O ano político de 2022 no Brasil foi marcado por polêmicas e polarizações em torno do governo do atual presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), que deixa à Presidência da República neste sábado, 31/12. Escândalos de corrupção no Ministério da Educação (MEC); corte e bloqueios na educação, decretos para reduzir a competitividade da Zona Franca de Manaus (ZFM), e falas desproporcionais durante a campanha eleitoral sobre adolescentes venezuelanas de Brasília, foram algumas das intempéries do governo de Bolsonaro neste ano.
O escândalo de favorecimento no MEC foi um dos maiores no governo Bolsonaro, em que o ex-ministro e pastor, Milton Ribeiro, à época, foi acusado de receber propinas para realizar repasses a outros estados com maior facilidade que o que as normas do MEC instituem, usando de sua influência junto aos também pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, que, segundo as apurações após a obtenção de áudios trocados entre eles, eram interlocutores das prefeituras que vinham recebendo os recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Na ocasião das denúncias, o presidente chegou a falar que o ex-ministro não estaria envolvido nessas transações, mesmo Milton Ribeiro falando que isso era um “pedido especial do presidente”.
“O Milton, eu boto minha cara no fogo por ele. Estão fazendo uma covardia. A Polícia Federal, ontem eu pedi para abrir o procedimento para investigar o caso também. Tem gente que fica buzinando: ‘Manda o Milton embora que a gente tem alguém pra indicar aqui’. Duvido botar para o público o nome, não faz isso porque se der errado a culpa é minha”, declarou o presidente na época em que o caso veio à tona na imprensa.
O escândalo levou o Senado Federal a iniciar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar todas as denúncias em torno dos possíveis desvios de verba da educação e das propinas pela facilitação do uso dos recursos do FNDE. O ex-ministro ainda chegou a ser preso por carregar em sua bagagem uma arma de fogo e a mesma disparar no aeroporto de Brasília.
Já Bolsonaro, foi “livrado” pela Advocacia-Geral da União (AGU), que arquivou o processo que investigava a possível participação do presidente no esquema de corrupção do MEC.
Violência política – Mas sem dúvida, as eleições deste ano foram um dos temas mais polarizados. Muitos conflitos entre petistas e bolsonaristas ocorreram em todo o Brasil, saindo do campo político para o da violência e o da intolerância, como no caso do policial Penal Federal Jorge José da Rocha Guaranho, que invadiu a festa do guarda municipal e tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT),em Foz do Iguaçu, Marcelo Aloizio de Arruda, de 50 anos, e o matou a tiros durante a festa de aniversário do tesoureiro, em frente à família e convidados.
Outros casos de violência também ocorreram em todo o Brasil. No Ceará, um homem chegou em um bar questionando quem era a favor da eleição de Lula e matou a facadas um cliente do local. O delito ocorreu em setembro, antes das eleições.
Campanha eleitoral – A campanha eleitoral de Bolsonaro foi permeada por escândalos vindos também de seus principais apoiadores, como o do ex-presidente do Partido do Trabalhador do Brasil (PTB). Há 15 dias das eleições em segundo turno, Roberto Jefferson atirou contra agentes da Polícia Federal que cumpriam mandado de prisão expedido pelo Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Na ocasião, uma agente ficou ferida, Jefferson se recusa a se entregar e foi “convencido” pelo candidato à Presidência de seu partido a se entregar à polícia, o padre Kelmon.
Outra polêmica que envolveu apoiadores do alto escalão de Bolsonaro, ocorreu com a deputada federal por São Paulo, Carla Zambelli (PL-SP), em que ela e seu segurança perseguiram um eleitor do PT, em São Paulo. Zambelli portava uma pistola na ocasião e encurralou o homem.
Por este episódio, o ministro Gilmar Mendes, do STF, determinou neste mês de dezembro, a suspensão da autorização de porte de arma da deputada e deu um prazo para que a mesma entregasse a arma voluntariamente em 48 horas a partir da publicação da decisão, dada no último dia 20/12, caso contrário deveria ser expedido um mandado de busca e apreensão de sua pistola e munições.
