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quinta-feira, novembro 21, 2024

Setembro amarelo: Defesa da vida e atenção à saúde mental foram temas do ‘Erica Lima Conversa’ com a psicóloga Houzane Gonçalves

A especialista fez críticas quanto à falta de políticas públicas e alertou que o assunto deveria ser abordado todos os dias e não apenas no mês de setembro, como normalmente é feito todos os anos pelos órgãos de saúde e entidades ligadas ao tema

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A falta de políticas públicas e as dificuldades de assistência voltada à saúde mental para pacientes no Estado foram alguns dos temas abordados com a psicóloga e vice-presidente do Conselho Regional de Psicologia Amazonas e Roraima (CRP), Houzane Gonçalves, nessa quinta-feira, 16/9, durante o quadro “Erica Lima Conversa”, do Portal O Convergente.

A especialista também fez críticas aos vereadores de Manaus quanto a falta de interesse em pensar em melhorias no sistema público de saúde voltado para o assunto. Situação hoje fundamental em vários aspectos, conforme explicou à psicóloga.

O assunto, segundo ela, é de extrema importância e deveria ser abordado todos os dias e não apenas no mês de setembro, como normalmente é feito todos os anos pelos órgãos de saúde e entidades ligadas ao tema. Para ela, é urgente a implantação de melhorias nas políticas públicas sobre o tema.

Para a vice-presidente, a importância da saúde mental ainda não foi compreendida como deveria. Um mau exemplo foi dado, recentemente, pela Câmara Municipal de Manaus que ao dedicar uma tribuna popular para os psicólogos pela passagem do Setembro Amarelo contou com a presença de apenas três dos 41 vereadores. Ela também criticou a falta de investimentos no atendimento em saúde mental.

“Ainda bem que tinha pelo menos três, três preocupados com a saúde mental. Somos profissionais que precisamos estar nas Unidade Básicas de Saúde (UBS), policlínicas, Centro de Atenção Psicossocial (Caps), onde estiverem pessoas. Eu falo UBS porque é onde é base de tudo, a atenção primária. Muitas vezes a doença não é física. Tem gente que vive no médico e não tem nada. Essas pessoas procuram atendimento, acolhimento. Querem ser vistas. E muitas vezes não encontram atenção nesses locais, por falta de profissional ou locais adequados para isso”, afirmou.

Os atendimentos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS’s), segundo ela, é algo primordial e que pode evitar, inclusive, que o cidadão tenha a necessidade de ser atendido em um pronto-socorro futuramente. “A UBS é o lugar que começa tudo. É a base. Se tem um psicólogo para atendimento ali, esse cidadão não vai precisar ir ao pronto-socorro depois. Porque já foi cuidado ali. As doenças mentais que vão acumulando desenvolvem gastrite, dor lombar, ansiedade, enxaqueca e outras coisas. Então a atenção básica é necessária”, reafirmou.

A especialista falou também sobre os impactos causados na saúde mental da população em função da pandemia de Covid-19, que impactou direta e indiretamente boa parte da população. “A gente descobriu que quem tinha problema, agravou. Quem não tinha descobriu que tem. Aí veio a depressão, ansiedade, síndrome do pânico. Tudo isso foi juntado de uma forma sem programação e sem ensaios. Quem no mundo pensava que íamos ficar dentro de casa, igual nos filmes, sem falar com ninguém, escondidos. E de repente acontece isso e não estamos preparados. E aí acabamos desenvolvendo muitos lutos. Lutos de perder alguém que conhecia, que amava. Luto de perder a liberdade de ir e de vir. E tivemos prejuízos irreparáveis”, disse.

Atendimento – Em relação aos locais disponíveis para atendimentos voltados à saúde mental, a especialista falou sobre o trabalho desenvolvido nos Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e sobre outras fontes de ajuda. “Os Caps são centros que atendem o indivíduo já adoecido. Eles têm essa abertura. Tem toda uma equipe nesses locais. Porém, a quantidade existente hoje é pouca comparada a demanda que existe atualmente”, esclareceu.

A especialista explicou ainda que conforme uma pesquisa, feita em 2012, seriam necessários pelo menos 12 Caps no Estado para atender a demanda crescente. “Já estamos em 2021 e ainda estamos aguardando que venha pelo menos mais alguns para dispor desse atendimento”, criticou.

Nesse sentido, a profissional voltou a criticar os vereadores da capital que pretendem construir um segundo prédio anexo à Câmara Municipal de Manaus (CMM) por cerca de R$ 32 milhões.

“O profissional de saúde que não tem uma qualidade de vida para atender, não consegue executar a atividade direito. O profissional que chega a algum lugar para atender e não tem ar-condicionado, num calor arretado como esse de Manaus, não tem uma mesa, uma cadeira digna para sentar ou para o paciente não tem como prestar um bom atendimento. Que saúde mental é essa? Os vereadores usariam melhor esse recurso se o destinassem, via emendas ou de outra via legal, com ações de saúde e outras atenções sociais”, exemplificou ao citar algumas das dificuldades enfrentadas pelos profissionais.

Para ela, município e estado precisam ampliar a atenção à saúde mental. “O psicólogo é prevenção. Se vocês põem psicólogos nas UBS, nas policlínicas, nas escolas, ajudaria muito. Tem alunos, por exemplo, que não conseguem ir para a escola. Perderam pais, são os órfãos do Covid. Viúvas do Covid. Todo mundo precisando de apoio e não tem”, alertou.

Situações limites, conforme Houzane, que muitas vezes causam tragédias na vida de famílias e pessoas que acabam ceifando a própria vida seriam minimizadas se houvesse essa atenção básica.

“A gente como psicólogo sofre quando vê alguém precisando de ajuda e não tem. As pessoas buscam e não tem. Aí elas vão para onde? Vão para ponte e existem muitas pontes. Tem muitos casos de intoxicação e tantas outras coisas que acabam por causar situações de perdas, mortes. É preciso estender a mão para quem precisa de ajuda. Atividades simples como sair com os amigos, conversar ou tomar um simples café podem ajudar muito quem está passando por problemas. Precisamos estar atentos e dispostos a ajudar”, falou.

O que, reforçou a psicóloga, não isenta a necessidade de que um profissional faça o acompanhamento e que melhorias nas políticas públicas sejam implementadas, melhorando a qualidade de vida da população. “A saúde mental é muito ampla. Não é só organizar UBS, Caps e policlínica. A população precisa de quadra de esportes, de parques arejados. De praças de lugares onde se sentir bem e segurança pública, de um trânsito que não me deixe duas horas em um congestionamento. São muitos os aspectos que contribuem para a melhoria da saúde mental”, opinou.

Conversar e enxergar quem está ao nosso lado também é importante, segundo ela. “Escute sem julgamento. Não mensure a dor do outro. E quem estiver com ideia de fazer algo contra si, busque um colo amigo, busque apoio. Você nunca está sozinho. Fale, grite, busque ajuda”, finalizou.

Confira a entrevista na íntegra:

Confira a galeria:

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Por Izabel Guedes

Fotos: Marcus Reis

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