sempre entre os mesmos candidatos de sempre. Precisamos de gente nova com ideias novas.”
No interior do estado, o nome de Wilson Lima tem força. “O governador ajudou muito aqui. Se ele for candidato, acho que tem chance, porque trouxe investimento pra cá”, disse Natanael Lima, 18, ajudante de comércio em Itacoatiara.
Por: Bruno Pacheco
Ilustração: Gabriel Torres
Revisão Jurídica: Letícia Barbosa