O retorno do Brics marcou a volta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no cenário mundial em viagem à África. No encontro, o presidente debateu sobre novos financiamentos brasileiros para obras de infraestrutura para a Angola, o que pode ter sido o ponto alto do petista na viagem.
Lula passou por três países durante quase uma semana: África do Sul, Angola e o arquipélago de São Tomé e Príncipe. Na Cúpula de Líderes dos Brics, Lula participou da aprovação para adesão de novos países no grupo: Argentina, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã.
Com a presença dos novos países, o bloco passa a ter 36% do PIB mundial em poder de paridade de compra e 46% da população mundial, maior do que o G7 que tem 29% do PIB. De acordo com Lula, esses números são “extraordinários”, apesar de o Brasil ter resistido à expansão.
O Brasil chegou a ser criticado pela resistência, mas acabou concordando com a pressão dos chineses. Em entrevista, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou que as decisões do Brics são tomadas em consenso, e, se caso algum país fosse contra a expansão, era só ter declarado isso.
Angola
A ida de Lula a Angola foi um dos pontos altos da viagem do presidente. Isso porque, de acordo com o Itamaraty, a visita do presidente representou a retomada das relações entre o Brasil e toda a África.
Na ocasião, o petista ainda chegou a prometer que viajaria outras vezes para a África, além de defender o retorno do financiamento brasileiro para a venda de produtos e também para projetos de infraestrutura em Angola.
Ao lado do presidente angolano João Lourenço, o presidente do Brasil destacou que “a questão do financiamento de operações de exportação brasileiras, que é fundamental para alavancar nossa parceria econômica”.
Apesar disso, o tema é polêmico, uma vez que esse tipo de financiamento é oferecido através do BNDES. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a comentar sobre o assunto e admitiu que é delicado, mas sugeriu que os empresários dialoguem com os líderes políticos do Congresso Nacional para entenderem o problema.
São Tomé e Príncipe
A última parada de Lula foi em São Tomé e Príncipe para participar da Cúpula dos Países de Língua Portuguesa. Durante a viagem, Lula mandou um recado à União Europeia, com a qual o Mercosul tem negociado detalhes do acordo de livre comércio.
“Temos de evitar o neocolonialismo que leva a um novo ciclo de exploração predatória de minerais críticos e outros recursos naturais. A transição ecológica tampouco deve servir de pretexto para novos protecionismos verdes”, disse o presidente brasileiro.
Os países que compõem a União Europeia pedem a aplicação de sanções contra as exportações do Mercosul em caso de ampliação do desmatamento e destruição do meio-ambiente.
Reflexo positivo
Ao Portal O Convergente, o presidente da Comissão de Relações Internacionais da OAB-AM, Helso Ribeiro, afirmou que a participação do presidente Lula no Brics foi positiva para o Brasil, uma vez que o petista possui uma boa imagem internacionalmente.
“A imagem dele é boa internacionalmente. É bom lembrar que, no último encontro do G20, na Itália, que o ex-presidente Jair Bolsonaro participou, o reflexo da participação dele para o Brasil foi péssima. Vários líderes formando rodinhas de 3 e 4 e o ex-presidente Bolsonaro tentando conversar com os garçons, porque ninguém queria papo com ele”, comentou.
De acordo com ele, nos últimos anos, o Brasil era visto como “patinho feio” nas relações internacionais, o que pode ter mudado com a participação de Lula nos eventos com líderes mundiais.
“O Brasil ficou por muito tempo em uma espécie de patinho feio da sustentabilidade, das relações internacionais, e a participação do presidente Lula foi interessante. Inclusive se fala até de um aumento do Brics, isso mostra que esse grupo de países está trilhando um caminho que é interessante para outros autores internacionais”, afirmou.
Ele ainda comentou que, quando o ex-presidente Bolsonaro ia à Europa, se encontrava com líderes de extrema direita, um exemplo disso foi o encontro entre o ex-mandatário brasileiro e o presidente russo Vladimir Putin.
O presidente da Comissão de Relações Internacionais da OAB disse que “pessoas partidárias a essas ideias vão sempre criticar o presidente Lula”, mas que, em geral, a imagem do Brasil melhora muito, uma vez que parcerias estrangeiras possam ser firmadas entre o governo brasileiro e outros países.
“A grande maioria da população não está nas extremas, então a imagem do presidente Lula é alguém que vai negociar, que criou, de certa forma, programas sociais que foram hesitosos, tanto que foram copiados por outros presidentes […] Isso etiqueta o Lula dessa forma, como alguém preocupado com o social”, finalizou.
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Por Camila Duarte
Revisão textual: Vanessa Santos