Nesta quarta-feira, 10/11, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, discursou na COP26 fazendo defesa da gestão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), cobrando os países ricos por mais recursos e ainda sinalizando que é contra o que chamou de “lógica negativa da punição, da sanção e da proibição”.
Retomando um ponto caro à gestão Salles, Leite cobrou por recursos. “A meta de 100 bilhões de dólares não foi cumprida e esse valor já não é mais suficiente. São necessários volumes mais ambiciosos”, disse Leite, fazendo referência ao valor prometido desde 2009 pelos países ricos e que não foi repassado aos em desenvolvimento. O tema ainda é um dos pontos de entrave nas negociações da COP26.
Leite começou o discurso falando sobre as metas climáticas anunciadas na abertura da COP26: redução de emissões de 50% até 2030 e neutralidade climática até 2050; zerar o desmatamento ilegal até 2028; e apoio à redução global de metano.
Defesa da gestão – Durante o discurso, Leite ainda defendeu o que chamou da “força da atual e real política ambiental brasileira” e destacou que, segundo o governo, os recursos para a área ambiental foram dobrados e novos concursos para agentes ambientais foram abertos.
O ministro listou uma série de pontos que considera positivo na gestão, mas não citou o aumento da devastação da Amazônia ou a “pedalada nas metas de carbono”, entre outros pontos criticados por ambientalistas.
“Para conter o desmatamento ilegal na Amazônia, o Governo Federal dobrou os recursos destinados às agências ambientais federais e promoveu abertura de concursos para 739 novos agentes ambientais”, disse o ministro.
Floresta e pobreza – Em um dos pontos do discurso, o ministro afirmou que, onde existe muita floresta, “também existe muita pobreza” e destacou um programa recém-lançado pelo governo federal.
“Reconhecemos também que onde existe muita floresta, também existe muita pobreza. Para promover o desenvolvimento sustentável da região criamos o Programa Nacional de Pagamentos por Serviços Ambientais Floresta+, que busca fomentar o mercado de serviços ambientais, reconhecendo e remunerando quem cuida de floresta nativa”, disse Leite.
Poucos dias antes da COP, o Brasil lançou o Programa Nacional de Crescimento Verde, que sistematiza as ações do Brasil na área ambiental e de desenvolvimento sustentável. Entretanto, a iniciativa não trouxe detalhes de ações e objetivos.
Discordância – Especialistas em meio ambiente discordaram do discurso do ministro e lembraram que o país voltou ao seu compromisso anterior, de 2015. “A coisa mais falaciosa que ele disse é sobre as metas brasileiras que aumentaram de ambição. O que o governo fez agora não foi aumentar a ambição, ele simplesmente retornou aos números que já existiam em 2015”, explica Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
“Não teve um avanço. É mais ou menos o que acontece com o preço dos produtos no Black Friday, o governo fez uma Black Friday de carbono, onde você aumenta antes de dar o desconto”, diz Astrini.
O especialista Marcelo Furtado, fundador da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agropecuária concorda. “Ele falou que o país adotou metas mais ambiciosas – mas sabemos que, na verdade, o país simplesmente voltou ao seu compromisso anterior. Ressaltou a questão de energias renováveis, mas não disse que o governo está fomentando a participação de energias fósseis em sua matriz energética”, completa Furtado.
Márcio Astrini também contestou a fala do ministro de que, onde existe muita floresta, também existe muita pobreza. “Onde existe desmatamento, existe pobreza. Mas onde existe floresta, existe riqueza. Sem a Amazônia, o regime de chuva no Brasil teria acabado. É da floresta que você pode tirar frutos, fármacos, cosméticos, uma indústria de tecnologia, de pesquisa”, disse Astrini.
“A Amazônia é uma Mega-Sena ambiental do planeta. Pobreza é a cabeça do ministro”, afirma Astrini.
——
Da Redação com informações do G1
Foto: Reprodução