Protegido por um habeas corpus, o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel compareceu à CPI da Covid nesta quarta-feira, 16/6, mas sua presença no colegiado durou cerca de 4 horas e 30 minutos e nem todos os senadores presentes puderam fazer perguntas.
Durante o depoimento, Witzel insinuou que o presidente Jair Bolsonaro seria o responsável pelas mais de 450 mil mortes por Covid-19. O governador cassado disse também que o Governo Federal criou uma narrativa para fragilizar os governadores por terem tomado medidas restritivas.
“Como é que você tem um país em que o presidente da República não dialoga com um governador de estado? E o presidente deixou os governadores à mercê da desgraça que viria. O único responsável pelos 450 mil mortos que estão aí tem nome, endereço e tem que ser responsabilizado aqui, no Tribunal Penal Internacional, pelos fatos que praticou”, afirmou
Witzel acusou o Governo Federal de agir de caso pensado para deixar governos estaduais em situação de vulnerabilidade, sem condições de comprar insumos e respiradores.
“Os governos estaduais ficariam em situação de fragilidade, porque não teriam condições de comprar os insumos, respiradores e, inclusive, atender os seus pacientes no Sistema Único de Saúde, que, embora seja um excelente sistema para um país como o nosso, tem dificuldades. Como é que eu vou requisitar ao governo da China receber respirador? Isso é uma negociação internacional, e não foi feita”, assinalou Witzel.
O intuito do Executivo, disse o ex-governador fluminense, foi se livrar das consequências econômicas da pandemia. “A narrativa que foi criada foi a narrativa de que ‘os governadores vão destruir os empregos’, porque sabia o senhor presidente da República que o isolamento social traria consequências graves à economia”, disse.
Segundo Witzel, os governadores tentaram se reunir diversas vezes com o presidente Jair Bolsonaro para planejar uma ação conjunta durante a pandemia de Covid-19, mas ficaram desamparados. Ele afirmou que o Governo Federal politizou a pandemia.
“Os governadores, prefeitos de grandes capitais, prefeitos de pequenas cidades ficaram totalmente desamparados do apoio do Governo Federal. Isso é uma realidade inequívoca, que está documentada em várias cartas que nós encaminhamos ao presidente da República. Nas poucas reuniões (salvo engano foram duas reuniões que nós tivemos com o presidente), foram reuniões em que o que se percebeu foi a politização da pandemia, o governador Doria foi frontalmente atacado”, apontou.
Para o senador Humberto Costa (PT-PE), o Governo Federal e o presidente da República são os responsáveis pela tragédia vivida pelo país. “A gestão que esse governo deu teve o objetivo claro de descompromisso com a saúde da população”, opinou.
Em resposta a Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Witzel criticou parlamentares ligados a Jair Bolsonaro que invadiram hospitais de campanha e comandaram carreatas e outras ações contra as medidas restritivas decretadas pelo governo do Estado para reduzir a propagação da doença. Sobre os mais de 600 leitos fechados em hospitais federais no estado do Rio de Janeiro, ele relatou que pediu ao Governo Federal que cedesse a administração dos hospitais, com as respectivas verbas, mas não foi atendido.
“Não fui atendido e durante a pandemia também não fui atendido” disse Witzel, ao afirmar que a medida teria garantido mais leitos durante a crise sanitária e seria mais econômica do que construir hospitais de campanha.
Amparado pelo habeas corpus, Witzel pediu para se retirar após sua declaração inicial e depois de responder ao relator Renan Calheiros (MDB-AL) e a alguns dos senadores inscritos. Durante questionamentos de Eduardo Girão (Podemos-CE) sobre investigações de superfaturamento enquanto Witzel foi governador do Rio de Janeiro, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM) comunicou o encerramento do depoimento a pedido do depoente.
O senador Jorginho Mello (PL-SC) criticou a retirada de Witzel:
“Não contribuiu em nada”, apontou.
Governo Bolsonaro – Durante o tempo em que respondeu às perguntas dos senadores, Witzel centrou suas falas em críticas ao governo de Jair Bolsonaro e também usou seu espaço para se defender das acusações de corrupção que levaram ao seu impeachment, em abril.
O depoimento também foi marcado por interrupções do senador Flávio Bolsonaro (Patriota), que trocou farpas com Witzel. O vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que houve uma clara “intimidação” ao depoente.
Witzel ainda alegou correr “risco de vida” ao depor na CPI da Covid por conta de milícias ligadas à gestão de Saúde no Rio de Janeiro. Em diversas ocasiões, o ex-governador disse que responderia a questionamentos desde que fosse em uma sessão reservada e sob sigilo. No final de suas perguntas ao ex-governador, Randolfe Rodrigues pediu que ocorra uma sessão sigilosa com Witzel. O presidente Omar Aziz (PSD-AM) aprovou o pedido e o relator Renan Calheiros (MDB-AL) sugeriu que ela ocorresse logo após o depoimento, mas Witzel pediu mais tempo para “se preparar”.
Witzel deve voltar à comissão para falar de maneira sigilosa em data ainda a ser definida.
Nesta quinta – A CPI será retomada na quinta-feira, 17, e deve ouvir o auditor do Tribunal de Contas da União (TCU), Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, autor de um estudo paralelo que indicou uma supernotificação de mortes por covid-19 no Brasil; na ocasião, o TCU negou a autoria, mas uma investigação interna apontou que Marques realizou a pesquisa nas dependências do tribunal.
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Com informações Agência Senado
Fotos: Jefferson Rudy/Agência Senado