Uma reportagem divulgada nesta terça-feira, 11, pela nova edição da revista Cenarium, revelou que Organizações Não Governamentais (ONGs) e instituições que atuam na BR-319 teriam recebido, ao longo dos últimos 15 anos, mais de R$ 122,8 milhões (aproximadamente US$ 21,4 milhões na conversão atual) da Gordon and Betty Moore Foundation (GBMF), uma entidade internacional envolvida em projetos de impacto ambiental, como a extração de combustíveis fósseis no Amazonas pela Eneva S/A.
Segundo a revista, essas organizações e instituições buscam controlar as narrativas sobre a BR-319 por meio de projetos de governança, com o intuito de obter mais poder nas decisões sobre a estrada do que o próprio Estado.
“A reportagem teve como ponto de partida informações publicadas no artigo “Desastre ambiental na Amazônia e violação de direitos indígenas facilitados por projetos de governança na BR-319”, assinado pelos biólogos e pesquisadores Lucas Ferrante e Philip Fearnside e pela jornalista e escritora Monica Piccinini, correspondente da CENARIUM em Londres, no Reino Unido”, destacou a revista.

Segundo a publicação, a reportagem foi complementada com uma investigação de seis meses. Dados sobre os repasses financeiros estão disponíveis em demonstrativos da GBMF e em documentos enviados à redação.
As ONGs e instituições que teriam recebido os fundos, revela a Cenarium, incluem o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), a Fundação Getulio Vargas (FGV) e o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam). A fundação também fez uma doação ao Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa) por meio do World Wide Fund for Nature (WWF), de acordo com a revista.
Repasses
Entre os repasses feitos pela entidade internacional para as ONGs e instituições estão, mostra a revista, pelo menos 10 subvenções ao IEB, que totalizam mais de R$ 80,9 milhões (US$ 14 milhões) desde 2004.
Em 2019, continua a reportagem, R$ 12,2 milhões (US$ 2,1 milhões) foram destinados para “apoiar a participação das partes interessadas no planejamento do desenvolvimento sustentável para a região da BR-319 no Amazonas”.
Idesam
A reportagem também mostra que a GBMF também teria repassado recursos ao Idesam, somando R$ 13,9 milhões (US$ 2,4 milhões) entre 2011 e 2023, sendo mais da metade desses valores recebidos em 2023.
Segundo a Cenarium, o maior repasse foi destinado para monitorar o processo de licenciamento e o desmatamento ao longo da BR-319, além de subsidiar estratégias para o planejamento territorial e cadeias de valor sustentáveis.
O Idesam, localizado em Manaus, coordena o Observatório da BR-319, uma rede de organizações da sociedade civil que abrange 13 municípios, 42 Unidades de Conservação e 69 grupos indígenas, com 63 terras indígenas reconhecidas oficialmente. O objetivo do observatório é gerar informações sobre a estrada e sobre o que chama de “desenvolvimento inclusivo” na área.
FGV
A FGV também teria recebido mais de R$ 28 milhões (US$ 5 milhões) da GBMF a partir de 2018, conforme a Cenarium. A revista revela que dois dos repasses, de R$ 18,4 milhões (US$ 3,2 milhões) e R$ 6,3 milhões (US$ 1,1 milhão), foram para o desenvolvimento da governança territorial da BR-319.
GBMF
A Cenarium pontua ainda que a GBMF é gerida pela Dynamo Brasil, que também tem participação na Eneva, uma empresa privada de energia que explora petróleo e gás na Amazônia. A Eneva tem sido envolvida em polêmicas relacionadas à exploração de recursos na região e é alvo de investigações por denúncias de ameaças contra indígenas. Em 2022, a fundação destinou US$ 5,6 milhões à Dynamo Brasil, conforme documentos obtidos pela CENARIUM.
Outro lado
O Convergente entrou em contato com a GBMF e as organizações e instituições citadas (IEB, FGV, Idesam e WWF, além da Eneva), para pedir posicionamento sobre as informações publicadas pela revista. Sem retorno.
Veja a reportagem completa aqui.