Os brasileiros deportados dos Estados Unidos na “era Trump” como presidente relataram, em Manaus, ameaças de morte e humilhações durante o processo de translado entre os países. Os passageiros que chegaram ao Brasil na última sexta-feira, 24, estavam algemados e alguns chegaram a mostrar agressões pelo corpo.
Natural de Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG), Carlos Vinícius de Jesus, de 29 anos, relatou que foi ameaçado de morte pelos agentes americanos e que um deles afirmou que, se quisesse, teria matado os deportados.
“Triste porque veio famílias, crianças. Os americanos são hipócritas, porque um deles falou que ‘se dane o governo, porque se a gente quisesse, fechava a porta da aeronave e matava vocês'”, relatou.
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Carlos disse ainda que está aliviado porque chegou com vida em território brasileiro. “São oito meses sem comer arroz, feijão, carne. Aliviado porque cheguei com vida”, disse, enquanto mostrou as lesões que sofreu dentro do avião.
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Ainda de acordo com relatos de outros brasileiros que estavam no voo, eles foram agredidos com empurrões, tapas, murros e com as próprias algemas. Segundo eles, apenas mulheres, crianças e os pais que estavam com crianças foram poupados.
Sandra Pereira de Souza, de 36 anos, disse que a família sofreu “um inferno” durante o voo. Ela estava no avião com o marido Alisdete Gonçalves dos Santos, de 49, e os dois filhos pequenos. “Foi um inferno, uma tortura desde que saímos da Louisiana. Deu para perceber que o avião tinha algum problema. Acho que foi uma falta de compromisso deles com os seres humanos, a gente estava morrendo de medo de morrer”, contou ao g1.
Chegada
Sandra chegou em Manaus na última sexta-feira, 24, junto com os outros brasileiros deportados. 79 passageiros estavam a bordo do avião, sendo 11 mulheres, 62 homens e seis crianças.
Na capital, o governo do Amazonas auxiliou os passageiros deportados e forneceu colchões, atendimento médico, alimentação e água, por meio da Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc), Corpo de Bombeiros do Amazonas (Cbmam) e Defesa Civil.
O avião do governo norte-americano em que eles estavam iria fazer apenas um reabastecimento na capital. Porém, durante o procedimento, apresentou problemas técnicos no ar condicionado e não seguiu viagem, causando um princípio de tumulto entre os passageiros.
Um vídeo que circula pelas redes sociais mostrou que o grupo de deportados estava algemado e com os pés acorrentados, conforme imagens registradas na saída do avião. Ao todo, 158 pessoas a bordo.
O caso repercutiu nacionalmente e fez o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, determinar a retirada das correntes e solicitar um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) para que os brasileiros completassem a viagem com dignidade e segurança.
Era Trump
O grupo foi o primeiro de brasileiros deportados da “Era Trump” como presidente dos Estados Unidos. O novo mandatário assumiu o comando dos Estados Unidos, após tomar posse na última semana, com a promessa de realizar a maior deportação da história norte-americana.
A medida faz parte da série de ações adotadas por Donald Trump logo no início do mandato, autorizando prisões de imigrantes ilegais que não estavam com os documentos em dia nos EUA.