Documentos entregues à CPI da Covid apontam que o Governo Federal, por meio da Secretaria de Comunicação (Secom), pagou R$ 120 mil ao apresentador bolsonarista Sikêra Jr. Conforme publicação da Folha de São Paulo, o governo de Jair Bolsonaro fez sete depósitos com valores diferentes em favor da empresa José Siqueira Barros Junior Produções. Os montantes foram pagos entre dezembro de 2020 e abril de 2021.
Foram repassados ao apresentador que possui um programa diário na RedeTV! Valores referentes a campanhas de divulgação, sendo R$ 24 mil para a propagação de informações referentes ao tratamento precoce; R$ 16 mil relacionado à campanha “Semana Brasil”, com o intuito de aquecer a economia na Semana da Pátria; carca de R$ 24 mil para que falasse sobre o lançamento da cédula de R$ 200 e R$ 8 mil para campanha de combate ao mosquito Aedes aegypti.
O Governo Federal também repassou R$ 20 mil para propaganda de combate à exposição de crianças na internet, R$ 20 mil para que o apresentador falasse sobre segurança no trânsito e R$ 8 mil quanto ao uso consciente de água. Os repasses foram feitos pela Secom através da subcontratação das empresas PPR profissionais de publicidade reunidos e Calia/Y2 Propaganda e Marketing, que têm contratos com o Executivo.
Os valores foram registrados na planilha sob a descrição “áudio e vídeo-pagamento de cachê” para campanhas realizadas pelo governo em diferentes áreas. Conforme a reportagem, Sikêra alegou que “não trabalha de graça”.
Sikêra recebeu Jair Bolsonaro em seu programa em 23 de abril deste ano, quando o presidente da República esteve em Manaus para participar de uma inauguração da extensão do Centro de Convenções Vasco Vasques e foi homenageado com o título de Cidadão do Amazonas concedido pela Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam).
O apresentador é conhecido pela retórica armamentista, pelo jargão “CPF Cancelado” e por ser favorável ao governo Bolsonaro. Sikêra é amigo da família do presidente.
Em setembro do ano passado, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) foi criticado por não comparecer a uma audiência no Ministério Público Federal ao mesmo tempo em que estava com o irmão, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), dançando e cantando no programa do apresentador, Alerta Nacional, da TV A Crítica, que é transmitido de Manaus para o resto do país pela RedeTV!.
A relação do apresentador com a família Bolsonaro não é recente. Sikêra apoiou a campanha para presidente em 2018, chegando a divulgar vídeos do então candidato em suas redes sociais com a legenda “meu presidente”. Quando seu programa estreou em rede nacional, Eduardo e Flávio também lhe desejaram boa sorte.
O apresentador admitiu, durante seu programa, que recebeu os pagamentos.
Confira o vídeo:
“Senhoras e senhores, durante o intervalo conversávamos eu, minha diretora Elis e meu querido e amado elenco. E eu fui questionado… recebemos um e-mail, mandaram para a Rede TV! e outro para a TV A Crítica, para o meu chefe. Estão questionando que o Sikêra recebeu dinheiro da Saúde”.
“Recebi, do Ministério da Saúde, eu não trabalho de graça. Eu vivo de quê? De propaganda, né? Eu vendo aqui caixão, terreno, carro, redução de parcela de carro, sorvete, dentista, eu vendo dentista, remédio, vitamina. Eu vendo tudinho… eu vendo faculdade, eu vendo limousine funerária, cinta para perder quilo, pneu, manteiga, suplemento para emagrecer, para engordar. Eu vendo tudo, eu sou um profissional.”
“Pessoal da ‘Foia’, eu sou um profissional, eu vivo disso, eu não tenho outra forma de viver, não. O que vier para mim. Eu anuncio vocês. Pagando? Leia a Folha de S.Paulo, assine”, disse.
Escolha – Questionada sobre os motivos que levaram à escolha do apresentador, a Secom afirmou que “as ações de merchandising advêm das estratégias de comunicação das ações de publicidade desenvolvidas e executadas pelas agências de publicidade contratadas”.
“Essas ações têm como objetivo complementar os demais esforços de divulgação, reforçando a compreensão da mensagem da campanha.”
Também afirmou que a seleção de programas e dos respectivos comunicadores para a realização da ação de merchandising se dá por critérios de audiência e público-alvo pretendidos para a ação.
“Nas campanhas citadas, foram realizadas ações em diversos programas de TV, com os respectivos apresentadores, de acordo com o tema e a abordagem pretendidas para a campanha publicitária; e a seleção se deu conforme a estratégia de comunicação proposta pela agência de publicidade”, afirma a Secom.
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Com informações Folha de S.Paulo
Foto: Divulgação