O presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, mesma legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro, concedeu entrevista à CNN na manhã desta sexta-feira, 27/1, e falou sobre diversos temas, desde as eleições do ano passado, da minuta encontrada na casa do ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres, e dos atos de vandalismo praticados no dia 8 de janeiro.
Além disso, o presidente do PL também falou de uma futura campanha eleitoral em torno do nome da ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, além de se mostrar aberto para apoiar projetos do novo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Porém, ele afirmou que não pretende conversar com Lula e que sua obrigação é fiscalizar o Governo Federal.
Na entrevista, Costa Neto também falou sobre as eleições para o Senado Federal, em que o PL vai compor com o Republicanos e o PP, para lançar a partir deste sábado, 28/1, o nome do senador Rogério Marinho (PL) na disputa.
Despreparado para derrota – Durante a entrevista, Costa Neto chegou a dizer que Bolsonaro não estava preparado para perder as eleições e que pensou que o ex-presidente ia morrer, pois ele não estava bem ao término do pleito que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Bolsonaro não estava preparado para a derrota. Ele foi derrotado, ele não estava preparado, aquilo foi um baque. Depois de uma semana eu ia ver ele quase todo o dia, ele me chamava lá, o pessoal me pedia para ir lá, eu achei que o Bolsonaro ia até morrer. Depois de três semanas ele melhorou”, disse Valdemar, pontuando que não conversou com Bolsonaro sobre a possível derrota e que isso pode ter sido um erro dele, em não ter preparado o “espírito” de Bolsonaro para a derrota.
Ainda na entrevista, Costa Neto falou que não acredita que Bolsonaro se torne inelegível e falou que ele ainda será eleito, e que neste momento não se reelegeu pelos erros cometidos no início do mandato, quando ainda estava sozinho, culpando os militares de terem atrapalhado o ex-presidente, principalmente na condução com a imprensa, em erros cometidos da pandemia da Covid-19, entre outras ações.
Candidatura de Michelle Bolsonaro – Sobre a possível candidatura de Michelle Bolsonaro, Costa Neto disse que se Bolsonaro não for candidato, o nome da ex-primeira-dama pode entrar na disputa, para fortalecer também a ala das mulheres do PL.
“Se Bolsonaro não quiser ser candidato, nós temos a Michelle. Ela se revelou no lançamento do Bolsonaro, lá no Maracanã, ela se revelou. Foi uma surpresa para todos nós. O Bolsonaro se for candidato será um fortíssimo candidato, e se ele não for candidato, ele será mais forte ainda, porque esse movimento de direita veio para ficar. Então se tiver um outro candidato com o Bolsonaro apoiando, ele não traz a rejeição dele, que ele passou para o Lula, porque o ‘camarada’ não quis votar nele porque não gosta do Bolsonaro, votou no Lula, não tinha outra opção”, disse Costa Neto sobre possíveis candidaturas em 2026, acrescentando que quer a filiação de Michele Bolsonaro no PL.
“Queremos acertar a entrada dela no PL Mulher, porque ela vai fazer palestras em todo o Brasil para trazer mulheres para o partido. Nós precisamos das mulheres nos partidos, porque as mulheres são melhores que os homens. Com a Michelle comandando o PL Mulheres Nacional, você pode esperar, que tanta gente boa vai entrar para o partido”, acrescentou Costa Neto.
‘Minuta do golpe’ – Quanto à minuta que ficou conhecida como “minuta do golpe”, o presidente da legenda ponderou e disse que por muitas vezes ele e pessoas ligadas à Bolsonaro recebiam documentos similares, mas os descartavam. Mas descartou saber que Anderson Torres mantinha o documento em sua casa.
“Isso é um negócio que corria dentro do governo, o pessoal comentando: ‘olha recebi uma proposta aqui’. Eu recebia e moía. O [ex-ministro] Anderson [Torres] não fez isso. Não quero aqui defendê-lo [Torres], mas deve ter acontecido isso [receber de popular]. Muita gente poderia ter isso em qualquer lugar”, ponderou Valdemar citando inclusive um episódio particular ocorrido em um aeroporto quando recebeu um documento lacrado de uma advogada.