Os debates eleitorais televisivos também foram o ponto alto na corrida eleitoral, porém Bolsonaro não aproveitou os espaços e saiu no contra-ataque ao seu principal adversário, Lula. Poucas vezes o presidente falou de propostas reais para melhorar o meio ambiente, a economia e a educação no país.
Outro ponto negativo para Bolsonaro durante a campanha eleitoral foi quando ele citou em uma entrevista a um podcast que havia “pintado um clima”, com meninas venezuelanas da periferia do Distrito Federal. Bolsonaro ainda tentou evitar o desgaste de sua imagem, utilizando a primeira-dama Michelle Bolsonaro para desmentir a situação, mas isso pesou contra ele nacionalmente e principalmente nos debates. Seus opositores usaram a fala para afirmar que o presidente era “pedófilo”.
Eleições – Os dois dias das eleições, em primeiro e em segundo turnos, também foram agitados. No segundo turno, barreiras da Polícia Rodoviária Federal (PRF) foram montadas para tentar “conter” a votação no Nordeste do Brasil, em que a grande maioria era eleitor de Lula, e tentar impedir a locomoção do eleitor no dia do pleito. O ex-diretor do órgão, Silvinei Vasques, é investigado pela Polícia Federal, por estes atos.
Bolsonaro foi vencido por Lula nos dois turnos. No primeiro turno, Lula obteve 57.259.504 milhões de votos (48,43%) e Bolsonaro ficou com 51.072.345 milhões de votos. Já no segundo turno, Lula ficou com 48,43%, obtendo 57.259.504 milhões de votos contra 51.072.345 milhões de votos (43,20%) de Bolsonaro.
Manifestação e acampamentos – Após os resultados finais do segundo turno, uma onda de manifestações ocorreram em todo o Brasil, orquestradas por bolsonaristas, que não aceitaram a derrota do atual chefe da nação. Começaram pelos caminhoneiros interditando diversas rodovias e seguiu com demais apoiadores que seguem em frente aos quartéis do Exército Brasileiro em todo o país, até os dias atuais.
As manifestações, consideradas antidemocráticas, causaram prejuízos em todo o Brasil, o que resultou em atos considerados terroristas por parte de bolsonaristas, principalmente em Brasília, que sofreu com ataques no último dia 12 de dezembro, com a prisão do indígena José Acácio Serere Xavante, após decisão do STF.
Muitos manifestantes tentaram invadir a sede da PF e por não conseguirem começaram a depredação de ônibus do transporte público e incendiaram carros particulares no entorno da sede. Desde então, Brasília vem passando por dias tumultuados, como ameaças de bomba na capital federal.
No último dia 24, um empresário bolsonarista foi preso por orquestrar um atentado terrorista próximo ao Aeroporto Internacional de Brasília. George Washington de Oliveira Sousa, 54 anos, também foi colaborador na campanha de Bolsonaro, fazendo uma doação simbólica no valor de R$ 22,22. Ele está preso e delatou mais comparsas envolvidos nos ataques terroristas.
Na quinta-feira, 29/12, uma nova ameaça de bomba foi denunciada à Polícia Militar do DF, só que desta vez, uma mala foi abandonada em um prédio da área nobre da capital federal. Também na quinta-feira, a Polícia Federal realizou operação para prender envolvidos nos atos terroristas no DF e nos estados de Rondônia, Pará, Mato Grosso, Tocantins, Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro.
As manifestações antidemocráticas também ocorrem em Manaus, em frente ao Comando Militar da Amazônia (CMA), na zona Oeste da cidade. A movimentação sofreu intervenção da Justiça Federal, por meio da juíza federal, Jaiza Fraxe, no mês de novembro, uma vez que o CMA, não tentou impedir o avanço das pessoas no local, o que estava prejudicando moradores do entorno, por conta do barulho e do fluxo do trânsito no lugar.
Última live – Na manhã dessa sexta-feira, 30/12, o presidente Jair Bolsonaro (PL), em possível última live, antes de deixar a Presidência, quebrou o silêncio de dois meses após o término das eleições, no último dia 30 de outubro, e se manifestou sobre diversos assuntos. Na live, o presidente disse que “o mundo não vai acabar em 1º de janeiro”, criticou os atos terroristas em Brasília, o novo governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com relação a questão dos impostos sobre combustíveis.
