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sexta-feira, julho 5, 2024

“Sequela deixada pós-abolição”, diz Christian Rocha sobre caso dos PMs que amarraram pés e mãos de suspeito em São Paulo

O homem, de 32 anos, que foi filmado com os pés e as mãos amarrados por uma corda, foi encontrado com duas caixas de chocolate

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No último domingo (4), um vídeo em que policiais amarram os pés e as mãos de um homem negro, suspeito de furtar um mercado na Zona Sul de São Paulo, chocou a internet. Os agentes também arrastaram o homem pelo chão e o jogaram numa maca antes de levá-lo para um carro da PM. Um inquérito foi aberto para apurar a conduta dos agentes de segurança.

O caso aconteceu na Vila Mariana e parte da situação foi filmada. Segundo o boletim de ocorrência, três pessoas participaram de um “arrastão” para furtar alimentos de um mercado. O homem, de 32 anos, que foi filmado com os pés e as mãos amarrados por uma corda, foi encontrado com duas caixas de chocolate.

Por meio de nota, a Polícia Militar disse que a conduta dos agentes não é compatível com o treinamento e com os valores da instituição. Por este motivo, foi aberto um inquérito para apurar a conduta dos policiais envolvidos no caso. A PM também afirmou que os policiais foram afastados das atividades operacionais, uma vez que as ações gravadas “estão em desacordo com os procedimentos operacionais padrão da instituição”.

Em relação ao homem que aparece no vídeo, a polícia disse que ele foi preso em flagrante por furto. Além dele, um adolescente foi apreendido e um outro homem foi preso. A Prefeitura de São Paulo disse que solicitou a investigação dos fatos nos termos da legislação em vigor.

O ativista e representante do movimento negro, presidente do Instituto Nacional Afro Origem Amazonas (Inaô-AM), Christian Rocha, falou ao portal sobre o caso. “O caso sobre o PM é a resposta para os que ainda têm dúvidas sobre o tratamento e o comportamento para com os negros e para com os que se encontram em vulnerabilidade social, não somente o viés da diferença de abordagem e de como agir diante de um negro ou negra, a polícia, assim como qualquer cidadão, sabe da carta branca, que todos neste país têm, de matar negros e negras, de violentar e de desrespeitar. Afinal, somos um dos países mais racistas do mundo. Basta olharmos para o número de estatutos que possuímos”.

Ele ainda acrescentou: “O tratamento policial é a sequela deixada pós-abolição, onde muitos rejeitam a teoria para não encarar a prática, raros policiais entendem o respeito, poucos policiais entendem a realidade, mas precisamos, diante disso tudo, analisar a situação do policial e não posso ser leviano em dizer que não existem situações que o agente de segurança pública não deva agir com rigor, mas infelizmente a maioria dos comportamentos policiais precisam ser revistos e analisados”.

Christian também falou sobre como isso pode ser abordado por meio de segurança pública. “A secretaria de segurança pública municipal já vem realizando palestras e abordando comportamentos sobre abordagem e isso me dá esperança de ter expectativas de dias melhores no campo da segurança pública. A sociedade presenciou essa abordagem e como ela continuou e agora eu pergunto: já imaginou quando não tínhamos os recursos de poder para registrar cenas como essas? Infelizmente é o país do futebol, eu preferia que fosse o país da educação”, enfatizou.

O caso

De acordo com o boletim de ocorrência, o funcionário do mercado contou que três pessoas entraram no comércio na Zona Sul por volta das 23h30 de domingo e levaram produtos. O rapaz indicou as roupas dos suspeitos e para onde eles teriam corrido.

Na Rua Morgado de Mateus, os PMs encontraram o homem de 32 anos com duas caixas de chocolate. De maneira informal, ele teria confessado o furto. O rapaz não teria obedecido a ordem dos policiais para que se sentasse e, segundo o registro, foi “necessário o uso da força para algemá-lo”.

Foi pedido apoio para outra viatura e, ao todo, quatro PMs usaram uma corda para amarrá-lo pelas mãos e pelos pés. Em determinado momento, ainda segundo o BO, ele disse que “se levantaria e correria” e falou, supostamente, que “pegaria a arma dos policiais e daria vários tiros” neles, como aconteceu na Zona Leste.

Ele foi levado à UPA Vila Mariana para atendimento. Uma testemunha chegou a questionar o motivo de o suspeito estar amarrado e foi levada à delegacia. Um dos policiais estava com os joelhos ralados.

Outros dois policiais contaram na delegacia que receberam imagens do furto por um grupo e fizeram patrulhamento. Eles identificaram dois suspeitos, um de 38 e outro de 15 anos de idade. A dupla estaria usando roupas parecidas com as que apareciam nas imagens.

Um dos rapazes, segundo os PMs, confessou que pegou dois cafés e os revendeu numa comunidade. O outro estava embriagado. Eles também foram levados à UPA Vila Mariana. O homem que foi amarrado foi detido por furto, crime de resistência, ameaça e corrupção de menores. O outro maior de idade foi autuado por furto e corrupção de menores.

O adolescente foi apreendido por furto e resistência. Foi verificado que ele tinha passagem por furto e se encontrava em “situação de completa vulnerabilidade social”, conforme boletim de ocorrência.

Leia mais: Deputado Deltran Dallagnol é cassado por burlar a Lei da Ficha Limpa

Por Kalinka Vallença

Revisão Textual: Vanessa Santos

Colaboração: Christian Rocha

Ilustração: Marcus Reis

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