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terça-feira, dezembro 3, 2024

Especialistas alertam sobre necessidade de melhorar cobertura vacinal e demonstram preocupação com inverno amazônico

O Convergente conversou com dois deles, que falaram sobre o cenário pandêmico do Estado, reforçaram a necessidade de ampliação da cobertura vacinal, sugeriram a mudança de estratégias para que a população seja imunizada e criticaram a atuação das autoridades de saúde no enfrentamento da doença

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Considerada uma das maiores crises sanitárias do mundo, a pandemia da Covid-19 afetou não só a saúde da população, mas trouxe impactos econômicos, culturais, sociais, religiosos e políticos. No contexto político evidenciou a fragilidade do sistema, com discursos distorcidos e truncados que encobriram de incertezas a eficácia da vacinação.

Além disso, o uso político das fake news tem prejudicado a procura por imunização, o que os especialistas apontam como a medida mais eficaz de combate à Covid-19. A ainda baixa adesão à vacina tem sido o maior percalço do Poder Público para frear os impactos negativos de um possível agravamento da pandemia.

No Amazonas, que já contabiliza mais de 13 mil mortos e a vacinação de mais de 1,8 milhão de pessoas com as duas doses da vacina contra Covid-19, a chegada do inverno amazônico preocupa os especialistas, que fazem um alerta sobre a importância da vacinação e a permanência dos cuidados preventivos.

O Portal O Convergente conversou com dois pesquisadores para falarem sobre o cenário pandêmico no Estado e ambos reforçaram a necessidade de fortalecimento da vacinação e ressaltaram a importância da firme atuação das autoridades de saúde do Estado e município no enfrentamento da doença.

O pesquisador do Instituto Leônidas e Maria Deane da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-Amazônia), Felipe Naveca, responsável por uma série de pesquisas relacionadas à Covid-19, avaliou o trabalho da instituição no rastreio da doença no Amazonas e falou sobre a importância da vacina e os cuidados primordiais para evitar o crescimento de casos no Estado.

“É claro que a vacinação tem sido um freio para a disseminação do vírus, mas é importante lembrar que mesmo pessoas vacinadas podem ser infectadas. O que, normalmente, acontece é que essas pessoas não desenvolvem uma forma grave da doença, o que não é impossível acontecer, mas ela pode se infectar e transmitir. Então se nós temos uma parcela da população que não está protegida pela vacina, essa parte da população está vulnerável ao vírus. Por conta de todos esses fatores, a gente ainda precisa manter os cuidados, o vírus continua circulando”, explicou ele ao citar a vulnerabilidade das pessoas que optaram por não se vacinar e das crianças menores de 12 anos, que ainda não podem ser vacinadas.

Essa negativa, segundo ele, pode influenciar em um aumento de casos gradativamente, principalmente, com a chegada do inverno amazônico. As festas de fim de ano e os afrouxamentos nas medidas de restrição também podem contribuir para uma nova onda da doença no Amazonas.

Acompanhe a entrevista:

A negativa das pessoas em tomar o imunizante é um fator preocupante e pode contribuir com o aumento de casos. Como o que vem ocorrendo no município de São Gabriel da Cachoeira, que vem apresentando aumento nos números de casos devido à baixa vacinação por parte dos indígenas. Conforme Naveca, o comportamento está associado mais a questões culturais do que logísticas.

“Hoje, certamente, é uma questão mais cultural ou de cunho religioso que está impedindo, mais do que a questão logística porque existe a oferta da vacina, que foi reforçada inclusive por conta do aumento de casos. Mas é preciso que as pessoas procurem a vacinação”, ressaltou.

Na opinião do pesquisador, hoje não faltam vacinas e as campanhas de orientação, tanto do governo quanto da prefeitura, tem sido intensificadas e são importantes.

 

Novas estratégias – Para o epidemiologista e pesquisador da Fiocruz Amazônia, Jesem Orellana, a gestão política no enfrentamento da pandemia foi um dos fatores agravantes para o retardo no início da vacinação, além da negativa de boa parte da população em procurar o imunizante.

