O advogado e empresário Marcos Tolentino prestou depoimento nesta terça-feira, 13/9, na CPI da Covid-19 do Senado, e negou ser “sócio oculto” do FIB Bank, instituição que emitiu uma carta-fiança para a contratação da vacina indiana Covaxin. Tolentino recorreu ao direito em se manter em silêncio nos questionamentos sobre sua relação com a empresa, uma das principais frentes de investigação da CPI.
Marcos Tolentino disse que mantém há muitos anos relação de “respeito e amizade” com o líder do governo, deputado Ricardo Barros (PP-PR), e “nada mais que isso”. Ele informou também que esteve na CPI em julho passado para acompanhar o depoimento do parlamentar e o fez na condição de amigo, sem a intenção de afrontar a comissão.
Integrantes da CPI já sabiam que o empresário era ligado ao deputado, apontado por senadores como articulador de negociações sob suspeita de irregularidades. O nome de Barros foi apresentado à comissão pelo servidor público Luis Ricardo Miranda e o irmão dele, o deputado Luis Miranda (DEM-DF), quando denunciaram irregularidade e superfaturamento no contrato de compra da vacina indiana Covaxin, da Bharat Biotech. Os irmãos levaram a denúncia ao presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), que então teria mencionado o nome de Ricardo Barros.
“Sobre a minha ligação com Ricardo Barros, trata-se de um conhecido há muitos anos, desde que eu morei em Curitiba e que residi na cidade. Até hoje, mantenho com ele vínculo de respeito e amizade, nada mais do que isso. Em relação a meu comparecimento à CPI, quero pedir até desculpa se algum senador ter interpretado como ofensa. Não foi proposital. Não gostaria que levassem como alguma afronta… peço até desculpa sobre isso”, declarou Tolentino, apontado pelo relator da CPI, Renan Calheiros, como o verdadeiro dona da FIB Bank, que ofereceu garantia à Precisa Medicamentos na negociação de vacinas com o governo federal.
Integrantes da CPI estão convencidos da participação de Barros em negócios irregulares no governo. O presidente da comissão parlamentar de inquérito, senador Omar Aziz (PSD-AM), chegou a dizer que o deputado é “onipresente e intocável” perante o presidente da República, que não o afastou da liderança do governo.
“Mesmo que a gente mostre aqui e desnude o líder na Câmara, isso não vai mudar nada não, pois ele vai continuar lá. Talvez o presidente escreva uma nota um dia pedindo desculpas também por tê-lo mantido até hoje como líder dele”, ironizou Aziz.
Bolsonaro – Sobre Jair Bolsonaro, o empresário disse conhecê-lo desde o tempo em que o presidente era deputado federal, mas negou relação de amizade ou qualquer outro tipo de relacionamento.
“Estive com ele em alguns encontros, meramente casuais. Eu o conheci quando ainda deputado, poucas vezes…encontrei também como presidente da República e isso é totalmente registrado”, destacou.
O advogado disse ainda conhecer o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ) “de eventos políticos e sociais”. E disse não conhecer o filho caçula do presidente, Jair Renan.
Precisa Medicamentos – Sobre Francisco Maximiano, dono da Precisa Medicamentos, representante no Brasil da Bharat Biotech, Marcos Tolentino se limitou a dizer que o conheceu no “ambiente empresarial há alguns anos”.
“Atendi o senhor Francisco Maximiano com relação a uma ação pessoal de pequena monta, com sigilo profissional, que me impede de prestar maiores informações como advogado, mas há o acesso via autos que acaba sendo público. Já em relação à Precisa Medicamentos, jamais os representei ou realizamos qualquer negócio, até porque seria o impossível”, disse.
Segundo a testemunha, seria impossível ele ter participado das tratativas de compras da Covaxin porque sofreu por meses com consequências da covid-19 e chegou a ser entubado em fevereiro. Nos meses seguintes, teve infecção generalizada e duas paradas cardíacas, o que lhe obrigou a passar por um longo período de recuperação.
“Todo esse período de fevereiro, março, abril, depois voltando para casa, ficando sem andar, tive que reaprender todas as atividades. E, quando saí desse estado, tive que reaprender as minhas limitações mais elementares, como andar, me alimentar”, explicou.
Depois citar por algumas vezes seu sério risco de morte com a doença, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse que era solidário, mas não era adequado a testemunha levar a enfermidade dele à comissão e, principalmente, se esconder para não responder a perguntas.
“Não foi a enfermidade que o impediu a ser sócio oculto da FIB Bank, nem de participar de negócios escusos, nem o impediu de vir aqui acompanhar o Ricardo Barros dar um espetáculo nesta CPI”, afirmou.
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Informações Agência Senado
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado