A pandemia, o desemprego, os desarranjos familiares, o uso de drogas, o consumo de álcool. Muitos são os fatores que podem levar as pessoas à situação de rua. E para desmistificar alguns preconceitos e colocar luz sobre este problema social que vem aumentando muito no País, nesta quinta-feira, 26/8, o Portal O Convergente conversou com a psicóloga, pós-graduada em Gestão do Sistema Único da Assistência Social, Andreza Benezar e o ex-morador de rua, Elidiomar Jônatas.
Dentro do quadro “Erica Lima Conversa”, que teve em edição especial a condução da jornalista Izabel Guedes, os entrevistados falaram sobre os desafios enfrentados no processo de assistência às pessoas em situação de rua, sobre as dificuldades vividas nos momentos mais críticos da pandemia e dos vários obstáculos para os cidadãos sem acesso a moradia, alimentação, higiene, entre outros direitos básicos.
Conforme a convidada, que é coordenadora de projetos sociais do Abrigo Institucional da Missão Vida do Amazonas, Andreza Benezar, o aumento do desemprego devido ao agravamento da situação econômica ocasionada pela pandemia de Covid-19 foi um dos fatores que acarretaram o aumento exponencial da população em situação de rua.
“Existem vários fatores que levam as pessoas a morarem na rua como o desemprego, que é um fator bem relevante, transtornos mentais, imigrações e abuso de substâncias entorpecentes. Por isso, hoje nós falamos pessoa em situação de rua e não mendigo, porque nós acreditamos que é uma questão momentânea, passageira, que pode ser revertida”, explicou Benezar.
Segundo levantamento do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), atualmente o Brasil tem cerca de 160 mil pessoas vivendo em situação de rua. Número esse que é considerado subnotificado, pois o estudo só levou em conta o montante de pessoas inscritas no programa do CadÚnico.
Tendo feito parte dessa estatística por 14 anos, Elidiomar Jônatas, ex-morador de rua, declarou durante a entrevista que pior que a fome, foi ter se tornado invisível para as pessoas no decorrer dos anos em que esteve nas ruas.
“Fome dói, mas a pior coisa é você se tornar invisível. Eu percebi que nesse tempo de Covid todo mundo passou a usar máscara e manteve o distanciamento, mas as pessoas que moram na rua já estão distantes há muito tempo. Felizmente eu fui acolhido pelo Instituto Missão Vida e hoje a minha história é diferente, mas ainda tem muita gente que passa por isso”, disse.
Políticas públicas – A falta de políticas públicas para a população em situação de rua também foi tema abordado durante a entrevista. Conselheira suplente do Conselho Municipal da Assistência Social em Iranduba/AM, Andreza defendeu que é preciso fortalecer as redes de apoio já existentes e construir políticas públicas permanentes, em um processo de elaboração que conte com a participação das instituições que já trabalham com pessoas que vivenciaram a experiência de não ter um lar. Segundo ela, as instituições estão começando a ser reconhecidas pelos poderes públicos, mas é preciso avançar mais.
“A pandemia foi um desafio muito grande. Essa situação tirou os políticos da zona de conforto. Não existiam políticas públicas emergenciais para pessoas em situação de risco, tinha estruturada, mas nada consolidado. Não houve um planejamento para esse público, mas o nosso trabalho continuou. Com o tempo e a necessidade, os políticos reconheceram a importância do nosso trabalho”, disse a psicóloga.
Lei – A Comissão de Desenvolvimento Urbano, da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 5740/16, que institui políticas nacionais para as populações em situação de rua ou de errância. Nenhum atendimento de saúde ou assistência social poderá ser negado por falta de comprovante de residência.
De autoria do deputado José Ricardo (PT), em decorrência da pandemia causada pelo coronavírus, o substitutivo inclui ainda medidas que deverão ser adotadas nos casos de emergência de saúde pública.
O projeto tramita em caráter conclusivo e ainda será analisado pelas comissões de Seguridade Social e Família; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.
Missão Vida – A Associação Missionária Evangélica Missão Vida, localizada no Ramal do Açutuba, município de Iranduba (a 27 quilômetros de Manaus) é responsável pelo acolhimento de homens em situação de rua ou vulnerabilidade social. A associação é uma Organizações da Sociedade Civil (OSCs), fomentadas pelo Governo do Amazonas.
Para as famílias que tenham interesse em indicar pessoas em situação de rua ou fazer doações a Instituição Missão Vida, pode entrar em contato pelo site https://mvida.org.br/nucleo-manaus-am/.
Confira a entrevista:
Confira as imagens:
_ _ _
Por Juliana Freire
Foto e vídeo: Marcus Reis