O Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) está desenvolvendo na região da Triplice Fronteira amazônica, no Alto Solimões, parte de um estudo que pretende caracterizar o perfil epidemiológico da filariose na Amazônia, tendo como público-alvo comunidades ribeirinhas e indígenas de diferentes etnias, presentes em municípios da região e em territórios na Colômbia, próximos da fronteira, onde é frequente a presença de microfilárias no sangue na população.
O trabalho é desenvolvido pelo Núcleo de Patógenos, Reservatórios e Vetores na Amazônia – PreV Amazônia, do Laboratório Ecologia de Doenças Transmissíveis na Amazônia (EDTA), da Fiocruz Amazônia, com apoio do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Alto Solimões e Secretaria Municipal de Saúde das Prefeituras de Tabatinga e Benjamin Constant.
O estudo consiste na realização de coletas de amostras sanguíneas de pacientes com suspeita de filariose, notificados pelo DSEI ARS, coleta de vetores da doença (a exemplo do piuns e maruins) e levantamento do perfil clínico-epidemiológico dos pacientes.
O coordenador do PReV Amazônia da Fiocruz Amazônia, o pesquisador da Fiocruz Amazônia Sérgio Luiz Bessa Luz e o pesquisador José Joaquín Carvajal Cortés, explicam que desenvolvem as atividades junto com o pesquisador Marcelo Urbano, da Universidade de São Paulo (USP).
O trabalho conta com o apoio de profissionais de saúde dos municípios envolvidos e um grupo de estudantes e egressos do mestrado do programa PPGVIDA e PPGBIO e uma estudante do Vigifronteiras da Colômbia, onde estão sendo desenvolvidas também atividades de campo.
“A finalidade é demonstrar que existe alta prevalência da filariose nestas regiões muito embora o Governo Federal ainda não a inclua na lista das doenças de notificação obrigatória e, como doença negligenciada, ela tem a sua importância, mas se desconhecem muitos aspectos, sem que haja respostas em relação a tratamento efetivo, transmissão, diagnóstico e genética dos parasitas e vetores que a causam”, afirmam Sérgio Luz.
Os municípios de Tabatinga, Lábrea e São Gabriel da Cachoeira são os que mais registram casos de filariose por Mansonella no Amazonas. No Peru e na Colômbia, a doença está sendo prevalente também em cidades como Caballococha (Loreto, Peru) e Puerto Narino (Amazonas, Colômbia).
“Somente na região do Alto Solimões, desde 2015, já foram registrados 7.500 casos, um número bastante alto e que preocupa”, enfatiza Joaquin Cortés, justificando ter sido este o motivo pelo qual a pesquisa selecionou as áreas de fronteira do Alto Solimões para realizar o trabalho.
“Selecionamos as áreas, as equipes e o DSEI nos disponibilizou logística e vamos numa equipe grande percorrer todas essas áreas”, explicou. Nas comunidades indígenas Umariaçu 1 e 2, Belem de Solimões, Vendaval e Campo Alegre, em Tabatinga, foram colhidas até o momento, aproximadamente, 250 amostras. O trabalho também se estenderá à comunidade Feijoal, pertencente ao Alto Solimões.
O componente entomológico do projeto visa identificar as espécies de insetos com presença de filárias. A parte clínica, desenvolvida pelo médico Marcelo Urbano, da USP, se encarregará do estudo clínico que ainda tem suas lacunas, mas ainda quando se desconhece a localização das filárias adultas no organismo humano (onde estão, como se reproduzem e período de incubação), bem como realizará aplicação de questionários para verificar possíveis associações entre conhecimentos e práticas da população que possam oferecer indícios sobre o comportamento da filariose por Mansonelose na Amazônia.
Serão realizados também atendimentos com pacientes positivos. “Nas comunidades ribeirinhas indígenas e não indigenas, as pessoas adoecem e como é difícil identificar a espécie da filária por microscopia, não recebem o tratamento efetivo, razão pela qual podem se apresentar pessoas que visitam várias vezes o serviço de saúde na região”, afirmou Cortés.