“Deveríamos ter iniciado as campanhas de sensibilização ou o preparo em relação às vacinas ainda em 2020. Treinando trabalhadores de saúde e levando informação de qualidade e com respaldo científico à população. No entanto, fizemos exatamente o contrário. A ciência e as vacinas foram denegridas. Governo e prefeituras ficaram equivocadamente, esperando o confuso e ineficaz Ministério da Saúde, deixando a população insegura ou negando as vacinas. As vacinas demoraram a ser compradas e distribuídas, fazendo com que as pessoas previamente infectadas ou que adoeceram acreditassem que não precisavam de vacina, como muitos defendem até hoje, incluindo o presidente Bolsonaro e seus apoiadores”, opinou.

Para ele, mesmo com o avanço da vacinação, o percentual de vacinados ainda não está em um nível desejável, portanto, ainda não é o momento de tirar a máscara e nem de fazer grandes aglomerações no Estado. O especialista acredita que é preciso adotar novas estratégias.

“O Governo e as prefeituras devem abandonar a estratégia de esperar a população se vacinar nos postos de saúde, pois a esta altura da epidemia, quem queria ou não podia se vacinar já procurou as unidades de saúde, em sua maior parte. Em outras palavras, é necessário mudar a estratégia e levar as vacinas às escolas, aos bairros e aos trabalhadores”, sugeriu.

Jesem Orellana destaca que muitos negacionistas não vão mudar facilmente de opinião, por isso é preciso intensificar as campanhas e aperfeiçoar as estratégias para alcançar essa população. Além de reforçar as medidas de combate e prevenção.

“Vacina não faz milagre sozinha. Aliás, vacina nenhuma faz. Precisamos sim combinar diferentes estratégias não farmacológicas (uso de máscaras, higienização das mãos e manter o distanciamento físico, sempre que possível) e farmacológicos disponíveis, como as vacinas contra a Covid-19”, reforçou.

Ele alertou ainda sobre os impactos que a liberação de grandes eventos e aglomerações podem trazer ao Estado. “Em relação à terceira onda, já estamos nela e só não a enxergamos de forma mais clara porque nossa vigilância epidemiológica é uma das piores do Brasil e só nos damos conta do avanço da epidemia quando internações ou óbitos por Covid-19 aumentam, tardiamente. Sem busca ativa de casos novos e rastreamento de contatos é impossível controlar a epidemia. Por isso, precisamos ter cautela e não afrouxar tudo como estamos vendo”, afirmou o epidemiologista.

Dados e ações – De acordo com dados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP), os dados parciais do Programa Nacional de Imunização apontam que mais de 4,7 milhões de doses, entre primeira e segunda dose, dose única e dose de reforço da vacina, foram aplicadas em todo o Estado até a última sexta-feira,12/11.

Com o objetivo de ampliar a vacinação contra a Covid-19 em Manaus, o Governo do Estado, em parceria com a Prefeitura de Manaus, iniciou na semana passada uma busca ativa para imunização em shoppings centers da cidade. Nos locais, as equipes de saúde estarão fazendo a aplicação da primeira e segunda dose em pessoas acima de 12 anos, além de dose de reforço para quem tem a partir de 50 anos e trabalhadores de saúde.

A diversificação dos pontos de atendimento é uma das estratégias que vem sendo usada para ampliar o acesso da população à vacina e, principalmente reduzir a quantidade dos que se encontram em atraso com a segunda dose na capital. O que, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), estava em torno de mais de 300 mil pessoas.

Manaus, segundo dados divulgados pela Semsa, tem atualmente 69% da população (acima de 12 anos) com o esquema vacinal completo. O percentual de vacinados com a primeira dose do imunizante estava em 89,8%, até a semana passada.

No total, desde janeiro, quando a Prefeitura de Manaus deu início a campanha de vacinação contra a Covid, foram aplicadas 2,9 milhões de doses da vacina.

Quem ainda não foi vacinado, seja com a primeira ou segunda dose e a dose de reforço pode consultar a lista com os endereços e horários de vacinação disponível no site da Semsa, pelo link http://bit.ly/localvacinacovid19, e nas redes sociais da secretaria @semsamanaus, no Instagram, e Semsa Manaus, no Facebook.

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Por Izabel Guedes com informações da assessoria de imprensa

Fotos: Divulgação / Ilustração: Marcus Reis

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