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quarta-feira, novembro 27, 2024

A polêmica sobre a Zona Azul: benefício ou prejuízo para o Centro de Manaus?

O aplicativo tem gerado insatisfações por parte de usuários, que apontam diversos  prejuízos causados pelo sistema

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Um sistema de estacionamento rotativo em Manaus criado pela Lei nº 1.534, de 11 de novembro 2010, a Zona Azul tem sido centro de críticas em meio à insegurança nas ruas da capital. O serviço, que deveria substituir o trabalho de flanelinhas e trazer melhorias, praticidade e segurança para usuários, é oferecido apenas nos bairros Centro e Vieiralves e  apontado como um dos fatores para afastar a população de frequentar essas localidades.

Implantado a partir de 2015, a Zona Azul é administrado pela empresa Tecnologias de Trânsito da Amazônia SPE-Ltda e tem contrato de concessão renovado até 2030 com a Prefeitura de Manaus, com cerca de 3.863 vagas distribuídas pela cidade.

Mas, o aplicativo tem gerado insatisfações por parte de usuários, que apontam diversos  prejuízos causados pelo sistema. Para uma mulher que preferiu não se identificar, a instalação da Zona Azul não trouxe resultados positivos, principalmente, em virtude da ação de flanelinhas, que continuam a cobrar pelos estacionamentos.

“Para mim, foi ruim, porque eu tenho que pagar para o prefeito [com o Zona Azul] e ainda tenho que pagar para o flanelinha”, destacou, reforçando que, mesmo utilizando o serviço, ainda precisa pagar flanelinhas para garantir a segurança do veículo.

Um comerciante do Centro de Manaus, que preferiu se identificar apenas como JB, a Zona Azul também foi prejudicial e trouxe prejuízos financeiros. O lojista também critica a falta de funcionários do sistema por rua.

“Essa Zona Azul, para nós que somos lojistas aqui no Centro, só fez atrapalhar, além de mexer em nossos bolsos. Primeiro, porque quando chegamos para estacionar, só é um funcionário por rua, mas eles precisam sair para almoçar e lanchar. E se você chegar e não vê eles, você tem que esperar. Mas quando não podemos e deixamos o carro, somos multados. É R$ 12 a multa”,

“A Zona Azul é só uma máquina de fazer dinheiro para a prefeitura. Para eles, é uma maravilha, mas para nós é uma porcaria e não tem benefício nenhum. E sem contar que a hora está R$ 3,50. Nós passamos oito horas aqui”, lamentou.

O estudante universitário Carlos Albert, usuário do sistema, explicou que mesmo utilizando o serviço foi alvo de furto no Centro de Manaus. À reportagem, o jovem também teceu críticas quanto à quantidade de funcionários da Zona Azul para agilizar os estacionamentos.

“Você perde um tempo absurdo esperando eles para você pagar pessoalmente pelo estacionamento. Não é todo mundo que vai conseguir ter acesso ao aplicativo. Eu, por exemplo, já usei esse aplicativo, mas ele nunca funciona”, explicou.

Abandono do Centro de Manaus

Um local considerado ponto de encontro da alta sociedade na época do famoso Ciclo Áureo da Borracha, um período de grande prosperidade com a extração e comercialização do látex, o Centro de Manaus ganhou notoriedade mundial nos séculos XIX e XX com a riqueza local e a construção de monumentos, como o Teatro Amazonas.

A região, contudo, impactada por crises econômicas, tem enfrentado um processo de degradação e abandono ao longo dos anos, resultado de uma série de fatores históricos, econômicos e sociais que afetaram a cidade, além da falta de manutenção de prédios e o grave problema de segurança pública.

Para o ex-vereador e ex-diretor do Departamento de Trânsito do Amazonas, o engenheiro civil Manoel Paiva, o abandono e a falta de zeladoria do Centro de Manaus prejudicam o comércio e afastam os investidores.

Em entrevista ao portal O Convergente, Manoel Paiva, considerado um dos maiores especialistas em transporte público no Amazonas, defendeu a promoção de ações urgentes de revitalização para recuperar o Centro de Manaus e atrair mais pessoas à região e pontuou que a regulamentação e o controle de estacionamentos em áreas comerciais são fundamentais para organizar o espaço urbano e estimular a rotatividade de vagas.

De acordo com Manoel Paiva, medidas como a implantação de estacionamentos rotativos, a exemplo da Zona Azul, são adotadas em diversas cidades do mundo e trazem benefícios para o comércio, os usuários e a comunidade em geral.

“Nos centros comerciais com grande demanda, a rotatividade das vagas é essencial. Isso multiplica as oportunidades de estacionamento, facilita o acesso de quem realmente precisa e dinamiza o comércio local”, ressaltou Paiva.

Benefícios

Para o engenheiro, as áreas abertas, como ruas e avenidas comerciais, possuem uma dinâmica diferente de locais privados, como shoppings, e exigem soluções específicas para atender às demandas da população.

“Cerca de 90% dos visitantes de Manaus entram pela área portuária, e o Centro precisa ser revitalizado para receber essas pessoas. Isso beneficia tanto os comerciantes quanto os usuários”, concluiu.

Diálogo

Em Manaus, ainda segundo Paiva, os bairros do Centro e do Vieiralves são exemplos de locais que se beneficiariam da implantação de mais estacionamentos rotativos. Ao portal, contudo, o engenheiro pontuou que é necessário de planejamento e diálogo com a comunidade antes da execução de qualquer projeto, seja sobre o tema ou outro assunto.

“É preciso debater com os moradores e comerciantes, garantindo que as soluções atendam às necessidades locais. Não adianta o projeto sair apenas da Câmara ou da gestão pública sem um consenso comunitário”, alertou.

Regulamentação

Nesta quarta-feira, 27, a Zona Azul voltou a ser tema de discussão na Câmara Municipal de Manaus (CMM), que dialoga pela implementação de uma nova lei para regulamentar o sistema e fazer com que a empresa responsável pelo serviço arque com os prejuízos causados aos motoristas em caso de roubo, furto e até acidentes.

O requerimento foi do vereador Sassá da Construção Civil (PT), e tem o objetivo de garantir a segurança da população, segundo o parlamentar.

O requerimento foi colocado em pauta após após denúncias de possíveis práticas abusivas cometidas por agentes do sistema Zona Azul nas formas de aceitar pagamentos, caso que levou o Ministério Público do Estado do Amazonas (MPAM), por meio da 81ª Promotoria de Justiça Especializada na Defesa dos Direitos do Consumidor (Prodecon), a instaurar procedimento administrativo e recomendação para investigar o caso.

Confira na reportagem publicada pelo O Convergente: MPAM investiga prática abusiva na cobrança de pagamento do Zona Azul

Outro lado

A reportagem entrou em contato com a Zona Azul para solicitar um posicionamento sobre o serviço disponibilizado pela empresa. O Convergente também procurou a Prefeitura de Manaus e questionou o que o Executivo Municipal tem feito para garantir o regular funcionamento do sistema. Até a publicação, sem retorno.

 

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