Presidentes de 11 países da América do Sul, incluindo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), chegaram ao Palácio Itamaraty, em Brasília, na manhã desta terça-feira (30), para reunião de cúpula do continente. O convite para a reunião foi feito por Lula, que busca retomar a cooperação entre as nações vizinhas.
Participarão do encontro os presidentes:
Participam da reunião desta terça em Brasília os líderes Alberto Fernández (Argentina), Luís Arce (Bolívia), Gabriel Boric (Chile), Gustavo Petro (Colômbia), Guillermo Lasso (Equador), Irfaan Ali (Guiana), Mário Abdo Benítez (Paraguai), Chan Santokhi (Suriname), Luís Lacalle Pou (Uruguai) e Nicolás Maduro (Venezuela).
A atual presidente do Peru, Dina Boluarte, impossibilitada de comparecer por questões internas do país, será representada pelo presidente do Conselho de Ministros do país, Alberto Otárola.
O evento será dividido em duas sessões, ambas no Palácio do Itamaraty:
• Pela manhã: Os convidados serão recebidos pelo presidente Lula e, na sequência, proferirão discursos de abertura.
• Na parte da tarde: Está prevista uma conversa mais informal, em formato reduzido, em que cada presidente será acompanhado pelo respectivo chanceler e apenas um ou dois assessores.
À noite, os chefes de Estado e delegações serão recebidos por Lula e a primeira-dama, Rosângela da Silva, em um jantar no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente.
Retomada da cooperação
Segundo a embaixadora Gisela Figueiredo Padovan, secretária de América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores, as principais pautas, além da integração, envolvem questões comuns nas áreas de saúde, infraestrutura, energia, meio ambiente e combate ao crime organizado.
“A ideia é retomar o diálogo e a cooperação com países sul-americanos, identificar denominadores comuns. A região dispõe de capacidades que serão chaves no futuro da humanidade, como recursos naturais, água, minérios, área para produção de alimentos. Uma agenda concreta de cooperação pode ser iniciada imediatamente”, disse a embaixadora, durante um briefing sobre o encontro no Itamaraty.
Encontro com Maduro
Na segunda-feira (29), Lula recebeu o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, em uma reunião bilateral no Palácio do Planalto. Maduro afirmou que vai pedir, durante a reunião, que os líderes dos países da América do Sul reforcem aos Estados Unidos a solicitação para retirada das sanções econômicas contra o país caribenho.
“Com relação à reunião de amanhã, nós, em todas as reuniões, em todos esses fóruns, buscamos trazer luz à verdade, à realidade dos nossos países”, disse Maduro.
“Nós temos levado a proposta de que, como região, os governos solicitem aos Estados Unidos da América a suspensão de todas as sanções e todas as medidas coercitivas contra a Venezuela e contra os países que sofrem esse tipo de sanção em nossa América”, afirmou.
O presidente Lula não se manifestou diretamente sobre o pedido, durante entrevista à imprensa, após reunião bilateral com Maduro, mas criticou as sanções. “É inexplicável um país ter 900 sanções, porque outro país não gosta dele”, afirmou o presidente.
“Acho que está nas suas mãos, companheiro [Maduro], construir a sua narrativa e virar esse jogo para a Venezuela voltar a ser um povo soberano, onde somente seu povo, através de votação livre, diga quem vai governar o país”, disse Lula. “E nossos adversários vão ter que pedir desculpas pelo estrago que eles fizeram na Venezuela”, concluiu.
Dívida com o Brasil
Depois de um almoço oferecido por Lula, no Palácio do Itamaraty, Maduro e Lula foram questionados por jornalistas sobre a dívida venezuelana com o Brasil. Segundo o Ministério da Indústria e Comércio, os débitos do país vizinho somam US$ 1,268 bi.
Lula afirmou não saber e questionou Maduro: “Você sabe qual é o tamanho da dívida [da Venezuela com o Brasil]?”. O presidente venezuelano afirmou que uma comissão bilateral “vai estabelecer a verdade” sobre o tema.
