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quinta-feira, novembro 21, 2024

Mulheres e participação política: um desafio presente

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Olá eleitores e eleitoras,

Gratidão a Deus, ao universo e as mulheres da nossa história que através de suas lutas e reivindicações nos proporcionaram essa grande oportunidade de podermos hoje nos comunicar através da imprensa. Essa “liberdade de expressão” não era possível lá em 1850 a 1889, data singular para o Amazonas com a criação e instalação da província do Amazonas e, com isto, o surgimento das consequências sociopolíticas e culturais em nosso estado. Aos que tiverem interesses em expandir seus conhecimentos sobre esse momento histórico do nosso Amazonas eu vos convido a fazerem uma leitura das obras da professora doutora Maria Luiza Ugarte Pinheiro da Universidade Federal do Amazonas.

Pois bem, falar de participação feminina nos espaços de poder, a exemplo da política partidária, também nos obriga a refletir sobre a entrada da mulher em outro cenário que, até pouco tempo, era considerado genuinamente masculino, como é o caso da imprensa. Sem os avanços e conquistas adquiridos ao longo da história, através da luta feminista, esse nosso momento aqui não existiria. Novamente agradeço a Deus, ao universo e as mulheres do nosso passado por me permitir escrever sobre essa temática que muito me instiga: mulheres e participação política.

Antes que muitos digam que política é um assunto maçante, cansativo e assim como a religião não se discute e que não é espaço apropriado para as mulheres, sinto muito lhes informar, mas discutir política, considero eu, um dos assuntos mais importantes para a nossa sociedade atual. Enquanto mulher, mãe, trabalhadora, estudante, militante na causa das crianças com TEA/ Epilepsia e assistente social, vejo a nossa sociedade a enfrentar o seu mais profundo abandono com relação aos direitos sociais e o enfraquecimento das Políticas Públicas. Em se tratando de direitos das mulheres, nunca se lutou tanto para que nossas conquistas não nos fosse retirada. Como bem sinalizou Simone de Beauvoir em sua obra O segundo sexo (2016), “basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados”.

Como pensar em uma sociedade justa e igualitária se a representatividade feminina nos espaços de poder político ainda é bastante inferior com relação aos homens? Como pensar em igualdade de acesso aos bens e serviços se há conflitos de interesses dentro da casa parlamentar que ultimamente tem demonstrado não se preocupar com as necessidades do cidadão brasileiro?

Se é no parlamento que são pensadas e criadas as leis, como uma sociedade composta por mais de 53% de eleitoras não consegue eleger mulheres para nos representar e contribuir com a criação de leis capaz de favorecer as mulheres trans, mulheres negras, lésbicas, ribeirinhas, agricultoras, índias e demais segmentos? Como pensar na proteção do núcleo familiar enquanto pessoas portadoras de direitos e não somente como símbolo sagrado das escrituras religiosas?

Esses e tantos outros questionamentos pairam sobre nossas cabeças quando analisamos que já se passaram 90 anos da conquista do direito ao voto feminino em 1932, tendo como símbolo de luta, a feminista Bertha Lutz, do qual deu direito as mulheres de votar e serem votadas. Nosso momento atual, as mulheres continuam sendo excluídas, usadas e desrespeitadas dentro da própria casa parlamentar, pois não basta ser eleita, a luta se torna muito pior dentro do próprio parlamento com a chegada da força feminina que não mais permite ser rotulada como sexo frágil.

Com uma história de protagonismo um tanto que semelhante com a da ex-deputada Bertha Lutz é a da ex- senadora Eunice Michiles que chega ao Senado Federal brasileiro em 1979, tornando-se a primeira senadora do Brasil. É importante lembrar que o Amazonas é um estado em que traz em sua história política a eleição de três mulheres como deputadas federais em 1986, são elas: Eunice Michiles, Beth Azize e Sadier Hauache para fazerem parte da elaboração da nova Constituição Federal, considerada como a Constituição cidadã.

No entanto, nossa história política nos mostra que ainda estamos a vivenciar uma sociedade desigual quando falamos em paridade de gênero na política. Essa desigualdade torna-se muito mais visível quando falamos da política amazonense que traz em sua essência o poder do curral eleitoral. Romper com essa barreira muito bem protegida pelo poder simbólico do qual representa os grandes nomes da política, em sua maioria homens, ainda é muito difícil em nosso estado.

Por longos anos, as mulheres foram cooptadas pelos partidos para apoiar a candidatura masculina. Algumas arrastavam muitos votos pelo interior do estado, mas que só servia para eleger os candidatos homens. Em pleno século XXI, estamos novamente a vivenciar tal prática que não colabora em nada com o nosso desejo de mudança, pois os partidos ainda buscam filiar as mulheres e lançar suas candidaturas apenas como estratégia de fugir da punição prevista na Lei de Cotas de gênero que estabelece a obrigatoriedade de os partidos preencherem suas candidaturas com no mínimo 30% de candidaturas femininas. Aqui nos vai um outo desafio, vencer o machismo institucional que prevalece dentro dos partidos políticos.

Estamos em um ano eleitoral e mais uma vez a sociedade já se prepara para vivenciar todo o aparato estrutural (econômico e cultural) de promessas que os candidatos e candidatas irão fazer. Lembrando que nossa luta por representação feminina nos espaços de poder político vai além de presença quantitativa de mulheres, mas pela eleição daquelas comprometidas com a real necessidade da sociedade manauara, ou melhor dizendo, de nossos anseios enquanto mulheres.

Poder conversar com vocês através desse espaço, me coloca em uma posição de obrigatoriedade ao pedir ao nosso povo amazonense que procure conhecer melhor seus candidatos, avaliem a nossa luta feminista por igualdade e não por superioridade, como assim afirma os que rotulam o movimento. O feminismo é uma ação política de mulheres, é um movimento libertário que luta por uma nova forma de relacionamento entre homens e mulheres e percebe-se que a entrada das mulheres no cenário político foi capaz de criar novas formas de organização, mesmo em momentos desfavoráveis as mulheres. A presença feminina nos espaços de poder político é um direito de igualdade que ainda não alcançamos, mas que também não desistiremos de alcançarmos.

Entende-se que a inserção de mulheres no cenário político ainda é um desafio, mas necessário para que o Amazonas realmente possa presenciar mudanças em suas estruturas políticas e sociais. A igualdade de gênero nos diversos espaços de poder político é garantir um futuro as nossas meninas que vão precisar usufruir de políticas públicas igualitárias e de inclusão e não vejo outra forma de garantir esses direitos a nossa futura geração se não lutarmos pela mudança hoje.

Como bem colocado pela historiadora Michelle Perrot (1998), precisamos vencer o pensamento machista de que ao homem público a honra, enquanto ser uma mulher pública é a vergonha. O que nos resta é continuar resistindo de forma progressiva e não mais aceitar que os espaços públicos não seja lugar de mulher, que política é um santuário masculino, porque lugar de mulher é onde ela quiser estar.

Abraço a todas e até a próxima!

Michelle Vale – Assistente Social, Especialista em Antropologia Social, Mestra em Sociedade e Cultura na Amazônia (UFAM), membro do Grupo de Estudos e Pesquisa Laboratório de Gênero da Universidade Federal do Amazonas.

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