“Teve uma advogada, por exemplo, que chegou em mim em um aeroporto e disse assim: ‘eu sou advogada e queria entregar isso para o senhor’. Me entregou o envelope fechado. Quando eu cheguei, era uma proposta para derrubar o governo. Tudo isso aconteceu depois do segundo turno, antes da posse do Lula”, disse.
Questionado se Bolsonaro considerou aplicar um “golpe de estado”, Valdemar Costa Neto disse que isso nunca foi levado em consideração e que ele “não fez nada fora da lei”.
“Nunca o Bolsonaro tocou nesse assunto comigo. Eu uma vez toquei com ele, falei: Bolsonaro tudo tem que ser feito dentro da lei, porque tudo que você fizer que não atenda a lei, o que vai acontecer? Vamos ter todos os países contra nós, a nossa economia vai para o espaço e o governo junto. Ele falou: ‘não, esquece, eu não vou fazer nada fora da lei’, respondeu o presidente do PL.
Conversa com Lula – Sobre conversar com o presidente Lula, o presidente do PL disse que vai discutir o que for de interesse público e que não fará uma oposição tão radical a ponto de atrapalhar o país e que neste momento ele não vai conversar com o presidente Lula, pontuando que os direitistas podem “matá-lo”. Além de dizer que os parlamentares devem conseguir verbas para os municípios sem cargos no atual governo.
“O que for de interesse público, o que for bom para o país nós vamos votar a favor. Nós não queremos fazer uma oposição radical”, disse. “Mesmo os radicais também não querem que o país vá mal”, declarou Costa Neto.
Costa Neto acrescentou que irá dar trabalho ao governo Lula e ainda criticou a nova gestão, dizendo que o presidente está mais “raivoso”, atacando outras pessoas, e que deveria esquecer do passado e “tocar o país para frente”.
“A nossa maior obrigação do PL é fiscalizar o governo federal. O que for de interesse do país, que eles [governo Lula] apresentarem nós votaremos a favor“, complementando: “Nós vamos dar trabalho para o Lula.”
Ele ainda disse que o presidente está mais “raivoso”, atacando outras pessoas, e que deveria esquecer do passado e “tocar o país para frente”.
Manifestações – Questionado sobre os atos de vandalismo ocorridos em 8 de janeiro, em Brasília, Costa Neto disse que nem todos que estavam ali eram vândalos. “O pessoal que estava aqui, 99% do pessoal que estava aqui aquele dia, no 8 de janeiro, eram famílias, eram gente de bem”, disse Costa Neto.
Valdemar também comentou sobre os acampamentos em frente aos quarteis do exército. “Quem estava aqui em frente ao exército, quem estava em São Paulo em frente ao exército, a maioria era composta de famílias. Os eleitores do Bolsonaro, você via esse pessoal nesses acampamentos, você via pai, filho, criança”, afirmou
Eleição no Senado – Sobre a eleição para a presidência do Senado, Costa Neto disse que o senador Roberto Marinho vai vencer a eleição, por meio da aliança formada entre o PL, Republicanos e PP. Costa Neto também criticou a atual gestão do senador Rodrigo Pacheco (PSD), afirmando que ele não defende os parlamentares.
“O Rogério Marinho vai ganhar essa eleição do Rodrigo [Pacheco], porque o Rogério reúne as melhores condições para tocar o Congresso Nacional. Eu não posso falar mal do Rodrigo, que é um ‘camarada’ educado, elegante, mas ele não defende os parlamentares”, disse Costa Neto afirmando que vão ter outras adesões à campanha de Rogério Marinho até o dia das eleições.
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Por Edilânea Souza
Foto: Divulgação / Ilustração: Marcus Reis