“Vai ser estabelecida uma comissão para estabelecer esse tamanho [da dívida] e retomar os pagamentos”, respondeu o presidente venezuelano.
Indagado novamente se não havia um valor da dívida, Maduro disse: “A comissão vai estabelecer a verdade [sobre o total da dívida]”. E complementou que analisariam a retomada dos pagamentos.
Fala de especialista
O professor Helso Ribeiro comentou sobre a vinda e o encontro dos 11 países, contando com o Brasil. “Bem eu diria que a situação é um pouco complexa. Boa parte dos brasileiros entende que a boa relação diplomática deveria se restringir a países da Europa, alguns da Ásia, Japão, Nova Zelândia, Austrália e Estados Unidos. Agora é o tal negócio, se você pegar dentre os países que tem uma indústria possante, na América, no continente americano, você vai observar que o Brasil é o segundo logo, claro, após os Estados Unidos, né? Então seria interessante nós mantermos a melhor relação possível com os nossos vizinhos”, pontou.
“O Brasil é cercado de países da América do Sul, só não faz fronteira com Chile e com Equador e é extremamente interessante que nós possamos ter a excelente relação com esses países. Ah! A própria constituição brasileira lá no artigo quarto, no parágrafo único, já determina isso, que nós deveríamos formar uma espécie de comunidade latino-americana de nações, né? Então, ah, eu penso que ninguém quer, por exemplo, que a casa do seu vizinho incendeie, porque isso pode chegar até você, até a sua casa. “, continuou
Além disso, o professor observou e falou sobre o Brasil manter um bom relacionamento com os demais países. “Então, o Brasil como a maior economia da América do Sul, eu penso [que] não importa qual presidente, é uma questão até de estado, deveria priorizar políticas de cooperação. É bom lembrar que, quanto melhor estiverem os nossos vizinhos, melhor economicamente, né? Mais produtos eles comprarão nossos e somos nós quem possuímos na verdade a grande indústria, né, eu diria que alguns como Chile, Argentina, Uruguai, atualmente a Colômbia tem dado exemplos exitosos que podia até seguir”, enfatizou
“Quando eu falo a Argentina, Chile e Uruguai, me refiro à questão da educação, por exemplo, né? É claro que a Argentina, nesse momento, está passando por uma dificuldade econômica, né? Mas a educação lá é infinitamente na nossa frente, né? Eu diria que, quanto mais fizermos acordos com os vizinhos, mais alvissareira será a nossa relação econômica. Com um detalhe, temos dezenas de cidades conturbadas, né? A conturbação é aquele fenômeno que são cidades que nem Tabatinga e Letícia, né? Não é nem separadas juntas pela mesma rua inclusive, né? Então eu diria que esta boa vizinhança pode gerar frutos bem interessantes”, destacou Helso
O especialista também observou sobre a vinda de Maduro ao Brasil, além de comentar sobre as diversas críticas em torno do encontro com o presidente Lula. “Eu tenho visto muitas críticas a vinda do presidente Maduro aqui. A Venezuela está passando por um momento – eu diria que – dificílimo da economia, né? Nós conseguimos ver centenas de milhares de venezuelanos atravessando a fronteira por conta de condições e quase que impossíveis de viver lá. Como a gente vai querer resolver sem conversar? Então, eu acho que é sempre bom conversar com não importa qual líder de país diferente, se nós acharmos que a democracia deles não é boa, a nossa um dia também foi péssimo, né? Época da Ditadura Militar, bom lembrar que eram torturas, desaparecimentos. Imagina se o mundo fosse fechar as portas? Para a gente, né? Então, eu diria que mesmo os países que não são exemplos de democracia, a gente deve conversar como sempre conversamos”, finalizou
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Por Kalinka Vallença
Revisão Textual: Vanessa Souza
Colaboração: Helso Ribeiro
Foto: Divulgação / Ilustração: Marcus Reis
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