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domingo, novembro 24, 2024

Mulher denuncia violência obstétrica sofrida em hospital de Nova Olinda do Norte; relato é impactante

Órgãos do município foram consultados para saber quais assistências estão sendo dadas à denunciante, bem como quais procedimentos foram adotados a respeito desta situação específica de suposta violência obstétrica sofrida dentro do Hospital Dr. Galo Manuel Penaranda Ibanez, porém, não houve retorno das informações

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Uma denúncia encaminhada ao Portal O Convergente mostra mais uma vez um caso de uma possível negligência ocorrido dentro do Hospital Dr. Galo Manuel Penaranda Ibanez, no município de Nova Olinda do Norte, interior do Amazonas. Desta vez, uma mãe de 20 anos, que preferiu não se identificar, relatou a violência obstétrica sofrida no início do mês de maio.

De acordo com a denunciante, ela deu entrada na unidade no dia 5 de maio, pela manhã, a princípio estava sendo bem atendida, todos os enfermeiros estavam a atendendo conforme manda o protocolo hospitalar.

“Eu dei entrada no hospital às 6h da manhã de sexta-feira, com dor. Eu cheguei dilatando 2 cm e no turno da manhã as enfermeiras foram super atenciosas e ficaram a todo o momento do meu lado e quando foi no turno da noite, houve a troca [de plantão], e a dor foi aumentando. Eu já estava dilatando e estava quase em trabalho de parto e fiquei fazendo caminhadas e agachamentos para ajudar”, comentou a denunciante ao O Convergente.

Já pela noite, após a virada do plantão, a mãe relatou que começaram as práticas abusivas por parte do técnico que a estava atendendo. Ela também afirma que não havia a presença de uma enfermeira responsável, na ocasião.

“Quando foi por volta das 21h30, quase perto de entrar para a sala de parto, o técnico me chamou para fazer o toque, para avaliar como eu estava. Ele fez duas vezes o toque em mim, só que ele fez isso de forma agressiva, porque ele não tinha paciência, ele mandava eu não fechar a perna e eu não podia falar nada que ele já ficava com raiva e chateado. A área já estava muito sensível e ele queria m** o dedo na marra, à força, quando ia aplicar medicamento em mim era na marra, se era para tirar agulha ele não tinha pena, tirava na marra também, dizia que era o trabalho dele e não podia fazer nada em relação a isso”, disse.

A denunciante também relatou que mesmo com 9 centímetros de dilatação o toque continuou sendo realizado, o que chegou a incomodá-la e causar bastante dor. Além disso, ela relata que o técnico começou a falar alto e gritar com ela.

“Eu estava com 9 de dilatação, ele dizendo que eu já estava em trabalho de parto, ele mandou eu andar e eu fui sentindo muita dor, estava quase chorando então eu andei e fiz os agachamentos, mas aí não deu nem trinta minutos e ele já me chamou para a sala de parto, aí eu me assustei lógico, não estava preparada e fiquei com medo, pois ele falava alto e gritando, mas me sentei na mesa e tive que fazer força, sem poder gritar e ele enfiava o dedo dele dentro de mim e ele não se incomodava se doía ou não e ele fazia tudo sozinho”.

Por fim, a denunciante disse que teve que fazer muita força e ainda continuava a sofrer pressões e abusos para dar à luz. “Ele enfiava o dedo e passava por dentro, aquilo estava incomodando e eu pedia ‘por favor, deixa eu respirar um pouco’ e ele revirava o olho para cima. Depois disso ele estourou a minha bolsa e a dor veio um pouco mais forte, e quando eu consegui ter minha filha e ele foi fazer a limpeza ele continuou novamente enfiando dedo sem comunicar e gritou comigo e só parou quando a enfermeira veio até a sala, porque ela não assistiu o meu parto ficou na recepção conversando”.

Por conta de todo o ocorrido, a denunciante teve que ser transferida para o Instituto da Mulher Dona Lindu, em Manaus, onde realizou exames no Instituto Médico Legal (IML), que constataram graves lesões ginecológicas na parturiente.

Ouça o relato na íntegra:

Denúncia

O caso foi denunciado à Polícia Civil do município e está sendo levado ao Ministério Público do Amazonas (MPAM). Além disso, a Defensoria Pública do Amazonas (DPE-AM) também foi acionada e decidiu recomendar o afastamento do técnico de enfermagem, após identificar que na denúncia feita ao órgão, havia uma série de irregularidades na prestação de serviço público para mulheres grávidas, como agressões físicas e psicológicas, comportamentos inadequados e a retenção de documentos da paciente e do recém-nascido.

A defensora pública Suelen Paes, coordenadora do Comitê Estadual de Enfrentamento à Violência Obstétrica, conta que a assistida sofreu violência obstétrica, psicológica e de outras ordens. “O técnico de enfermagem realizou procedimentos inadequados, inclusive ao acompanhar o parto, tendo em vista que esses profissionais não possuem a capacitação para isso”, explicou.

A DPE também instaurou um procedimento investigativo contra a equipe de saúde que estava de plantão no dia do ocorrido, e contra a direção do hospital por omissão no atendimento da parturiente. Além de pedir, ainda, uma ação indenizatória em favor da denunciante, por conta das violências sofridas em Nova Olinda do Norte.

Mais denúncias

Esta não é a primeira vez que O Convergente recebe denúncias vindas do município quanto ao atendimento prestado no Hospital Dr. Galo Manuel Penaranda Ibanez, dentre umas das denúncias, consta a de uma mulher que trabalhava dentro da unidade, e que foi realizar um exame de ultrassom para identificar se tinha cálculo renal (pedras nos rins), na ocasião, o médico que a consultava começou a falar palavras inapropriadas à paciente. Em seguida, ele a fez fazer um exame ginecológico não solicitado, uma transvaginal, momento este em que ele se aproveitou para cometer o suposto abuso.

O caso também foi denunciado a vários órgãos, sendo estes: a Polícia Civil; MP; o Conselhos Regional de Medicina do Amazonas (CREMAM); para o Serviço Social (CRESS-AM), pelo fato de a vítima ser assistente social; e no Instituto dos Profissionais da Área de Saúde Ltda. (Inpas), que segundo a denunciante, o médico é cooperador do instituto, que está localizado em Manaus, e amplamente divulgado pela imprensa do estado.

Retorno

O Portal O Convergente procurou tanto a Prefeitura de Nova Olinda do Norte quanto à Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM) para saber quais tipos de assistências estão sendo prestadas à vítima, mas até a publicação desta matéria não houve retorno das informações. O espaço segue aberto para esclarecimentos futuros e direitos de resposta.

Leia mais: Pais de alunos PCDs cobram retorno das aulas em instituição de Nova Olinda do Norte

 

Por Edilânea Souza

Fotos: Divulgação / Ilustração: Marcus Reis

Revisão textual: Érica Moraes

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