O Ministério da Saúde pode ser comandada pela presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade, atual favorita entre os postulantes à vaga. Caso Nísia seja nomeada ministra da pasta, será a primeira vez na história do Brasil que o MS será comandado por uma mulher.
Um dos maiores orçamentos da União e uma óbvia prioridade de qualquer governo — ou ao menos deveria ser —, o Ministério da Saúde chega ao fim de 2022 combalido pela crise profunda que atingiu a pasta em meio à travessia de um dos momentos mais turbulentos da vida brasileira. Além da marca trágica de quase 695 000 mortes, a pandemia deixou por aqui um rastro de equívocos, omissões, má gestão e descaso com uma área vital para a população — basta dizer que a pasta teve quatro ministros nos tristes tempos de Covid-19, incluindo um general (Eduardo Pazuello) e um médico que ficou só um mês no cargo (Nelson Teich).
Se ministra, Nísia Trindade entrará em 2023 com um rosário de problemas, como a redução do orçamento, a falta de planejamento, um passivo gigante de pacientes à espera de atendimento na rede e uma pane de gestão.
Nísia Trindade é doutora em Sociologia (1997), mestra em Ciência Política (1989), pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj – atual Iesp), e graduada em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ/ 1980).
A tese de doutorado de Nísia Trindade, cujo título é “Um sertão chamado Brasil”, conquistou o prêmio de Melhor Tese de Doutorado em Sociologia no Iuperj.
A pesquisadora está na presidência da Fiocruz desde 2017, atualmente, ela cumpre o segundo mandato. Também já foi diretora da Casa Oswaldo Cruz (1988-2005), unidade da instituição voltada para a pesquisa e memória em Ciências Sociais, história e saúde.
A futura ministra da Saúde também participou da elaboração do Museu da Vida, que hoje é um dos museus mais premiados do Brasil.
Carreira acadêmica – Nísia é pesquisadora de produtividade de nível superior do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Sua produção teórica possui reconhecimento por aprofundar o diálogo entre a ciência e a sociedade.
A produção de Nísia Trindade é apontada como referência na área do pensamento social brasileiro, história das ciências e saúde pública.
Também possui experiência como docência e atuou na orientação de gerações de estudantes em todos os níveis de formação: do ensino básico ao pós-doutorado na UERJ e na Fiocruz.
Parceria com a OMS – Uma das marcas da carreira acadêmica de Nísia Trindade é o trabalho interdisciplinar e de cooperação internacional.
Foi responsável por organizar as comemorações do centenário da Fiocruz e dos 500 anos do descobrimento do Brasil (2000).
Entre 2004 e 2005 coordenou na Fiocruz o Ano do Brasil na França em colaboração com instituições, tais como, a EHESS, Instituto Pasteur, Inserm, CNRS.
No ano de 2005, tornou-se membra dos comitês científico e executivo do 4º Congresso Mundial de Centros de Ciências – 4SCWC, sediado pelo Museu da Vida e Fiocruz.
Posteriormente, integrou a comissão organizadora das Comemorações do Centenário da Descoberta da Doença de Chagas.
Já como presidenta da Fiocruz, Nísia Trindade participou da proposta feita pelo Brasil à Organização Mundial da Saúde, em 2019, para declarar o dia 14 de abril como o Dia Mundial da Doença de Chagas, considerada uma das doenças mais negligenciadas do mundo.
Presidente da Fiocruz – Como presidenta da Fiocruz, Nísia Trindade esteve à frente de várias ações nacionais e internacionais no âmbito da saúde pública.
Atualmente, Trindade coordena a Rede Zika Ciências Sociais, que é parte da Zika Alliance Network (2018), um consórcio de pesquisa multinacional e multidisciplinar composto por 54 parceiros em todo o mundo.
Foi membra do grupo de trabalho do Plano de Ação Global da OMS (2018), que tem por objetivo otimizar a pesquisa global sobre os sistemas de saúde ao redor do mundo, e também compôs o grupo consultivo da OMS para a implementação da Agenda 2030 (2019.
Covid-19 – Nísia Trindade também esteve à frente em várias ações de combate à Covid-19. Entre elas, criou um novo Centro Hospitalar no campus de Manguinhos; coordenou no país o ensaio clínico Solidarity da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Também atuou para aumentar a capacidade nacional de produção de kits de diagnóstico e processamento de resultados de testagens; organizou ações emergências junto a populações vulneráveis e ofereceu cursos virtuais para trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS) sobre manejo clínico e atenção hospitalar para pacientes de Covid-19.
Atuou na elaboração do manual de biossegurança em escolas, que se tornou laboratório de referência para a OMS em Covid-19 nas Américas.
Em nível internacional, ministrou treinamento em diagnóstico laboratorial do novo coronavírus para especialistas da Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Panamá, Paraguai, Peru e Uruguai.
Destaque também para a criação do Observatório Covid-19, rede transdisciplinar que realiza pesquisas e sistematiza dados epidemiológicos; monitora e divulga informações para subsidiar políticas públicas sobre a circula do novo coronavírus e seus impactos sociais em diferentes regiões no Brasil.
Outro destaque foi a inauguração do Biobanco COVID-19 (BC19-FIOCRUZ) em dezembro de 2021. O Biobanco será um legado para o Brasil, auxiliando pesquisadores na busca por respostas rápidas para futuras emergências de saúde pública.
Além disso, em setembro de 2021, a Fundação foi selecionada pela OPAS/OMS como centro de vacinas de mRNA. O Instituto de Tecnologia em Imunobiologia (Bio-Manguinhos) tornou-se um dos dois centros de desenvolvimento e produção de vacinas com tecnologia mRNA da América Latina.
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Da Redação