A 29ª edição da “Marcha para Jesus” promete reunir mais de 600 mil fiéis nas ruas da capital amazonense, no dia 10 de junho. Com o apoio da Prefeitura de Manaus, o tema deste ano será “Deixo-vos a paz, a minha Paz vos dou”, baseado em João, capítulo 14, versículo 27.
A caminhada é organizada por cinco mil igrejas evangélicas agregadas a Ordem dos Ministros Evangélicos do Amazonas (Omeam), que após dois anos de encontros virtuais por causa da pandemia, voltou a ser presencial no ano passado.
De acordo com a Omeam, a expectativa é de reunir mais de 600 mil pessoas durante todo o percurso do evento, que contará com o apoio de dez trios elétricos. O horário de concentração previsto é às 14h, na praça da Saudade, na rua Ferreira Pena, Centro. A partir das 15h, começa a caminhada e segue até o Centro de Convenções Gilberto Mestrinho, o sambódromo, na Zona Centro-Oeste. O evento será marcado por louvores, orações e um grande clamor em prol da nação brasileira.
A cantora Aline Barros é a grande atração da 29ª edição da “Marcha para Jesus”. Em sua participação, Aline gravará, pela primeira vez, na capital amazonense, seu DVD, celebrando 30 anos de ministério. Será um momento histórico para os participantes da Marcha em 2023.
A “Marcha para Jesus”, realizada desde 1994, é um dos grandes eventos a céu aberto do mundo, sendo uma iniciativa pacífica, que reúne igrejas evangélicas de Manaus em prol da união pela fé cristã, com a participação de toda a população manauara.
“Eu me sinto orgulhoso por nossa geração conseguir estabelecer a ‘Marcha para Jesus’, em Manaus. Lembro do início, quando eu e os pastores Valter de Nazaré e Eriveuto Paiva segurávamos a corda em volta do trio. Hoje em dia, quem faz a segurança é o Corpo de Bombeiros do Estado do Amazonas. Sentimos muito orgulho de termos o apoio da Prefeitura de Manaus e do governo do Amazonas”, destacou o presidente da Omeam, Valdiberto Rocha.
Última edição
A 28ª Edição da Marcha para Jesus realizada pela Ordem dos Ministros Evangélicos do Amazonas (Omeam), no último sábado, 28/5, no Centro de Convenções de Manaus, no Sambódromo, dividiu opiniões entre os cristãos que foram participar do evento por conta da presença de diversas autoridades políticas, entre elas o ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL).
Para muitos fiéis, a presença de políticos e principalmente do ex-presidente tanto no palanque, quanto no trajeto da Marcha, não deveria ter ocorrido por misturar política a um evento que por tradição é destinado a adoração a Jesus e que também mostra a fé de cada participante, que em muitos casos vão com um propósito definido, seja para a vida convencional ou espiritual. Já outros, consideraram importante a presença do ex-chefe da nação na Marcha.
Contrária – Uma das participantes que acompanhou a versão passada do evento, desde a Praça da Saudade, no Centro de Manaus, onde ocorreu a concentração da Marcha, foi a comerciante Daniele Brasão, de 22 na época, que considerou como péssima a iniciativa de colocar diversos políticos, incluindo Bolsonaro, nos trios elétricos que faziam parte do evento, bem como no palco, já no sambódromo.
“Eu acho muito ruim, porque eu acho que a gente não pode misturar as coisas de Deus com coisa política, na minha opinião. Só que como nós somos evangélicos, nós temos que nos reunir para mostrar algo melhor e lutar para vir coisas melhores para o nosso futuro”, enfatizou a comerciante.
A favor – Já a autônoma Bianca Silva, com 23 na época, que também concedeu uma declaração sobre a 28ª edição, afirmou que estava na expectativa pelo evento e disse que a presença de Bolsonaro foi importante para a Marcha para Jesus.
“Eu achei muito legal que ele [Bolsonaro] está presente agora apoiando a Marcha”, disse Bianca informando na época que ainda não sabia em quem iria votar, mas ressaltou que quer mudança no país, principalmente quanto ao reajuste dos preços em geral.
Uso político – O Portal O Convergente também conversou no ano da edição do evento, com o advogado e cientista político, Helso Ribeiro, sobre essa movimentação política em meio às igrejas e aos fiéis, no período eleitoral. Para Ribeiro, a Marcha, que já ultrapassa décadas, deixa claro o uso político, pois não só o ex-presidente participou do ato, mas como também pré-candidatos a cargos estaduais e federais (deputado e senador) e vereadores eleitos. Por outro lado, o cientista declarou também que mesmo com essas presenças de perfis políticos, acreditava que o público não iria se deixar influenciar só porque tinha um político naquele evento.
“Você observa que a Marcha pra Jesus é um movimento que já tem alguns anos, acho que mais de dez anos em comunidades protestantes. Muitos anos, e é claro, que há uma utilização política dele. A gente viu em palanques candidatos a deputado federal, estadual, governador, prefeito, presidente e a senador. Então as pessoas utilizam isso politicamente. Eu entendo que a grande maioria, eu digo a grande maioria, não vai votar porque estava lá o presidente, o governador, o prefeito, o deputado. Não! Vai votar de acordo com as suas convicções”, enfatizou o cientista.
Lado a lado – Outro analista político ouvido pelo O Convergente, a respeito do envolvimento político em evento religioso foi o advogado e sociólogo Carlos Santiago, que vê a medida como preocupante, uma vez que está ficando cada vez mais claro a influência da religião em tomadas de decisões políticas dos governos em todo o país.
“Religião e política sempre andaram juntas, inclusive o Brasil já teve uma religião oficial. Com a república, houve um distanciamento entre religião e estado. Agora, no atual contexto do país, há toda uma movimentação de denominações religiosas para pautar agenda de estado, agenda de políticas públicas. A Marcha para Jesus demonstra de forma clara, que a religião está influenciando nas tomadas de decisões dos governos e nas linhas de atuações do estado, inclusive para chegar ao Supremo Tribunal Federal (STF), hoje, o postulante tem que se declarar evangélico. Misturar religião, com política é perigoso, é preocupante, mesmo sabendo que o Brasil vive a liberdade religiosa, a liberdade de expressão. Mas as decisões políticas públicas, as decisões de estado têm que amparar todos, aqueles que têm religião e aqueles qu e não têm”, salientou.
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Por July Barbosa com informações Redação Convergente
Revisão textual: Érica Moraes
Fotos: Divulgação / Ilustração: Marcus Reis