Nesta sexta-feira, 18/3, o presidente Jair Bolsonaro (PL) vestiu um cocar para receber, em cerimônia no Ministério da Justiça, a medalha do mérito indigenista. A medalha é uma honraria criada em 1972, para homenagear as personalidades que se destacam pela proteção e promoção dos povos indígenas brasileiros.
No “Diário Oficial da União” da última quarta-feira, 16/3, já havia sido publicado que Bolsonaro estaria na lista dos agraciados deste ano. A premiação é definida pelo ministro da Justiça, Anderson Torres. A escolha de Bolsonaro para receber a medalha não foi bem recebida entre entidades e associações representativas dos povos indígenas. Isso porque, ao longo do mandato, o presidente tem tomado decisões que são vistas como prejudiciais para a cultura e segurança dos povos indígenas
Ao discursar no evento, Bolsonaro se dirigiu a indígenas presentes. Ele agradeceu o cocar oferecido e disse que o homem branco e o indígena “cada vez mais” se transformam “em iguais”. “Me sinto muito feliz com este cocar graciosamente ofertado. Somos exatamente iguais. Todos nós viemos à terra pela graça de Deus. Cada vez mais nos transformamos em iguais. Isso não tem preço. O que nós sempre quisemos foi fazer com que vocês se sentissem exatamente como nós”, afirmou o presidente.
Bolsonaro também voltou a argumentar que os indígenas estão, agora, mais integrados à sociedade. O presidente disse ainda que deseja que os indígenas “façam em suas terras exatamente o que nós fazemos nas nossas”. Ele não citou a mineração e produção de grãos, mas essas são duas atividades que o presidente sempre defende que possam ser flexibilizadas em terras indígenas.
O ministro da Justiça, Anderson Torres, também rebateu críticas sobre a atuação do governo na proteção de reservas indígenas e afirmou que, no último ano, a Polícia Federal realizou diversas ações nas áreas demarcadas. “É leviano, extremamente leviano quem diz haver neste governo desmonte das ações para assegurar os direitos dos povos indígenas. Pelo contrário, foi feito muito mais do que no passado. Só em 2021 a Polícia Federal realizou inúmeras operações no combate ao garimpo ilegal, no desmatamento, queimas e invasão de terras protegidas”, disse Anderson Torres.
Agraciados – Além do presidente, receberam a medalha os ministros do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno; da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Eduardo Ramos; da Defesa, Braga Netto; da Agricultura, Tereza Cristina; Da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves; e da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, além do advogado-geral da União, Bruno Leal, indígenas, do presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier, além de servidores de outros órgãos.
Condecoração contestada– O blog do Octavio Guedes lembrou que, quando era deputado, Bolsonaro disse que a cavalaria brasileira foi incompetente por não ter dizimado os indígenas. No dia em que saiu a condecoração no “Diário Oficial”, a líder indígena Sônia Guajajara, coordenadora-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), afirmou que a homenagem a Bolsonaro é uma afronta.
“É claro que é uma afronta total ao movimento indígena, ao ato pela terra, a tudo que a gente está fazendo para contrapor todas essas maldades desse governo”, afirmou Guajajara, destacando que a Apib vai contestar a condecoração na Justiça.
A condecoração a Bolsonaro fez com que Sydney Ferreira Possuelo, ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) e ativista, devolvesse sua medalha do mérito indigenista recebida há 35 anos. Possuelo, reconhecido indigenista, afirmou que Bolsonaro ofendeu “crença”, “desejos” e “memória” de marechal Rondon e “por extensão o Exército Brasileiro”.
“Quando deputado federal, o senhor Jair Bolsonaro, em breve e leviana manifestação na Câmara dos Deputados, afirmou que: ‘A cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema no país'”, relatou Possuelo no documento, endereçado ao ministro Anderson Torres.
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Da Redação com informações do G1 e Gazeta do Povo
Foto:Foto: Isaac Amorim/MJSP