Bolsonaro também criticou a imprensa por atrelar a ele os atos terroristas na capital federal e as manifestações que estão sendo realizadas em frente a quartéis em todo o Brasil, desde o resultado do segundo turno das eleições. Ele apontou que sofreu uma série de fake news durante a campanha e ainda criticou o sistema das urnas, sobre liberdade de expressão e também apresentou um balanço de seu governo ao longo destes quatro anos.
“Hoje em dia, se alguém comete um erro é bolsonarista. Nada justifica, aqui em Brasília, essa tentativa de ato terrorista na região do aeroporto. O elemento que foi pego, graças a Deus, que não coaduna com nenhuma situação, mas o classificam como bolsonarista. É o modo de tratar”, disse Bolsonaro.
Ao criticar o atual governo que será empossado no dia 1º de janeiro, Bolsonaro disse que já começa de uma forma “capenga”. “É um governo que começa capenga”, disse Bolsonaro sobre a gestão petista que se inicia neste domingo.
O atual mandatário da nação brasileira também chegou a dizer que o mundo não vai se acabar no dia da posse de Lula, no domingo, 1º de janeiro, e que nada está perdido . “Não tem tudo ou nada. Inteligência. Vamos mostrar que somos diferentes. Nada está perdido”, disse Bolsonaro durante a live.
“O Brasil não sucumbirá, acreditem em vocês”, acrescentou.
Quase ao término da transmissão, Bolsonaro se emocionou, ficou com a voz embargada e chegou a chorar. Ele terminou a live dizendo que acredita no Brasil e que foi difícil se manter calado durante dois meses.
“Como foi difícil ficar calado e trabalhando para buscar alternativas. Qualquer coisa que eu falasse seria um escândalo, eu calado sou atacado. Agora, eu acredito em vocês, acredito no Brasil, e acima de tudo acredito em Deus. Temos um grande futuro pela frente. Perde-se batalhas, mas não perderemos a guerra”, finalizou Bolsonaro agradecendo aos brasileiros que o apoiaram nestes quatro anos de gestão.
Entrega da faixa – É provável que o presidente Bolsonaro não faça a entrega da faixa presidencial durante a posse de Lula, no dia 1º de janeiro. As informações são de que Bolsonaro passe a virada do ano em um resort do ex-presidente americano, Donald Trump.
Bolsonaro também não reconheceu publicamente a vitória de Lula nas eleições deste ano, e nem o parabenizou pela conquista.
Posse de Lula – A posse de Lula ocorrerá neste domingo, 1º de janeiro de 2023, e contará com diversas atrações musicais, exposição e por fim a realização da assinatura do termo de posse, após a subida da rampa do Palácio do Planalto. Confira a programação prevista para ocorrer no “Festival do Futuro”:
- 13h45 às 14h30: Chegada dos chefes de Estado e de Governo – Anexo 1 do Senado Federal;
- 13h30 às 14h30: Chegada das autoridades e convidados – Salão Branco do Congresso Nacional;
- 14h20 às 14h30: Chegada do presidente e do vice-presidente eleitos – Catedral Metropolitana de Brasília;
- 14h30: Saída do cortejo da Catedral Metropolitana rumo ao Congresso Nacional;
- 14h40: Chegada do presidente e do vice-presidente eleitos ao Congresso Nacional com receptivo dos presidente do Congresso Nacional e da Câmara dos Deputados;
- 15h: Sessão solene da Posse Presidencial: Abertura; Execução do hino nacional; compromisso constitucional; leitura e assinatura do termo de posse; pronunciamento do presidente da República; pronunciamento do presidente do Congresso Nacional; e encerramento;
- 15h50: Deslocamento do presidente e do vice-presidente para a sala de audiências da Presidência do Senado Federal;
- 16h: Saída do presidente e do vice-presidente da sala de audiências em direção à área externa do Palácio;
- 16h05: Início da cerimônia externa de honras militares;
- 16h20: Saída do presidente e do vice-presidente para o Palácio do Planalto.
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Da Redação
Fotos: Divulgação / Ilustração: Marcus Reis